Sendo a filosofia tão importante para se pensar a ação do ser humano na ciência, na arte, na educação, na família, na política e em todos os meios em que tiver de exercer funções de interesse coletivo, torna-se bastante relevante despertar nas crianças e nos jovens o interesse por tal ramo do conhecimento.
Não há quem não tenha sua filosofia, ou seja, sua cosmovisão. Depreende-se daí a importância de se ampliar a visão filosófica para aqueles que estão iniciando sua formação, a fim de saberem se portar com responsabilidade diante das inúmeras possibilidades e propostas que o mundo apresenta.
Procuraremos demonstrar nesta reflexão que a filosofia, quando permeada pela espiritualidade, torna-se um referencial seguro para formar a base moral de futuros cidadãos, munindo-os de visões e perspectivas éticas e solidárias.
Embora achemos plausível – e mais do que isso, verdadeiro – o sólido argumento de que a vida social nunca é estática, de que a heterogeneidade cultural e a diversidade de pontos de vista abrangem um espectro muito amplo da sociedade, dando suporte, por conseguinte, a um sem-número de posicionamentos humanos geralmente divergentes e não raro antagônicos, queremos ressaltar que a equanimidade, a tolerabilidade e a moderação devem sobrepairar às divisões tolas, às conclusões precipitadas e às ideias preconcebidas.
A multiplicidade de aspectos e enfoques, a pluralidade em todos os níveis, a enorme gama de variáveis e perspectivas com as quais se deparará a criança à medida que for amadurecendo, cada vez mais imersa em um contexto de velozes e vertiginosas mudanças, só poderá ser contornada se ela tiver um conjunto de referenciais fundamentados, necessariamente, em uma visão filosófica-transcendente.
Sem a noção do elemento que interpenetra e dá suporte à realidade que nos cerca – a espiritualidade, que não se condiciona a circunstancialismos científicos ou tecnológicos –, pode-se fazer a seguinte pergunta: como poderá a criança, depois de ultrapassado aquele momento inicial caracterizado pela imaturidade e ludicidade, esforçar-se por desempenhar suas tarefas com sentido ético?
Quando se negligencia no processo de aquisição de conhecimentos e informações o aspecto espiritual, ou seja, quando não se contemplam os valores ético-morais que sustentam uma vida digna, a formação do ser humano poderá até ser considerada suficiente do ponto de vista material, mas será deficiente para sua realização como ser integral, isto é, para a plenitude da vida humana.
A família é a primeira escola com que o ser humano tem contato. Encontra-se ele inserido em um contexto de fatos, concepções, convicções e conhecimentos mesmo antes de começar a assumir o protagonismo de sua existência e a ter consciência da realidade que o cerca. É na intimidade do lar, no seio familiar que aprende como se sentir em relação a si mesmo e como os outros reagirão a suas manifestações, quais escolhas são aceitas pelo agrupamento e quais são rejeitadas, como interpretar e exteriorizar suas frustrações e esperanças, enfim, como se comportar.
Toda família tem necessariamente suas manifestações peculiares, que podem ser verificadas, em certa medida, pela experiência particular. Contudo, em um lar onde impera a harmonia e o benquerer, onde se valoriza o pensamento filosófico-espiritualista, todos se beneficiam psiquicamente, tanto mais as crianças, que, pela intensa sensibilidade que manifestam, precisam conviver em um ambiente elevado e saudável.
Pelo que acabamos de dizer nos permite concluir que, para que as crianças sejam beneficiadas pelos sublimes conceitos e princípios que orbitam o universo filosófico entendido pelo viés da espiritualidade divulgada e defendida pelo Racionalismo Cristão, é necessário que os pais e responsáveis se conscientizem a respeito da importância de transmitir aos seus filhos tais conceitos, tendo em mente que seus exemplos marcarão indelevelmente a personalidade em formação das crianças com que convivem. É preciso encontrar meios para isso, sobretudo quando as crianças não frequentam um ambiente onde essas ideias são divulgadas.
Assim, assume excepcional importância a qualidade dos pensamentos e sentimentos que compõem, subjetivamente, o ambiente doméstico e o círculo familiar, pois esses conteúdos terão incidência direta no psiquismo das crianças, na estruturação de suas personalidades. A formação dos mais novos não se deve tão somente à transmissão de conhecimentos por parte de seus pais ou responsáveis, mas acima de tudo aos sólidos exemplos que estes têm o dever de oferecer de forma constante e determinada.
Não podem aqueles que assumiram a incumbência de encaminhar e formar sua prole permitir que sua relação com as crianças seja afetada por circunstâncias externas, por seus estados de humor ou por suas alterações de personalidade. Devem dedicar-se intensamente a criar as melhores condições – quer psíquicas, quer materiais – para o desenvolvimento pleno das crianças, em consonância com os ensinamentos obtidos do estudo filosófico e da vivência da espiritualidade.
A consequência de tão apurado esforço na preparação das crianças será, queremos crer, o mais primoroso legado que pais e responsáveis terão deixado à família e à sociedade, que reclama, cada vez mais, pessoas que reúnam em si qualidades éticas e morais. Que sejam dinâmicas, produtivas e, sobretudo, espiritualizadas, como nos ensina o Racionalismo Cristão.
Muito Obrigado!