O cultivo e a constância da conduta ética conquistam-se por meio da absorção dos valores da espiritualidade propostos pelo Racionalismo Cristão e se exteriorizam sobremaneira quando a pessoa desenvolve a capacidade de reconhecer as próprias falhas, com humildade e força de vontade voltada ao autoaprimoramento. Nesse sentido, a presente reflexão visa ressaltar que o reconhecimento das faltas cometidas e a disposição de aprimoramento dos pensamentos e atitudes representam os elevados objetivos da existência e da própria dignidade humana.
Quando o ser humano contempla a vida através do prisma da espiritualidade e pratica o bem desinteressadamente, cumprindo os compromissos assumidos com fidelidade e diligência, quando, tendo se excedido em algo, logo afasta de si os impulsos contrários a seu desenvolvimento, retomando o domínio de si mesmo e aprendendo as lições contidas nos eventuais reveses que experimenta, põe-se em condições de compreender, a partir de uma perspectiva mais ampliada, a importância de conduzir-se sempre – independentemente das circunstâncias – de forma ética e valorosa.
É fundamental que o ser humano reconheça que deve canalizar suas energias e talentos para o desenvolvimento de seus atributos espirituais, visto que é por meio deles que terá uma melhor compreensão da realidade que o cerca. A pessoa humilde, que reconhece sua responsabilidade diante de um erro cometido, atrai para si tal respeitabilidade e apreço que predispõe as melhores oportunidades a seu favor. Uma experiência frustrada e realmente amarga pode se converter em uma valiosa lição, desde que haja, por parte de quem vivenciou circunstâncias dramáticas, uma verdadeira disposição em ampliar o próprio horizonte existencial.
As eventuais situações desfavoráveis causadas e vivenciadas por uma pessoa inexperiente não lhe devem, necessariamente, escapar da memória com o passar do tempo, como se jamais tivessem existido; tampouco lhe devem tais lembranças causar desolação, vergonha ou sofrimento. É preciso, isto sim, ressignificar recordações menos felizes, reinterpretando-as à luz da espiritualidade, evitando a autovitimização e o complexo de inferioridade e buscando o fortalecimento da vontade no sentido de não repetir os erros cometidos.
Relações pessoais abaladas e laços afetivos desfeitos podem ser reconstruídos quando se exercita a sinceridade, quando as pessoas envolvidas se voltam para sua interioridade com intenções verdadeiras e sem máculas, num contínuo dinamismo de fidelidade para com os valores espirituais que estruturam os melhores e mais dignos relacionamentos.
Cabe ressaltar que coragem, brio e determinação representam, antes de tudo, atitudes que estão na base do reconhecimento sincero e humilde dos erros e equívocos cometidos no campo das relações interpessoais. O ser humano que procura diligentemente adquirir essas virtudes recebe de forma inexorável o influxo benfazejo das melhores intuições e inspirações, que o fortalecem interiormente.
O sentimento de culpa pode demonstrar, em certa medida, os germes de um caráter que se quer emendar, que almeja reconciliação. Muito pior e de mais difícil emenda é a situação daquelas incontáveis pessoas que, em todos os setores e por toda parte, transitam ostentando atitudes afáveis, modos educados, gestos estudados; sempre prontas a “ajudar”, mostram-se externamente muito prósperas e solícitas, mas por dentro alimentam os piores sentimentos em relação aos semelhantes e jamais admitem suas falhas. Cheios de inadequado amor-próprio, desconhecem o sentimento de culpa e, por isso, mais distantes estão da verdadeira felicidade, que brota do reconhecimento dos próprios erros.
O impulso ao materialismo e ao egoísmo, tão em evidência no mundo atual, produz o paulatino afastamento de muitos seres humanos de suas responsabilidades espirituais, ou seja, de seus compromissos evolutivos. A ruptura causada pelo apego a bens materiais e a posições sociais associado ao excesso de amor-próprio dá ensejo, não raras vezes, a pedidos de desculpas, públicos e privados, nada sinceros, nos quais transparece a sombra de inadequada ironia e desprezível sentimento de superioridade.
A traição ao sentimento de sinceridade impede não apenas o reconhecimento dos erros cometidos, mas sobretudo o avanço no campo do autoconhecimento, na senda da espiritualidade.
Quando o ser humano se dispõe a analisar criteriosamente seus gestos e atitudes, evitando sempre praticar injustiças e arbitrariedades contra si e contra outrem, brilham em sua mente as luzes da serenidade, que o convidam a experiências cada vez mais enriquecedoras e elevadas. Daí o sábio ensinamento de Humberto Rodrigues: “Esforçar-se ao máximo para errar o mínimo” representa para os estudiosos do Racionalismo Cristão lema do qual não se devem jamais afastar.