Há pessoas – e não são poucas – que acreditam que a angústia e a tristeza geradas pelas mais diversas situações difíceis por que passa o ser humano neste mundo não são passíveis de superação, sendo preciso suportar irremediavelmente seu efeito dilacerante sem perspectivas de dias melhores, uma vez que nenhuma resposta teórica, segundo suas ideias, seria capaz de ultrapassar a dor.
Realmente, interpretações superficiais, frases descontextualizadas, ideias vazias e clichês desgastados não permitem reflexões construtivas e consoladoras. Contudo, quando uma pessoa está imersa em profunda angústia, mas consegue manter-se lúcida, busca compreender as razões de tal situação. “Por que aconteceu comigo? Qual é o motivo? Que farei agora?”, questiona-se.
O alvo desta reflexão não se restringe em comparar as diferentes respostas às questões suscitadas. Há muitas visões sobre como deve reagir a pessoa que se vê diante de uma situação difícil aparentemente interminável. Não pretendemos defender uma possibilidade com a exclusão das demais. Propomo-nos, antes, a examinar o tema, utilizando-nos de um critério transcendente, a fim de demonstrar a legitimidade e o valor de uma reflexão espiritualizada e escoimada de sentimentalismo, que seja livre de qualquer impulso reducionista.
Sem dúvida, notícias desagradáveis e acontecimentos infelizes, independentemente das circunstâncias, sempre são motivo de abatimento e dor. Dificílima é a aceitação de determinados dramas; contudo, impossível será esta se faltarem o conhecimento e a certeza da imortalidade da alma.
A par desta inescapável necessidade de ampliação dos sentidos, emerge ao mesmo tempo o despertar para a espiritualidade. É, portanto, num campo que transcende a realidade física que o ser humano que se aflige deve buscar os subsídios necessários para o enfrentamento da dor que transborda e excede sua capacidade de expressão.
A pessoa que, mesmo nos momentos de grande desalento e de melancolia, se mantém confiante e consciente da transitoriedade da existência terrena prova que é capaz de assimilar as lições que a vida fornece a todo momento.
Sendo tão intensa a vulnerabilidade emocional do ser humano, que tem por baliza os reduzidos aspectos materiais, impõe-se como indispensável a reafirmação de que o progresso na vivência espiritualista se dá com a conquista das virtudes, dentre elas a resiliência, amparada pelo direcionamento nobre das faculdades e o empenho no desenvolvimento das qualidades latentes que todos possuímos.
A abertura para o transcendente, o contato com a realidade maior que tudo interpenetra e sustenta permitem o influxo de ideias que criam poderosas motivações, capazes de aceitar com dignidade os mais íngremes obstáculos.
O sofrimento, amigos, traz consigo o aprendizado, proporciona maturidade e, quando compreendido à luz da espiritualidade, torna-se fecundo e transformador, ensejando o desenvolvimento de uma grande virtude: a fortaleza, força impulsiva para o bem e alicerce da vida espiritual, como sempre nos alerta o Racionalismo Cristão.
Será a fortaleza que fará que a pessoa, uma vez superado o momento mais agudo do sofrimento, não perca o que adquiriu por tão alto preço: a maturidade psíquica, a certeza de que determinados problemas, por mais desagradáveis que sejam, uma hora cessarão, dada a característica transitória dos fenômenos terrenos.
Ainda será pela fortaleza que o ser humano saberá perpetuar em sua mente as lembranças positivas dos momentos felizes que vivenciou e que também se esvaíram pelo princípio acima aludido: o da transitoriedade.
De forma sintética, podemos concluir afirmando que o que acabamos de dizer nos traz uma mensagem de esperança, ou melhor, nos faz um convite à esperança. Na verdade, é a esperança de que tudo concorre para uma finalidade positiva que nos deve sustentar emocionalmente.
Cada um de nós, interpenetrados que estamos pelos sentimentos de bem-querer, de amor ao próximo, deverá, em todas as épocas e nos mais variados contextos, dar mostras de nossas mais profundas convicções, erguendo eventuais perplexidades e desgostos ao nível da serenidade e sublimando-a com o pensamento elevado, seguros de que tudo na vida passa, como enfatizou Maria Cottas, essa grande escritora do Racionalismo Cristão.
Muito Obrigado!