Queremos esclarecer desde já que, quando nos propomos a estudar o fenômeno da telepatia sob a perspectiva ampliada da espiritualidade divulgada pelo Racionalismo Cristão, assumimos ao mesmo tempo o compromisso de não conceituar tal fenômeno como uma capacidade mística, exclusiva de algumas pessoas tidas como privilegiadas ou coisa que o valha.
A telepatia não é um dom sobrenatural. Sua manifestação não depende de artifícios ou fórmulas; antes, ela se dá de maneira espontânea e livre. O recurso à etimologia nos fornece importantes subsídios para a compreensão de seu significado. O vocábulo “telepatia” é composto de duas raízes gregas – τῆλε (“longe”) + πάθος (“sofrimento”) –; significa, portanto, a capacidade de sentir de longe.
Quando falamos em telepatia, referimo-nos a um fenômeno que integra o conjunto das assim denominadas percepções extrassensoriais, paranormais ou mediúnicas, a depender do contexto. Cumpre ressaltar que as percepções extrassensoriais são aquelas que se dão para além dos cinco sentidos físicos. Sim, o ser humano não conta apenas com o tato, a audição, a visão, o paladar e olfato para perceber a realidade que o envolve.
Se tomarmos como certo a constatação de que a realidade in totum não se resume àquilo que os sentidos humanos podem captar, ou seja, de que ela transcende em muito à dimensão física, o princípio do conhecimento extrassensorial surge como uma consequência logicamente necessária, dado que, se não o considerássemos, a experiência humana se tornaria ultraparcial, exageradamente diminuta.
A telepatia possui estreita ligação com a clarividência. Ambas se relacionam com uma capacidade incomum de absorção de conhecimentos, tendo também ambas espaço em todas as culturas, povos e nações nas mais distintas épocas. Centenas de respeitáveis pesquisadores se dedicaram ao estudo aprofundado do tema nos últimos dois séculos, como Richet, Myers, Podmore, Gurney, Geley, Lange, entre outros.
Ainda sobre a relação entre a telepatia e a clarividência, cabe esclarecer que a distinção entre elas se relaciona com o objeto da percepção. Enquanto a telepatia consiste em conhecer não uma realidade física, mas um conteúdo subjetivo – como uma cogitação, um pensamento, um sentimento ou os denominados atos internos do espírito humano –, a clarividência é a visão a distância de algo ou alguém que possui uma existência objetiva.
Naturalmente, nas sintéticas palavras que compuseram o presente trabalho, não é possível examinar na íntegra toda a temática que envolve os fenômenos telepáticos, mas apenas salientar pontos que, para nós, são de grande importância: i) a telepatia não é um dom ou uma capacidade sobrenatural; ii) as manifestações telepáticas são espontâneas e naturais; portanto, não se deve, irresponsavelmente, provocá-las; iii) admitindo-se a telepatia como uma faculdade, chega-se à conclusão de que ela é um meio e não um fim em si mesmo; como meio, deve ser estudada e compreendida a fim de que o conhecimento por ela gerado promova o ser humano moral e espiritualmente, e não o afogue no pântano da vaidade.
Com base nos conhecimentos ora expostos, estamos seguros em afirmar que falham aqueles que analisam não apenas a telepatia, mas quaisquer manifestações extrassensoriais pelo ângulo da unilateralidade, posição própria da visão mecanicista da vida. Por outro lado, acertam sempre os que, fiéis à abrangente visão espiritualista proporcionada pelo Racionalismo Cristão, não se desviam do caminho do autoaperfeiçoamento, independentemente das faculdades extrassensoriais que possuam ou deixem de possuir.