Subjetividade e objetividade
Neste nosso artigo vamos voltar nossa atenção para dois aspectos que definem com certa precisão o que é subjetividade e o que é objetividade. Estes dois conceitos estão sempre presentes na vida de todos nós, o primeiro sob o ponto de vista pessoal ou individual, e o segundo sob o ponto de vista relacional ou coletivo.
Etimologicamente, a palavra subjetividade tem a mesma raiz que sujeito ou indivíduo, aquele que comanda suas ações, o verdadeiro dono da ação. Então, subjetividade é tudo aquilo que é próprio do sujeito ou que a ele se refere. É algo que tem por base a interpretação individual e, portanto, próprio de cada ser humano. A subjetividade abrange a ação da nossa própria consciência ao interpretar um fato ou evento do cotidiano, de acordo com a bagagem de conhecimento ou acervo acumulado durante a nossa experiência de mundo. E, como não há duas pessoas exatamente iguais nesse nosso mundo-escola, dessas diferenças essenciais resultam as diferentes opiniões ou pontos de vista sobre um mesmo assunto, quando nos relacionamos pela palavra ou por escrito.
Sendo mais enfáticos, podemos dizer que a subjetividade é tudo aquilo que pertence ao domínio de nossa própria consciência, que nos é intrínseco como indivíduos que somos, que nos é inerente, peculiar ou pertinente. Na subjetividade predominam as opiniões, que provêm de nosso íntimo; já na objetividade, entra em jogo o que é real para todos, que é palpável e impessoal. No campo da subjetividade opera, entre outras doutrinas, a Filosofia e, no campo da objetividade, temos a Matemática e todas as Ciências que operam no campo da observação e da experimentação.
Assim, subjetivo é, de certa forma, o oposto de objetivo. Um conhecimento subjetivo é aquele que depende do ponto de vista pessoal, individual, que não é fundado no objeto, mas condicionado somente por pensamentos, sentimentos, emoções e afirmações arbitrárias do sujeito. Um conhecimento objetivo é sempre fundado na observação imparcial, é independente das preferências individuais; ou seja, uma questão objetiva é sempre direta e permite unificar as respostas para uma mesma compreensão de todos.
Vamos, então nos aprofundar um pouco mais nesses conceitos de grande valor – subjetividade e objetividade – para sermos compreendidos e compreendermos os nossos semelhantes.
Subjetividade Como vimos, a subjetividade está presente toda vez que interagimos com outras pessoas e as respostas dependem tão somente dessa pessoa para conosco, cada um de nós atuando de acordo com nossas crenças, conhecimento e convicções.
Sob o ponto de vista da Filosofia, aplica-se o conceito de subjetividade nas definições e na busca das verdades eternas para descobrir o verdadeiro sentido da vida no planeta Terra e compreender a existência do Universo como Fonte Inteligente de Tudo e de Todos. Foi o filósofo alemão Immanuel Kant (1724 – 1804), considerado como o principal filósofo da era moderna, que operou, através da epistemologia, uma síntese entre o racionalismo dedutivo de René Descartes (1596 – 1650) e a tradição inglesa de David Hume (1711 – 1776) que valorizava o conhecimento por via indutiva e experimental. Dessa forma, podemos asseverar que Kant foi quem melhor trabalhou o conceito de subjetividade com o objetivo de compreender a dualidade entre os conceitos de subjetividade e objetividade. Segundo suas conclusões, a palavra objetivo indicava o conhecimento científico que deve ser justificável e dependente de prova segundo as regras da ciência, não cabendo opiniões e achismos, estes, próprios da subjetividade.
Enfatizando, subjetividade é o que cada um de nós temos em nosso íntimo (mundo interno) que se relaciona com o que está fora de nós mesmos (mundo externo ou social), disso resultando padrões específicos que intervêm na formação da personalidade do indivíduo em termos de crenças e valores que podem ser compartilhados dentro de um mesmo grupo ou entre grupos diferentes de pessoas. É neste conceito de subjetividade que se funda a Psicologia Social, deixando claro que a subjetividade é o mundo interno de todo e qualquer ser humano, mundo este que é composto por pensamentos, sentimentos e emoções. É nesse conceito de subjetividade que a pessoa constrói, em termos de amizade, um espaço relacional com o “outro” ou os “outros”, nossos semelhantes em essência.
Objetividade A própria palavra objetividade nos induz a pensar que ela subentende e representa a qualidade daquilo que é objetivo, que está fora de nossa consciência, ou seja, independentemente das nossas preferências individuais, ela é o resultado da observação imparcial de fatos e fenômenos que ocorrem ao nosso redor.
Invocamos aqui, em nosso socorro, o conceito de epistemologia, já mencionado acima, mas ainda não definido, como sendo a teoria do conhecimento, que nos possibilita a reflexão geral em torno da natureza, das etapas e limites do conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito, sempre indagativo (subjetividade) e o objeto inerte (objetividade), as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo do saber humano, como se fosse uma ponte entre as duas. É ela, a objetividade, que limita ou expande os diferentes ramos do saber científico, suas teorias e práticas dentro do paradigma científico.
Assim é que, ainda segundo a epistemologia, o conceito de objetividade caracteriza a validade ou não de um conhecimento ou de uma representação relativa a um objeto. Isso equivale dizer que temos como saber se um conhecimento científico é real ou não, bem como, se é verdadeiro o que se conclui a respeito da realidade. É claro que isso depende, por um lado, do conceito do objeto alvo da atenção e, por outro, das regras normativas próprias da especialidade científica de que estamos tratando. Daí, ser possível, sem sombra de dúvidas, concluir-se que, do ponto de vista epistemológico, a objetividade não é sinônimo de verdade, mas sim algo que nos leva a ter confiança na qualidade dos conhecimentos e representações obtidos. É certo, também, que a objetividade não traduz um compromisso de fidelidade ao objeto ou à realidade. É preciso, portanto, levar-se em conta certo cuidado ao considerar o uso do termo objetividade para significar qualquer coisa externa à nossa consciência, pois as regras normativas que permitem distinguir o que é objetivo do que não é são bem definidas, em cada contexto, em termos de paradigmas, pelos membros de cada comunidade científica especializada no assunto.
Invocando novamente o filósofo Immanuel Kant, agora no campo da Ciência, para ele a objetividade é algo que tem validade universal e ela não depende de crenças e religiões, nem da cultura, época ou lugar em que está sendo praticada, e, ainda, que esse conceito se opõe à doutrina do relativismo.
Portanto, no campo científico, objetividade é a propriedade que têm as teorias científicas de estabelecerem afirmações inequívocas que podem ser testadas independentemente dos cientistas que as propuseram. Ela está diretamente relacionada ao atributo dos experimentos científicos de que deve ser possível reproduzi-los. Para ser considerada objetiva, uma teoria, hipótese, asserção ou proposição deve ser passível de ser transmitida de uma pessoa para outra, demonstrável por e para terceiros, bem como, representar um avanço no entendimento do mundo real ou utilidade no nosso cotidiano.
Caruso Samel
Escritor, militante da Filial Butantã (SP)