Um iluminista na contramão de seus parceiros e amigos

Filho de Isaac Rousseau e de Suzanne Bernard Rousseau, o filósofo Jean-Jacques Rousseau, que se tornou mais conhecido pelo sobrenome, nasceu na cidade de Genebra, Suíça, em 28 de junho de 1712, e morreu em Ermenonville, França, em 2 de julho de 1778, aos 66 anos.
Rousseau não conheceu a mãe. Ela morreria nove dias depois do parto, fato considerado, mais tarde, por ele “a pri-meira de suas desventuras”. As que so-brevieram à “primeira desventura” de Rousseau não foram poucas, pois ao longo de sua vida não lhe faltariam ad-versidades. Porém as demais desventu-ras constantes da coleção desse filósofo genebrês não serão tema deste escriba.


Autodidata e Polímata. Acolhido por um tio, este viria a proporcionar ao sobrinho a oportunidade de estudar em bons estabelecimentos de ensino, primeiro na França e depois na Itália. Rousseau, no entanto, acabaria, na verdade, optando pelo autodidatismo, que, surpreendentemente, faria dele um polímata (pessoa de vasto e varia-do saber).
Rousseau entraria para a História principalmente por ter sido um dos principais pensadores de seu tempo e uma das mais notáveis figuras do Iluminismo. Além de filósofo foi também teórico político, sociólogo, pedagogo, romancista, dramaturgo, poeta, músico e até precursor do romantismo, movimento literário, artístico e cultural iniciado na Europa no Século XVIII. Rousseau chegaria a andar na con-tramão de seus confrades iluministas. Discordou, por exemplo, da tese do Iluminismo segundo a qual seriam as ciências e a razão que viriam a proporcionar felicidade à sociedade humana e liberá-la da opressão. Muito ao contrário, contestou ele. É na cultura e na civilização que residem todos os males que atingem o ser humano. “Este, sendo bom por natureza, viu-se conduzido a um estado de corrupção”. Segundo Rousseau, o ser humano só pode alcançar a felicidade atendo-se aos próprios sentimentos, que permitem recuperar a harmonia e a justiça perdidas.

Contrato Social. Para ele, filósofo contratualista, o contrato social é a solução para os conflitos e a violência a que se entrega a maioria dos ho-mens depois que passaram a viver em sociedades políticas. De acordo com Rousseau, uma vez instituída a figura da vontade geral, cria-se um soberano que difere daquele proposto pelo filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679).

A soberania, afirma ele, reside no povo. Tal ideia bem como outras concepções básicas são desenvolvidas por ele em sua obra mais importante, O Contrato Social, que, diz Bertrand Russell, se tornou a “bíblia” dos líderes da Revolução Francesa.
Como preservar a liberdade natural do ser humano e, ao mesmo tempo, garantir a segurança e o bem-estar da vida em sociedade? A solução apontada por Rousseau para essa questão é oficializar um contrato social que faça prevalecer a soberania política da vontade coletiva.
Cabe ao soberano, argumenta Rousseau, garantir o exercício da vontade geral. Noutras palavras, cumpre a ele assegurar os interesses comuns da sociedade. Desse modo, o corpo político passa a reger-se pela vontade comum, mas se o povo simplesmente promete obedecer, vai dissolver-se com esse ato e perder sua qualidade de povo. Isso porque, uma vez que há um senhor, não há mais soberano e destrói-se o corpo político.
Se cada um de nós, afiança Rousseau, puser, em comum, sua pessoa e todo o seu poder sob a suprema direção da vontade geral e receber, corporativamente, cada membro como parte indivisível de um todo, chegaremos, afinal, a eliminar do pacto social tudo que não faça parte de sua essência.