Quando o cristianismo chegou a Roma, encontrou lá, vinda da Grécia, a filosofia. O encontro da fé católica com a razão, porém, ficaria historicamente marcado por tensões e conflitos, que aliás não se limitariam aos primeiros séculos da Igreja, mas se estenderiam ao longo da Idade Média.
Agostinho de Hipona. Porém alguns filósofos dessa época do cristianismo, conhecidos como “Santos Pais da Igreja”, passariam a procurar conciliar a razão dos pensadores gregos com os dogmas do catolicismo. Dentre esses conciliadores Pais da Igreja, alcançou maior destaque Aurélio Agostinho de Hipona (354-430).
Esses esforços ou tentativas da Igreja primitiva, visando a racionalizar o pensamento cristão, terão continuidade. A garantia disso seriam os “Pais“ do escolasticismo da Idade Média. Para tanto passariam a utilizar, principalmente, a filosofia aristotélica e a platônica. Anselmo de Aosta (século XI), Pedro Abelardo (século XII) e Tomás de Aquino (século XIII) seriam as principais figuras da filosofia escolástica.
Anselmo de Aosta. Esse filósofo da Igreja, conhecido também como ‘Santo Anselmo’ (1033-1109), nasceu na cidade de Aosta, Itália. Além de ocupar altos cargos na Igreja, Anselmo foi o iniciador da Escolástica, exerceu “enorme influência” sobre a teologia católica e seria proclamado Doutor da Igreja pelo papa Clemente XI. Mas ficou famoso especialmente por criar o que chamou de “argumento ontológico”, para Anselmo uma demonstração racional da existência de Deus. “Isso, no entanto”, diz ele, “não significa que a razão se sobrepõe à fé. Pelo contrário, é porque a fé fornece a Verdade divina que torna possível o uso sem equívoco da razão.”
Pedro Abelardo. Nascido em Le Pallet, lugarejo perto da cidade de Nantes, França, Pedro Abelardo (1079-1142), teólogo e um dos filósofos escolásticos de maior destaque, era especializado em lógica – parte da filosofia que trata das formas do pensamento (por exemplo, dedução, indução, hipótese e inferência) e das operações intelectuais que visam a determinar o que é verdadeiro ou falso.
Segundo Abelardo, a dialética é o único caminho da verdade. Na, época, observa um historiador da filosofia, sua opinião teve o efeito benéfico de desfazer preconceitos e encorajar o livre-pensamento. Ainda de acordo com Abelardo, a não ser as Escrituras (a Bíblia), ninguém (ou nada), foi ou é infalível – nem mesmo os apóstolos, tampouco os padres.
Tomás de Aquino. Filho de pais pertencentes à classe nobre da cidade de Aquino (Itália), Tomás (1225-1274), permaneceria em seu país, estudando na Universidade de Nápoles, até 1243, quando se tornou frade da Ordem dos Dominicanos.
Nesse mesmo ano, ele frequentou a Universidade de Paris, “onde os estudos de ciência natural e de teologia avançavam sob a influência do aristotelismo”. Alguns anos depois, foi continuar a estudar na cidade de Colônia (Alemanha). Em 1259, já como professor, em Paris, obteve o título de Doutor em Teologia. A partir de então se dedicaria a lecionar até o final da vida, primeiro em várias cidades da Itália, depois novamente em Paris e, finalmente, em seu país natal.
Segundo Tomás de Aquino, nos embates entre a razão e a fé, a prejudicada é sempre a fé: a razão que se excede torna-se indiscreta e invade o terreno exclusivo da fé, que são os “mistérios divinos”. “A filosofia deve servir à fé, não no sentido de auxiliá-la, e sim no sentido de mera submissão: onde a fé e a razão não estejam em acordo, é sempre a razão que se equivoca”.
Referindo-se a essas tentativas medievais de “racionalizar” o pensamento cristão, Will Durant (1885-1981), historiador, filósofo e escritor estadunidense desabafou:
“Idade Média, época em que as trevas envolveram a Europa, e o mundo ficou a aguardar a ressurreição da filosofia. As principais figuras desse movimento racionalista, sem querer combater ou pôr em dúvida os dogmas da fé, propuseram-se, no entanto, dar-lhes explicação à luz da razão. Mas seus esforços apenas conseguiriam lançar uma frágil e insustentável ponte de racionalismo sobre os abismos interpostos entre o Conhecimento e a Fé”.