Após mais um ano duro como 2020, esperança volta a ser o mote para 2022. Somente ela pode ajudar-nos a enfrentar tantos golpes da natureza e tanta indolência das autoridades governamentais, descrentes das consequências de seus atos ou de suas omissões.
Ao chegar ao Brasil e iniciar sua nefanda atuação sobre a vida dos brasileiros, quando o mundo já se precavia de seus efeitos maléficos, a covid foi comparada a uma gripezinha. Hoje sabemos que ela infectou mais de 22 milhões pessoas e levou a óbito mais de 617 mil. Faltaram leitos hospitalares, respiradores, medicamentos e profissionais da área de Saúde para enfrentá-la.
Em seguida a alguns entreveros – e denúncias de corrupção, também aí – chegaram as vacinas e a população, primeiro desconfiada, aceitou a imunização. Já quase não adiantava a tranca, porque a casa estava arrombada. Cresceram as filas, os imunizantes surgiam em pequenos lotes, mas, aos trancos e barrancos, com máscaras e álcool em gel, a incidência da doença desacelerou.
Essa desaceleração estimulou a paranoia arrecadatória governamental, que usa como argumento a necessidade de atender o pagamento os servidores e o cumprimento de contratos. No primeiro caso, melhor que não tivessem inchado as folhas de pagamento para atender reivindicações de correligionários; no segundo, sabe-se que há obras paradas por falta do numerário acertado com o governo contratante. Ainda no primeiro caso se tem a constatação de que as benesses a amigos colidem com as necessidades da população, por exemplo quando se confronta a enxurrada de assessores e burocratas com a falta de médicos e enfermeiros.
Com a covid veio o encolhimento da atividade econômica e o consequente desemprego. Homens e mulheres desempregados são levados a mendigar bolsas família ou algumas moedas liberadas pelo governo central e outros, para cobrir a falta do pão. A par desse “engana neném”, oferecem circo.
O nascimento de um ano gera um clima incomparável. Pequenos grupos ou multidões se unem, se abraçam e desejam felicidade e prosperidade uns aos outros. São semblantes que espelham satisfação, amizade, carinho, e, em meio a promessas e comprometimentos que nem sempre serão cumpridos, o mais importante é a alegria. Parece que nas passagens de ano ninguém tem problemas, e se os tem esquece-os ou esconde-os. Onde viver esse momento único? No lar, nos bares, nas praças, nos parques, mas principalmente nas praias. Antes era a praia pela praia; os governos não bancavam shows artísticos nem queima de fogos, mas o povo lá se concentrava, muitas pessoas com propósitos religiosos, para receber o novo ano e renovar as esperanças de dias melhores, de conquistas de objetivos que ficaram para trás. A praia, afinal, é o lazer barato: ninguém paga ingresso, não é cobrado couvert nem rolha e os frequentadores não têm hora para terminar a festa.
Assim foi o 31 de dezembro, muita aparente alegria, apesar da ameaça da variante ômicron, que vem ameaçando fortemente países da Europa e da África, porque muita gente não acredita no risco de nova onda da covid e da gripe que assola a cidade do Rio de Janeiro e periferia.
Há lentidão na imunização contra a covid e, dentro da pandemia, a população está refém de uma epidemia da gripe influenza H3N2. Sem disponibilidade de vacinas, filas formando-se em frente aos postos de saúde, pessoas lutam contra a síndrome respiratória aguda grave, que pode levar à morte.
Pois eis que nesse quadro o prefeito do Rio de Janeiro decide autorizar, depois de uma sequência ioiô de decisões e indecisões, a queima de fogos no réveillon na Praia de Copacabana e em outras. Resultado: aumento desmedido do número de frequentadores, em desrespeito à recomendação de afastamento social, e poucos usando máscara, que protege tanto do coronavírus quanto do vírus da gripe.
Aumenta o risco da população, mas o governo arrecada mais, com base principalmente no setor turístico.