Falar sobre oportunidades de engrandecimento da vida aos homens e mulheres da sociedade atual significa convidá-los a meditar sobre os atributos e faculdades espirituais que todos possuem e que não estão circunscritos ao limitado campo físico. Ora, essas potencialidades impelem-nos a viver buscando o desenvolvimento e estão na base de todo dinamismo existencial. Na verdade, só possuiremos uma vida harmônica na medida em que expandirmos e realizarmos em nós essa vocação espiritual de aprimoramento e religação ao Transcendente. Eis a razão pela qual é importantíssima a atitude de tirar lições de erros ou quaisquer experiências passadas, das corriqueiras às extraordinárias, das felizes às menos felizes. Assim, serão dilatados de forma consistente o raciocínio, a inteligência, a sensibilidade e os demais atributos do espírito.
A verdadeira esperança de que oportunidades melhores surgirão desde que nos esforcemos em criá-las e a convicção de que gestos e compromissos do cotidiano, por menores que possam parecer, promovem a valorização da vida são faróis que iluminam nossos passos e representam o sustentáculo da tranquilidade e da estabilidade emocional.
Ao tratar da abordagem de que os equívocos e falhas cometidos no passado constituem um conjunto real de possibilidades de crescimento humano, poderá haver, eventualmente, quem a critique, tachando-a de ilusória, mas sem razão. Procuraremos demonstrar, ao longo desta reflexão, quão interligados estão os conceitos de aprimoramento individual e reavaliação de condutas.
Ao buscar superar os desafios que a todo instante a vida lhe apresenta, o ser humano está, naturalmente, suscetível a cometer enganos e falhas. É preciso considerar, entretanto, que tudo isso faz parte de um processo e que melhores resultados serão alcançados sempre que houver disposição em aprender com os insucessos, sejam eles pequenos ou grandes. Com certeza, os erros e equívocos – que todos cometem em maior ou menor grau – revelam incontestavelmente uma oportunidade de aprimoramento e revisão de paradigmas.
O despertar para essa realidade atesta que os erros, quando analisados em profundidade e descortinados em sua causa geradora, podem representar alavancas de progresso moral, constituindo a expressão de maior relevo no que se refere à reflexão de todo ser humano a respeito da finalidade da vida.
A pessoa que, com sinceridade de propósitos e sem preconceitos tolos, como nos ensina o Racionalismo Cristão, procura compreender a vida em seu aspecto mais abrangente, buscando conhecer a fundamental realidade que se oculta para além das aparências, dos condicionalismos e das banalidades, tem apreço pelo conhecimento e pela sabedoria, não apenas o conhecimento sensorial, mas também – e sobretudo – o conhecimento da espiritualidade, daquilo que há de comum em todos os seres.
A chave para a avaliação do valor contido nos gestos comuns e correntes tendo por foco o desenvolvimento da própria personalidade não é um enigma a ser descoberto, nem um conhecimento que possa ser adquirido exclusivamente por meio do estudo teórico. Ela está antes na disposição prática e concreta em reconhecer a importância dos detalhes, dos sinais, em agir abnegadamente, em apreciar com sinceridade os atos praticados.
Importa aceitar e acolher as eventuais ingratidões, as circunstâncias desagradáveis, as contrariedades e obstáculos, absorvendo sempre as lições ali contidas com a vontade férrea de tornar-se uma pessoa melhor, mais humana, mais preocupada com o bem-estar de seus semelhantes.
Está fora de questão que a característica mais marcante da pessoa que toma consciência das lições por trás dos fatos menos felizes é sua capacidade de abandonar antigos hábitos, desbravar novos caminhos e engrandecer espiritualmente a própria existência.
Ora, amigos, os erros cometidos pelos seres humanos – por mais contraditória que esta análise possa parecer – provém da mais nobre de suas faculdades: a liberdade, a virtude de ser livre. A liberdade de que somos dotados e que nos distingue dos demais seres permite-nos exercer nossa capacidade de escolha, e esta é inseparável da possibilidade de errar. Logo, a pessoa pode escolher bem ou mal; caso uma das possibilidades deixe de existir, cessa igualmente a liberdade. Quando o ser humano aprende com o erro, tende a acertar cada vez mais, e à medida que acerta sente-se cada vez mais livre e feliz.
Estamos convictos que uma das maneiras mais eficazes de desenvolver nossas potencialidades é eliminar do campo de nossas ideias qualquer impulso à transferência de responsabilidade. Quando vivenciamos situações menos felizes, devemos buscar entender qual foi nossa participação nesse contexto e nunca atribuir os insucessos à outra pessoa ou a um determinado grupo de pessoas.
A angústia, a dificuldade de pôr em prática os propósitos acalentados e a aridez emocional que muitas pessoas infelizmente vivenciam têm por fundamento o orgulho, a autocondescendência e a incapacidade de perceber nos gestos mais simples oportunidades autênticas de aprimoramento da personalidade. Da análise unilateral ou preconceituosa dos atos habituais e corriqueiros da rotina diária, bem como das falhas irrefletidamente empreendidas no passado, pode resultar um entendimento reducionista do sentido da vida.
O entendimento sobre a necessidade de se aprender com os erros e comportamentos inadequados é condição fundamental para a edificação de uma vida produtiva e feliz. Convém também ressaltar que o olhar interrogativo e a apreciação criteriosa dos problemas e das situações diárias permitirão tornar compreensível os inúmeros desacertos e falhas e a dissipação de muitas ilusões e fantasias.
Eis uma escolha que praticamente todo ser humano, em algum momento da vida, terá de fazer: de um lado, a decisão de colocar-se receptivo ao aprendizado, ao aperfeiçoamento, ao soerguimento, à transformação positiva; de outro, a de sentir-se eternamente vítima das circunstâncias, roído pela inquietação, alimentando constantes, profundas e dolorosas divisões e incidindo em uma desvalorização progressiva da própria vida. Poderão, porventura, as duas opções equivaler-se e oferecer ao ser humano oportunidades de crescimento emocional e qualidade de vida? Poderão proporcionar iguais possibilidades de realização e paz interior? Evidentemente não.
Como nos orienta o Racionalismo Cristão, a aprendizagem não é um processo linear e mecânico; portanto, não há que falar em uma lista rígida e inflexível de procedimentos a serem seguidos a fim de se atingir uma meta. As maneiras mais eficazes de avalição dos próprios erros e tropeços, bem como de valorização das atitudes e comportamentos, estão ligadas à autoanálise e às perspectivas internas de cada pessoa.
A partir de um sério empenho de reflexão e ação, tendo por base os conteúdos mencionados nesta reflexão, todos estarão em condições de olhar para os desacertos cometidos com os óculos da espiritualidade, que ensejam uma visão ampliada, sincera e consistente a ser traduzida em ação concreta e efetiva. Estamos convictos de que aquele que se abre para a espiritualidade ilumina sua razão e entendimento, percebendo, por via de consequência, a importância simultânea da singularidade e globalidade de todos os atos humanos.
Muito Obrigado!