Acidentes de trânsito, quase todos evitáveis e não necessariamente em função do carnaval, nas rodovias e nas áreas urbanas de todo o país, voltaram a enlutar grande número de famílias no período carnavalesco. Também assassínios a sangue frio e consequências trágicas de trocas de tiros entre policiais e bandidos ou milicianos, ou confrontos entre facções de marginais, sem participação policial, fortaleceram a estatística de mortos e feridos. Não faltou a participação de menores, ora com assaltos ou furtos, ora com crueldade mais intensa.
Tudo que está aí descrito era previsível: acontece com maior ou menor intensidade todos os dias, em período festivo ou não, de maior movimento de pessoas nas ruas ou presença de turistas de bobeira, ou não. O que não era esperado, ao contrário, era inimaginável, considerando-se a segurança que deve cercar os eventos em que se prevê elevado número de participantes, era o que aconteceu em Salvador, Bahia: os integrantes do trio elétrico que abriria caminho para milhares de foliões foi vaiado, porque atrasou, enquanto um homem era assassinado. Noutra ocasião o carro de som quase tombou e, depois, um dos tubos de gás, usado para efeitos especiais no trio elétrico, explodiu. Duas pessoas se feriram, fumaça se formou no local e a euforia de quem estava nas proximidades transformou-se em lágrimas.
No desfile das escolas de samba do Grupo Especial, no Rio de Janeiro, cedeu a estrutura de uma alegoria, a que transportava a cantora homenageada no enredo da agremiação. Duas mulheres que desfilavam como destaques no alto do carro, despencaram. Uma, de 60 anos, foi ao solo e, segundo informação do hospital onde foi internada, fraturou um braço; a outra ficou pendurada e foi resgatada, mas também foi levada a um hospital da cidade.
No desfile de escolas de samba em Vitória, no Espírito Santo, também a estrutura de uma alegoria cedeu e a moça que desfilava como destaque não teve como defender-se e caiu na pista.
Em 2022, um carro alegórico desgovernado imprensou uma menina, além da área de dispersão do sambódromo do Rio de Janeiro, causando-lhe a morte. Agora, parte da estrutura de uma alegoria se desprendeu e provocou a queda de duas mulheres. Talvez não sejam ocorrências previsíveis, mas são o indicativo de que é necessária maior atenção das equipes de profissionais que trabalham no barracão das escolas de samba, reavaliação dos materiais utilizados e inspeção rigorosa pelos agentes oficiais das peças em construção e depois de concluídas.
Outra medida que se impõe é a limitação da altura permitida para os integrantes das escolas de samba exibirem suas fantasias. A cada ano os desfiles mais se aproximam dos camarotes e dos degraus mais altos das arquibancadas e de quem adquire ingresso, suportando os preços exorbitantes.
Por conta das gracinhas momescas
Para os pessimistas, ou otimistas que gostam de ver o circo pegar fogo, o período carnavalesco os presentou: dois detentos aproveitaram a ocasião e fugiram do presídio federal de Mossoró (RN). É a primeira fuga de internos de uma das cinco penitenciária de segurança máxima do país. Imaginemos se não fossem de segurança máxima! Para que mandar os piores bandidos para lá? Para um pit stop?
Agentes federais se deram conta da fuga na manhã de quarta-feira de Cinzas. Se o condenado é enviado para a penitenciária federal, chamada de segurança máxima, é porque foi considerado ferrabraz, bandido ultraperigoso, que precisa ficar isolado para não contaminar outros facínoras. Resultado: até a Força Nacional foi mobilizada. Em outras latitudes, alguém gritaria: “Lá vem a cavalaria!” Isso para recuperar e reconduzir à malfadada prisão de segurança “máxima” dois cavalheiros que, desaparecidos, não fazem falta à sociedade nem podem ofendê-la.
Essa evasão de apenas dois detentos não é nada, se levarmos em conta as fugas em massa de presídios estaduais, principalmente quando os apenados são facilitados pelo direito de passar datas festivas em casa e não retornam, porque não são tão trouxas quanto os legisladores que criaram esse benefício.
A lei pune a tentativa de buscar a liberdade, embora a liberdade seja um direito do ser humano, ainda que este já esteja punido por crime previsto nos códigos que freiam nosso comportamento e nos orientam ao bom viver.