Projetos nobres e úteis

Da lucidez espiritual brotam ideias e projetos nobres e úteis sob o amparo da dignidade e do respeito ao ser humano, em que a prática do bem assume um valor irrenunciável.

As ideias e projetos de que trataremos na presente reflexão não se restringem a seus autores ou a um grupo de pessoas previamente selecionadas. Queremos fazer referência às iniciativas que têm um valor amplo e imperecível, que nunca perdem significação e autenticidade, pois se fundamentam ou espelham os princípios transcendentes e espiritualistas defendidos pelo Racionalismo Cristão.

Uma considerável parcela dos seres humanos contemporâneos e, infelizmente, uma quantidade expressiva dos jovens atuais se insurgem contra determinados paradigmas sociais ou formas arbitrárias de poder por meio de protestos que, apesar de serem legítimos e até necessários, não resultam em transformações efetivas e duradouras, precisamente porque lhes falta a essência espiritual, que é, em verdade, o único e insubstituível elemento dinâmico capaz de produzir a adequação da realidade e sustentar ideias e iniciativas saudáveis.

Os jovens, a quem dirigimos nossa atenção de maneira especial, devem canalizar suas energias na consecução de projetos e ideais nobres e belos, capazes de espelhar o valor que, indiscutivelmente, eles possuem e que os caracteriza e distingue. Não devem se deixar influenciar pelo egocentrismo, acentuados pelas tendências atuais de maneira tão desproporcional. Devem, pelo contrário, ampliar a experiência do encontro consigo mesmos, com a identificação do imenso manancial construtivo que contêm internamente.

As agremiações estudantis, o sentimento de pertencimento a grupos específicos ou às denominadas “tribos urbanas” representam, em última análise, a expressão de inconformismo dos jovens com a realidade em que estão inseridos, constituindo, como já o dissemos, movimentos legítimos. Todavia, querido jovem, não basta o sentimento de inconformismo, não é suficiente aderir a esse ou àquele vestuário, corte de cabelo ou qualquer outro modismo. É imperioso que se dê um passo a mais, um passo consistente na direção da absorção e exteriorização dos valores do espírito, pois sem a força de tais valores e sem a experiência cotidiana dos princípios transcendentes, as ações perdem consistência, efetividade e importância.

A vontade humana de esboçar projetos, de efetivar ideias, de materializar sonhos representa, sem dúvida, o impulso de aperfeiçoamento que se encontra, indistintamente, dentro de cada um de nós. Tal vontade, autêntica e legítima, encontra sua máxima realização nos projetos e metas de valor universal, capazes de gerar frutos e consequências positivas a muitas pessoas.

Essa disposição confronta o ser humano com uma série de mudanças necessárias – mudanças que se dão em âmbito interno, na forma de encarar a realidade e de interpretar a vida; mudanças que o vinculem com os princípios espiritualistas da honestidade, da perseverança, da disciplina, da coragem e do amor ao trabalho, como sempre nos enfatiza o Racionalismo Cristão.

Cabe ressaltar que projetos nobres e dirigidos ao bem comum também encontram espaço na esfera empresarial. Certamente, é possível para as instituições mercantis harmonizar seus objetivos financeiros com projetos altruísticos. A livre iniciativa, a produção industrial e as relações de comércio, quando se dão sob o abrigo das leis e, sobretudo, quando são interpenetradas por preceitos éticos e espiritualistas, produzem benefícios sociais incomensuráveis, promovendo, de maneira efetiva, a dignidade humana.

Nossa intenção ao abordar o presente tema consiste em demonstrar que as iniciativas iluminadas pela espiritualidade podem alterar positivamente a realidade, sobre a qual o ser humano deve exercer valorosamente seu protagonismo. Dessa forma, procuramos promover o vínculo do ser humano com os princípios da espiritualidade, dos quais emana a energia necessária para a fiel consecução dos mais elevados, nobres e úteis projetos. Demonstramos que a negligência a tais princípios mergulha a pessoa no pessimismo e no desânimo.

Nesta conclusão, cabe reiterarmos que os projetos, por mais benéficos que se apresentem em um primeiro momento, não se devem restringir à esfera pessoal: com certeza, suas consequências e desdobramentos devem refletir no bem comum. A cooperação e a solidariedade representam uma necessidade do atual momento histórico. Quem duvidará?

Que possamos, ao término da presente reflexão, renovar nosso compromisso de dinamizar nosso autoaperfeiçoamento e de trabalhar em prol de nossos semelhantes, que consideramos, rigorosamente, extensão de nós mesmos, como aprendemos com o Racionalismo Cristão.