O esplêndido panorama da realidade espiritual não é algo inalcançável ao ser humano, mas está à disposição de quem a ele aspira com sinceridade. Sublime é o esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão, e incomparáveis são os seus benefícios: os que são leais consigo mesmos e se dedicam ao próximo com solicitude e empatia o encontram facilmente. Sobressai nessas palavras uma virtude que merece toda a nossa atenção: a lealdade. É sobre ela que teceremos algumas considerações na presente reflexão.
O cultivo da sublime virtude da lealdade tem critérios e exigências que precisam ser observados. Para ser leal, o ser humano deve possuir uma sede constante de aperfeiçoamento espiritual. A lealdade, portanto, pressupõe de quem anseia pela ampliação do caráter um anseio crescente por espiritualidade, de modo que, se desejamos ser cada vez mais leais com nós mesmos e com os nossos semelhantes, devemos ser ao mesmo tempo honestos, sinceros, corajosos, valorosos e justos.
Não se pode estabelecer a existência de uma regra uniforme relativamente à maneira ideal de cultivar e conservar a lealdade; contudo, temos a convicção de que valores como a disciplina, a fidelidade, a prudência, a moderação e o comprometimento podem de pronto ser ressaltados e constantemente desenvolvidos. Dessa forma, para incorporá-los, basta nutrir o sincero desejo de espiritualização, pressuposto, como já o dissemos, da lealdade.
Sabemos, pelo estudo da espiritualidade divulgada pelo Racionalismo Cristão e pelas lições que a vida nos oferece, que a lealdade implica em retidão moral. Nessa perspectiva, somos leais com nós mesmos quando reagimos energicamente aos impulsos inadequados e às tendências malsãs que uma vez por outra tentam nos desestabilizar. Para tanto, devemos equilibrar racionalmente a educação e a fidelidade, a cortesia e a sinceridade, o respeito e a tolerância, tendo em alta conta a correção, o equilíbrio, a discrição, a honestidade, a disciplina e este grande e importantíssimo princípio, que é, na vida, uma regra de ouro: o amor a si mesmo e ao próximo.
Diante de um desafio perturbador, de um ímpeto, de uma sugestão imprudente, duas possibilidades se nos apresentam: ou aquiescemos ao que é inconveniente ao nosso aperfeiçoamento ético e espiritual e manchamos a consciência, ou cortamos o mal pela raiz e rejeitamos o que vai de encontro aos nossos objetivos superiores; neste caso, seremos leais. A partir do momento em que a pessoa consente com práticas inadequadas e malfazejas, torna-se desleal e age, em primeiro lugar, em desfavor de si própria.
A pessoa que é leal consigo mesma é, por via de consequência, leal com os semelhantes. É preciso que tenhamos em mente que, ao agir com equilíbrio, sobriedade, moderação e raciocínio, ao conservar inteligentemente tanto os sentimentos como os pensamentos de valor que nos fortalecem e encorajam, mostraremos respeito a nós mesmos e às pessoas com as quais nos relacionamos.
O ilustre orador romano Marco Túlio Cícero dizia que não há ninguém que deixe de aplaudir e aclamar um traço de caráter que não se limita a não procurar vantagens, mas escolhe a lealdade mesmo que tal decisão implique em desvantagens.
Procuramos demonstrar, no transcurso desta reflexão e à luz dos ensinamentos do Racionalismo Cristão, que a essência da lealdade consiste no dever que o ser humano tem de procurar o autoaperfeiçoamento de forma progressiva e dentro de um estilo de vida em que respeite sobretudo a si mesmo, mas também a família, a amizade, enfim, as relações interpessoais em todos os níveis; em que assegure igualmente o desenvolvimento de outros seres, pois o exercício da lealdade e da integridade moral assume seu ápice na busca por aperfeiçoamento espiritual e no respeito próprio e entre os semelhantes, mesmo que para isso tenhamos de abrir mão de eventuais facilidades e conveniências.