Um trabalho hercúleo
As instituições públicas e privadas não podem prescindir da utilização de ferramentas tidas como modernas para gerir a sua saúde econômico-financeira em benefício da sociedade e, no caso específico de uma empresa privada, para a obtenção de sua perpetuidade. Entre as várias ferramentas consagradas, destaca-se a matriz SWOT (na sigla inglesa), que significa, respectivamente, forças, fraquezas, oportunidades e ameaças para esses entes. É uma metodologia de gestão simples, porém muito poderosa. Para o período bastante conturbado e revestido de ineditismo na curta história democrática brasileira, essa metodologia se encaixa como uma luva.
Historicamente, notabilizamo-nos por falta de gestão eficiente e eficaz na execução das atribuições intransferíveis do Estado, com ênfase nas áreas de cunho social, cujas principais são:
Educação. Nessa atividade temos a predominância de uma fraqueza secular que reproduz um quadro de quase falência em todos os níveis de ensino e educação públicos, ou seja, da pré-escola aos níveis mais altos das atividades acadêmicas, com as raras exceções que grande parte da sociedade sabe e identifica.
Os resultados nos exames internacionais continuam colocando-nos em posição de final da fila no ranking. Citemos que a Universidade de São Paulo, paradigma do ensino superior, está 121ª, depois, vejam só, da Universidade de Buenos Aires, que é a 75ª, conforme ranking mundial da QS World University (classificações universitárias anuais publicadas pela Quacquirelli Symonds, do Reino Unido).
Para transitarmos para o lado dos pontos fortes, o ensino e a educação têm que ser, sempre, os protagonistas das prioridades do Estado brasileiro. Sabemos que a tarefa é hercúlea, e que não prescinde do envolvimento do corpo de professores, alunos e funcionários aliados à família. Desta forma, pode-se evitar a reprodução também no ensino básico dos mesmos resultados pífios nos exames internacionais.
Saúde. A precariedade dos recursos para atendimento, sobretudo das camadas de menor poder aquisitivo, ofende a dignidade do ser humano. Filas intermináveis e as dificuldades quase intransponíveis, a curto prazo, para atendimento são marcas indeléveis. Para contrapor-se a esse quadro temos, como potencial, boa estrutura de área da Saúde que já foi elogiada por organismos internacionais, como por exemplo o Sistema Único de Saúde (SUS).
A Segurança. Nessa área o quadro é desolador e os números da estatística são típicos de uma nação em guerra. O quadro é de uma fraqueza total e o vislumbre de uma solução tem que passar pelo ensino e educação, e o prazo para mudança de panorama não é animador.
Infraestrutura. Nessa área se destaca o chamado custo Brasil, que diminui sua competitividade devido à precariedade das rodovias, portos e aeroportos, muito embora percebamos uma melhora neste segmento. É uma questão polêmica, porque há questionamento quanto a não ser vocação do Estado brasileiro cuidar desses setores importantes para o desenvolvimento sustentado da economia.
Habitação e saneamento básico. O déficit habitacional, em ordem de grandeza, se aproxima de 10 milhões de unidades, sendo, portanto, enorme. A Caixa Econômica Federal é o principal agente facilitador para financiamento da sonhada casa própria. Não se compreende que esse banco social invista em outra atividade de perfil dissonante. Os bancos particulares devem ser também atores importantes nesse setor. O saneamento básico tem um quadro com panorama que se assemelha a países em desenvolvimento. Leonardo da Vinci já dizia, no século XV, que a saúde começa com acesso a uma boa água, que é inerente ao saneamento básico. É outro esforço gigantesco para se deslocar para o lado forte de modo que se reflita no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Crédito. A concessão de crédito para as micro e pequenas empresas representa um instrumento valioso para diminuir o dramático nível de desemprego que vitima muitas famílias brasileiras. Essas empresas, junto com a classe média, são ofertadores de trabalho com percentual em torno de 71%. Nesse momento de grande crise econômica se justifica até subsídio do Estado brasileiro para essas empresas. A economia não cresce sem a ajuda desses entes da sociedade.
Agronegócio. No Agronegócio, felizmente, somos o celeiro do mundo, com tendência a aumentarmos a nossa influência e importância. Estamos realmente localizados no lado da fortaleza. É uma vocação inexorável brasileira e o incremento financeiro da agricultura familiar, para se evitar a migração do homem do campo para os grandes conglomerados urbanos, é uma medida que não aceita qualquer tipo de postergação ou descontinuidade. O gargalo, já mencionado, é a má estrutura de escoamento das safras agrícolas. Devem-se combater com todo o vigor os impatrióticos atravessadores. Enfim, toda a nação almeja eliminar as suas fraquezas e se defender, de forma, pacífica, das ameaças.
Hilton Ferreira Magalhães
Engenheiro, professor, frequentador da Casa-Chefe