Uma questão existencial

Ao analisarmos o tema relativo ao bom direcionamento dos atributos espirituais com vista a seu desenvolvimento e ampliação, devemos ter a consciência de que não se trata de uma questão estritamente filosófica ou teórica, mas de caráter prático e, em um sentido mais amplo, existencial. No presente artigo procuraremos destacar que os atributos espirituais e seu positivo direcionamento não consistem em temas especulativos, mas em realidades objetivas, aplicáveis por todos em todas as situações da vida.

Quando o ser humano passa a compreender, por meio do esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão, o valor de suas potencialidades para o enfrentamento dos desafios que se lhe apresentam, bem como a importância do bom desenvolvimento de seus atributos espirituais, que lhe permitem o aproveitamento das mais autênticas experiências, chega naturalmente a crer que as situações vivenciadas antes de tal entendimento haviam se limitado, na maior parte das vezes, a percepções ingênuas, descobertas vazias e conquistas secundárias.

A análise relacionada à correta direção dos atributos espirituais não é de caráter filosófico ou teórico, pois não se trata de saber quantos e quais são os atributos inatos ao ser humano, mas sim qual é o modo mais seguro e conveniente de ampliá-los, a fim de promover o efetivo aprimoramento da pessoa e sua inserção digna e proativa na comunidade da qual faz parte.

Quando melhorar. Os atributos espirituais se expandem e se direcionam corretamente quando o ser humano canaliza suas melhores energias para a prática do bem de maneira constante e desinteressada; quando pretende ser mais inteligente não para se envaidecer, mas para auxiliar o semelhante; quando procura raciocinar com acerto não para se vangloriar, mas para melhor contribuir com a sociedade; quando procura fortalecer a vontade não para expandir o egoísmo, mas para subjugar seus impulsos inadequados.

Ao estudarmos o desenvolvimento dos atributos espirituais, cumpre-nos mencionar que sua mola propulsora é a disciplina. No que diz respeito, por exemplo, à inteligência – atributo mestre do espírito –, aplica-se com muita razão o que afirmamos, pois é comum vermos ao longo da vida pessoas com uma inteligência extraordinária, mas sem disciplina no viver, que surgem no palco da vida como um holofote que anuncia realizações brilhantes, mas cuja luminosidade logo desaparece, obscurecida pela indisciplina. Com certeza, a falta de disciplina, quando não subtrai da pessoa a possibilidade de grandes realizações, enseja o mau uso dos atributos espirituais.

Em verdade, o acervo de atributos que o ser humano traz dentro de si representa um tesouro inesgotável propiciador de grandes talentos e realizações. Porém, aquele que procura entender a vida em seu aspecto mais amplo sem levar em consideração os atributos do espírito decerto converterá sua busca em uma realidade amarga, tediosa e contraproducente.

Vida harmônica. Ora, os talentos espirituais nos impelem a viver em busca do desenvolvimento, constituindo a base de todo o dinamismo existencial. Na verdade, só teremos uma vida harmônica na medida em que expandirmos e realizarmos em nós a vocação espiritual de aprimoramento que nos é inata. Dessa forma, é importantíssima a atitude de converter o erro em aprendizado, pois desse modo se dilatarão de forma consistente o raciocínio, a inteligência, a sensibilidade, a criatividade e as demais qualidades do espírito.Uma visão realista e criteriosa acerca da realidade que nos envolve, proporcionada pelo esclarecimento espiritual obtido através dos ensinamentos do Racionalismo Cristão, permite-nos afirmar que a felicidade do ser humano transcende a interesses egoísticos, encontrando fundamento no uso adequado dos atributos espirituais, cujo desenvolvimento positivo e consciente constitui, por sua vez, condição fundamental para o estabelecimento de um roteiro existencial seguro, que permite que a pessoa avance na direção de seu aprimoramento com originalidade e sem se desgastar desnecessariamente.

Se é falsa a ideia de que a liberdade se opõe à disciplina, não é menos enganoso o conceito de que a inteligência, o raciocínio, a vontade, a consciência de si mesmo e outros atributos similares podem se ampliar positivamente sem ordem, disciplina e método.

Pelo que foi exposto, concluímos que o adequado direcionamento dos atributos espirituais é assunto de máximo interesse para o estudioso do Racionalismo Cristão e para todos aqueles que, fundamentados pela coerência e racionalidade, decidiram romper com determinadas concepções demasiadamente teóricas e introduzir na própria vida uma dinâmica objetiva e útil, que os permite caminhar com os pés bem firmes no solo da realidade.