A filosofia expande-se em ritmo inusitado. Os filósofos ajudam a pensar e analisar, comparar teorias e suas controvérsias e dúvidas, a formular ideias, adquirir dons intelectuais. Mil e uma facetas, que contornam ciências, artes e cultura, política, psicologia, até mesmo a dança, esta como expressão de um pensamento intelectual e sensual. Implícitos, em seu significado, o conhecimento vasto, o julgamento válido sobre as diferentes questões da vida.
Começa a filosofia a desenvolver-se, e dar-se a conhecer, já no período pré-socrático. Busca, então, avaliar racionalmente a origem e estado existencial do mundo e dos poderes que nele operam. Aí, possivelmente, gerou-se a matemática. Mas só na era de Sócrates vieram à tona as questões morais e pragmáticas do homem, com incentivo à ciência.
Não demorou para aparecerem sistemas rivais, contudo oferecendo uma imagem de cultuar a paz, a felicidade. A ética será a essência. As doutrinas filosóficas enveredam também por outras questões, como a religião – a incompleta verdade revelada. As ciências florescem e mesclam-se a essas doutrinas, a bem do aprendizado e do conhecimento. Presente em tudo, o cenário filosófico dos séculos XVIII e XIX ganha plenitude, enche-se de professores universitários, despontam diferentes filosofias em cada país, com efeitos que se propagam, questionando, argumentando, buscando.
Impossível ignorar as correntes filosóficas direcionadas à política e à sociedade. Em gotas esparsas, de escolhas esparsas numa plêiade espantosa de séculos, evocamos Arendt, com dois temas particulares em sua obra: o da liberdade e da necessidade, e o da relação de exceção e regra. Presente o Holocausto na temática geral, tem nas ‘Origens do Totalitarismo’ seu primeiro livro importante.
Émile Chartier questiona: Qual é o papel do cidadão? Como enfrentar um poder corrupto sem cair no caos das paixões? E que lugar resta à filosofia política, se a reflexão sobre o melhor regime possível é vã?
Nietzsche, de obra extensa, propõe também uma filosofia do futuro, “além do bem e do mal”. Filósofos nobres, “espíritos livres, muito livres”, capazes de criar valores novos, suscetíveis de elevar o homem, em vez de rebaixá-lo.
Freud não se prende só aos sonhos e vida sexual; relaciona a cultura com o mal-estar da civilização, pois deveria regulamentar a relação entre os seres humanos.
Sartre, com o controverso projeto existencialista, pressupõe que os valores bússola da vida de cada ser são de sua inteira opção e responsabilidade. “Existir” é um meio particular de “ser”.
Hobbes julga necessário instituir um poder soberano absoluto – mas não ilimitado –, para garantir a paz. Filosofia sumária: não faças aos outros o que não gostarias que fizessem a ti.
Habermas, prolífico, contestador, introduz o caminho de uma teoria comunicacional da sociedade; a esfera pública e privada no horizonte da consciência. Comunicar para atingir o reconhecimento das próprias afirmações e modificar as estruturas.
Morin na França, Giddens na Grã-Bretanha lamentam a crise dos tempos e o mundo em descontrole. Braudel, tão caro ao Brasil (três anos na Universidade de São Paulo), voltou-se à dimensão espacial da história e sua multiplicidade de visões.
Rousseau, dentre muitos e muitos discursos sobre ciência, artes, costumes, povos etc., situa a origem das desigualdades na descoberta da metalurgia e da agricultura. E, clarividente, coloca na sequência as relações com o tempo, com os outros, com as coisas. Parece estar em casa…
Essa cadeia infindável, plural, sedutora, destaca, neste século, a ciência médica da cirurgia plástica, reparadora e estética. Citamos como expoente Ivo Pitanguy e um de seus mestres, sir Archibald McIndoe: o compromisso de transmitir conhecimento e de fazer a beleza universal, com sua pluralidade estética; o objetivo de restituir ao corpo em sofrimento sua função e dignidade. Já chegara a Luiz de Mattos e seus discípulos, no século passado: o ser humano como força/espírito e matéria. “Filosofia para o nosso tempo”, o Racionalismo Cristão aflora o papel do livre-arbítrio em nosso destino. Juiz dos atos humanos, revitaliza a consciência e vale para todos os seres, sejam quem são e o que fazem.
Finalmente, graças ao trabalho dos coreógrafos modernos, a filosofia passa a pensar na dança, de onde se alijara, por formar, talvez, um par contraditório, segundo o dramaturgo e escritor Suzanne Traub, na linha de estudos do Instituto Goethe. O filósofo americano Alva Noe, protagonista de diálogo intenso com o coreógrafo William Forsythe, acha que dançar e ver dançar constitui uma espécie de efeitos sensoriais do movimento. A filosofia refletida na dança significaria explorar esses recursos: antropologia, estética, fenomenologia. E, a partir daí, chegar a um conceito de pensamento remetente a Descartes – o dualismo corpo e alma, espírito e matéria.
Assim, pelo estudo e transmissão da história do pensamento, filósofos, e quantos pensadores mais, concebem e concedem uma visão menos irrestrita das dificuldades de todos os tempos, ora tão agudas. Até onde a análise filosófica, hoje abrangente e aprofundada, contribuirá para transpor o fosso da desigualdade, injustiça e infelicidade? Com Epíteto, a sentença: “Lembra-te que és o autor num drama, um drama tal como o quis o autor”.