Um estudo sobre a fortaleza de ânimo

A fortaleza de ânimo, que, no contexto dos ensinamentos racionalistas cristãos, tem por princípio a dignidade do ser humano, é fator de primacial importância em suas relações e na forma como vivencia as experiências diárias. Há possibilidade de viver bem sem fortaleza de ânimo? Como se adquire e se desenvolve tal fortaleza? De que maneira se molda uma personalidade resiliente nos tempos atuais? Procuraremos propor, a seguir, reflexões sobre todas essas questões.  

Fortaleza de ânimo, que enseja uma experiência de vida dinâmica e construtiva, é resultado da convicção na vida espiritual e da disposição de viver em profunda serenidade, apesar de todas as circunstâncias crônicas, lancinantes e insidiosas que a vida humana não cessa de oferecer. Resulta da disposição do ser humano de não se deixar manipular pelas circunstâncias adversas, de não se permitir imobilizar pelas opiniões alheias e de não aceitar cruzar os braços, submetendo-se ao pessimismo e à negatividade.  

A fortaleza de ânimo se adquire dinamicamente e sempre pelo ângulo da transcendência, promovendo o constante e regular desenvolvimento das faculdades e atributos do espírito. As irradiações associadas aos pensamentos dignos consubstanciados com leituras amenas e instrutivas – que se realizam pelo ser humano consciente do valor do trabalho honesto e benfeito – têm, sem dúvida, o poder de neutralizar vícios e alimentar virtudes, mas não apenas isso. Tais pensamentos garantem o leal cumprimento das responsabilidades, ensejando leveza de consciência e felicidade. A primeira, que vem a ser pré-requisito da segunda, elimina o desânimo e a angústia. 

Há que ter em mente que nenhuma existência reflete uma realidade perfeita e acabada, mas requer um progressivo despertar para a necessidade e sobretudo a importância da fortaleza de ânimo conquistada com foco e ênfase na extirpação dos vícios, na vivência das virtudes e na expansão do amor ao próximo. Sem ela, jamais poderá a pessoa alcançar sua liberdade e autonomia; acaba, antes, por perder sua identidade e razão de ser. 

Duas grandes potências regem o equilíbrio humano: o autodomínio e a liberdade. Constitui a primeira condição indispensável para a conquista da fortaleza de ânimo e, com ela, a da felicidade, que se consolida com o hábito virtuoso de se distanciar dos exageros e das altercações. Já a segunda é faculdade do espírito, que se exterioriza não com gestos destemperados e hostis ao bom senso, mas com o controle dos pensamentos, sentimentos e ações. 

A convicção é o fundamento da estabilidade emocional, do espírito de resiliência e sobretudo da fortaleza de ânimo. Cumpre que nos empenhemos em conservá-la e ampliá-la. Sem dúvida, vivenciamos um ciclo pandêmico dramático e confuso; por isso, além de conservar e ampliar nossa convicção, devemos protegê-la de tudo que a possa enfraquecer: leituras prejudiciais, conteúdos deprimentes, indisciplina no viver, pensamentos inadequados, medos infundados, entre tantas outras coisas que perturbam e enfraquecem o ser humano. 

A formação de uma personalidade íntegra e fecunda, capaz de responder positivamente aos obstáculos próprios da vida, exige autodomínio, coragem, firmeza e, acima de tudo, fortaleza de ânimo. O primado desta última, tal como o defendemos, ou seja, à luz da espiritualidade divulgada pelo Racionalismo Cristão, não deve ser compreendido como valorização de uma personalidade enérgica e contundente. Forte de ânimo é quem, vencendo-se a si próprio, põe-se em condições de resistir com paciência e abnegação às intempéries da vida sem jamais perder a dignidade. 

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