Quais são as bases para a construção de um relacionamento duradouro?

Os relacionamentos afetivos mais duradouros, embora contenham desafios consideráveis, representam, em termos abrangentes, a base das sociedades bem constituídas e estáveis – uma significativa conquista obtida pelas pessoas que se dedicam à estruturação de uma de vida feliz e harmônica. 

Muitas pessoas acreditam que os relacionamentos prolongados representam uma ideia em crise no mundo pós-moderno. Contudo, todo ser humano que se dispuser a um olhar ampliado da realidade que o cerca verificará e reconhecerá o grande valor que há não somente nas relações sólidas e estáveis, mas também nos frutos gerados por essas uniões. 

Uma vez ultrapassados os condicionamentos simplistas que envolvem os conteúdos meramente materiais, verificar-se-á que o tema desta reflexão se encadeia de maneira estreita com a espiritualidade, precisamente no que ela tem de mais belo e profundo, como destaca o Racionalismo Cristão. 

Todos os relacionamentos têm, necessariamente, suas expressões características. Por vezes, compreende-se que eles se originam como um impulso para a satisfação pessoal, ou um simples recurso para atender a determinados padrões egoístas presentes na personalidade humana. Mas esse pensamento é deveras limitado: os relacionamentos verdadeiros consolidam-se por meio do respeito, da renúncia e sobretudo do amor; representam entrega, que traz consigo alegria, embora muitas vezes acompanhada de choques e dificuldades. 

Esclarecida a dimensão superior dos relacionamentos duradouros e fecundos e tendo presente seu horizonte espiritual, abordaremos ao longo desta reflexão os subsídios necessários para que os nossos leitores compreendam quais são os fundamentos para a edificação de um relacionamento longo e feliz. 

Excluir a concepção espiritualista do campo das relações humanas não libera as pessoas para a vivência de um relacionamento sem limites ou critérios, mas as escraviza na esfera das paixões, do desrespeito e da leviandade. Suprimir o entendimento de que o convívio afetivo entre os seres humanos tem origem e finalidade superiores não fortalece uma atitude saudável e elevada, mas retira o fundamento da vida e desorganiza, por conseguinte, a sociedade. Em outras palavras, a pessoa que desconsidera a importância da transcendência, que vive preocupada exclusivamente com os fatores materiais que envolvem o convívio a dois, desvincula-se de suas raízes, acabando por sentir-se insegura, sem chão. 

O ato de amar, sem o qual não se sustentam as relações afetivas, também implica afabilidade, isto é, uma conduta terna e delicada.  

Os comportamentos e expressões de quem ama são agradáveis, jamais ásperos e duros. Tal pessoa não se sente confortável em fazer seu semelhante sofrer; muito pelo contrário: canaliza suas energias de tal forma que a amabilidade não lhe seja um estilo de vida, mas uma obrigação moral. 

A atitude de ternura constrói relacionamentos saudáveis, vínculos positivos, fortes laços afetivos, beneficiando, portanto, toda a sociedade. É na ternura que a união conjugal, por exemplo, encontra estabilidade e consolidação reais. Os problemas individuais, a divisão das tarefas, a educação da prole criam problemas e conflitos, que só podem ser ultrapassados se, além de existir responsabilidade por parte dos parceiros e respeito pela autonomia do outro, as partes estiverem dispostas a estabelecer uma conversa franca e terna. Com amor, carinho e diálogo, os cônjuges caminharão juntos, estreitando laços e desfrutando cumplicidades e esperanças cada vez mais crescentes. 

Com o dinamismo característico do momento que vivenciamos na atualidade, o fluir da realidade exige reflexão constante. Embora o próprio entendimento acerca dos relacionamentos esteja direta e indiretamente relacionado com as configurações características da contemporaneidade, nota-se que, na perspectiva espiritualista, as relações maduras, sinceras, afetivas e consistentes são sublimes e admiráveis, estando necessariamente subordinadas à renúncia. 

Embora não seja errado imaginar o amor sem limites e barreiras, sua expressão deve obedecer a certos critérios, até porque estabelecer limites também é uma forma de amar. Os parâmetros que condicionam as possibilidades de amor devem existir não para limitar sua expressão genuína, mas para protegê-lo de manipulações que distorçam seu sentido mais elevado. 

Queremos deixar claro que a dimensão espiritual é um elemento-chave no estabelecimento dos relacionamentos saudáveis e consolidados e que a maturidade espiritual de um ser humano se revela em sua capacidade de relacionar-se. Dessa forma, sabemos, não existe relação afetiva perfeita, como a mídia, em grande parte das vezes destituída de critérios morais, costuma propor-nos. Os relacionamentos familiares, por exemplo, estão marcados por crises as mais variadas, que implicam em aprendizado e não raro intensificam o fluxo afetivo, depois de superadas. 

Desenvolver o hábito de dar verdadeira importância ao diálogo claro e sincero constitui um mecanismo fundamental para viver, exteriorizar e amadurecer o afeto que sustenta as relações, mas que exige um longo e perseverante aprendizado. No que diz respeito à vida a dois, o modo de formular questões, o momento propício, o tom de voz, o tipo de abordagem são fatores determinantes para a eficácia da comunicação. “Lutar pelo amor é bom, mas alcançá-lo sem luta é melhor”, escreveu Shakespeare.  

Devemos admitir que, para que o diálogo seja produtivo, é importante que se tenha algo a comunicar, e isso requer um conteúdo interior que se obtém por meio de uma vivência fundamentada em princípios racionalistas cristãos que enobrecem e dignificam todas as manifestações humanas.  

Queremos reafirmar, enfim, a importância de se cultivar o amor espiritual, que não discrimina, que não faz juízo de valor e que tudo supera admiravelmente. É o amor espiritual que nos permite estabelecer relações saudáveis e longevas. Profundamente diferente do amor possessivo, denotando praticamente sua viva antítese, o amor espiritual – base das interações e intercâmbios contínuos – não conhece nem o sentimento angustiante da perda, nem a desgastante pretensão de domínio. Cultivemo-lo cada vez mais intensamente, para o nosso próprio benefício e para o benefício daqueles com que convivemos. 

Muito Obrigado!