As chamadas notícias falsas ou fake news são, em verdade, narrativas confusas e maliciosas que, apelando para o lado emocional das pessoas, se espalham rapidamente, distribuindo desinformações, boatos e absurdos por meio dos tradicionais e modernos veículos de comunicação, incluindo as mídias sociais. Os objetivos das fake news são legitimar determinados pontos de vista ou posicionamentos político-ideológicos e ultrajar personalidades ou mesmo pessoas comuns.
As fake news se apoiam, muitas vezes, na aparência de verdade das circunstâncias narradas, outras vezes, na verossimilhança dos fatos veiculados, mas jamais na verdade – essa informação é da máxima importância. Assim, por meio de uma linguagem densamente maliciosa, que transita entre o sarcasmo e a indiferença ao sentimento de honestidade, nutrem a perversidade de determinados grupos e contribuem eficazmente para o ensejo, no pensamento humano contemporâneo, de uma intensa carga de ambiguidade e confusão, capaz de desorganizar e desestabilizar a sociedade dos pontos de vista intelectual, emocional e espiritual.
Há que ressaltar que existe destacada diferença entre notícias irônicas e notícias falsas; porém, por mais evidentes que sejam, as fake news muitas vezes passam despercebidas no agitado cenário da vida atual. A ironia quase sempre está no modo como a notícia é apresentada, sem que isso lhe altere o teor. A falsidade se relaciona com a manipulação do conteúdo de uma matéria, fato ou notícia. Quando falamos em ironia, mormente em um ambiente de estudos filosóficos, como o nosso, convém relembrar que a autêntica ironia não representa necessariamente desrespeito ao interlocutor, mas que, antes, consiste, em sua forma primitiva, em uma vertente da retórica, que foi magistralmente empregada na Antiguidade pelo mestre de Platão nos meios sociais atenienses.
Historicamente, as notícias falsas e a propagação de informações deturpadas e distorcidas sempre existiram. Os meios e a nomenclatura eram outros – isso é indiscutível –, mas a intenção de disseminar o erro e de ultrajar e prejudicar desafetos permanece, infelizmente, inalterada no gênero humano. Contudo, não é exagero afirmar que as fake news representam atualmente um verdadeiro mercado, mobilizando inúmeros pseudoprofissionais que, por ignorar a espiritualidade, com suas leis e princípios, estão, ao contrário do que supõem, contraindo grandes dívidas éticas, morais e espirituais, que mais hoje mais amanhã terão de cumprir.
Verificamos com certa apreensão a negligência de grande parte dos operadores da imprensa no que tange à obrigação de bem interpretar e traduzir informações para o público. Nesse contexto, emerge uma importante reflexão, que nos conduz, em última análise, à percepção de que, sem lucidez e discernimento próprios, a pessoa se torna incapaz de atribuir à informação recebida um sentido correto e coerente, convertendo-se, por assim dizer, em uma vítima de conteúdos duvidosos. Note-se: se a busca pela verdade é um desafio que se impõe à imprensa, com muito mais razão é um desafio que se impõe a cada pessoa, e só é possível superá-lo mediante a abertura a uma visão mais abrangente e integradora de mundo – falamos da visão espiritualista da vida, que nos proporciona o Racionalismo Cristão.
A bem da verdade, a lucidez e o discernimento são frutos do esclarecimento espiritual, capazes de tornar o ser humano mais fortalecido intelectualmente e, por conseguinte, imune às falsidades e aos engodos que, não raras vezes, se revestem do rótulo da verdade para ludibriar a sociedade no contexto de uma malfazeja aliança entre a forma desonesta de veicular uma notícia e seu conteúdo disparatado e estudadamente falso.