Em um período no qual hormônios afetam tanto as emoções, como administrar pressões e lidar com desequilíbrios psíquicos?

Quando consideramos os diferentes aspectos oriundos da etapa do desenvolvimento humano situada entre a infância e fase adulta – período, diga-se já, marcado por diversas transformações corporais, hormonais e comportamentais –, não podemos nos esquecer a influência que exercem nas emoções e comportamentos do ser humano, influência que mudará seus hábitos e ensejará atitudes de todo diversas das que tinha até então.  

Esta reflexão propõe-se a mostrar como o estudo criterioso da espiritualidade seguido da atitude prática na vida cotidiana amplia o horizonte de compreensão do ser humano independentemente das condições por que esteja passando, fazendo-o entender que sempre há possibilidades de aperfeiçoamento. Afirmamos isso com a convicção de que a visão transcendente insere no indivíduo a capacidade de vislumbrar em todas as etapas de seu desenvolvimento biológico uma oportunidade de crescimento moral, intelectual e sobretudo espiritual. 

A vida do ser humano se caracteriza por uma infinidade de lutas e desafios, sobretudo na adolescência, período em que a pessoa se encontra agudamente afetada em sua sensibilidade, visto que vivencia uma série de rápidas reações, num caudal de hormônios. Em seu ímpeto de autoafirmação, muitas vezes não consegue notar as importantes transformações por que está passando e, de certo modo, é natural que seja assim. 

A adolescência se constitui de mudanças formidáveis, em que tudo parece, simultaneamente, fácil e difícil, nítido e obscuro, em que a vontade de mudar o mundo se manifesta intensamente, tornando o ser humano transitoriamente soberbo e inconstante, contraditório e agressivo. Nesse contexto, queremos ressaltar que, nos momentos mais agudos e frente as crises mais radicais, o jovem que não possui uma referência transcendente, que acredita que o mundo a sua volta, com suas sensações esfuziantes e prazeres efêmeros, seja a única realidade possível, perde-se em devaneios inúteis e inquietações que dissipam suas energias e desviam seu potencial. Portanto, é importantíssimo que ele não perca sua integridade, não comprometa seus ideais e projetos nem ceda a impulsos contrários ao respeito ao semelhante e a uma vida saudável e feliz.  

O adolescente que não tem consciência de seu valor, de suas singularidades e faculdades, de seus talentos e vocações, enfim, de sua essência espiritual não decide com naturalidade, sendo facilmente manipulável. Aos queridos jovens que nos acompanham, reafirmamos o valor da abertura à espiritualidade e do respeito aos mais velhos, sobretudo aos pais, cujo principal anseio é vê-los felizes e realizados; tenham certeza disso. A humildade é uma virtude que vocês devem buscar, pois ela lhes ensinará sobretudo a aceitá-los como são e a edificar, com base nos elementos que compõem suas personalidades, uma vida produtiva e corajosa. 

Já não presos a um passado infantil, mas conscientes das inúmeras possibilidades de crescimento que a fase da adolescência e da juventude lhes proporcionam, os jovens espiritualizados passam a harmonizar o passado ao presente, estabelecendo pontes que os levarão à concretização de seus mais elevados ideais. 

De maneira geral, os pais e responsáveis direcionam aos filhos grande parte de sua energia e atenção, sobretudo quando estes são pequenos. Buscando orientação nos mais diversos meios, tornam-se participantes assíduos e interessados em todas as conversas que tratem da criação dos filhos, absorvendo com grande interesse desde coisas corriqueiras até as atitudes mais comuns do comportamento da criança. 

Porém, à medida que os filhos se tornam aparentemente menos frágeis, o processo educativo vai entrando, por assim dizer, no automatismo, como se todos os cuidados e preocupações devessem se concentrar unicamente nos primeiros anos da criança, naquela fase inicial de grandes descobertas e de necessidade constante de estímulos. 

Quando o filho entra na pré-adolescência e posteriormente na adolescência, alguns pais ficam desorientados, sem saber como agir. Já não encontram aquela profusão de subsídios acessíveis de modo prático e simples das fases anteriores. Dessa forma, muitos pais que enfrentam sérios problemas com seus filhos adolescentes sentem-se tomados pelo sentimento de culpa: pensam que agiram errado no passado, julgam-se negligentes em não ter percebido sinais, interrogam-se dramaticamente se foram rígidos ou demasiadamente liberais, enfim, não sabem como lidar com a situação. 

Como a ampliação do olhar é própria do estudo da espiritualidade, convidamos a você que é pai, mãe ou responsável de um pré-adolescente ou adolescente a ajustar a educação psíquica e emocional de seu filho através do prisma amplificador da espiritualidade. Mas o que isso significa? Significa pensar nessa fase de seu filho de um modo novo, mais amplo e abrangente.  

É necessário estar consciente de que os recursos e métodos utilizados na infância não são mais eficientes para o período em questão. O adolescente não precisa de alguém que lhe dê ordens, mas sim de um amigo em que possa confiar. Aos pais não compete, portanto, mandar arbitrariamente, mas influenciar positivamente. É imprescindível desconstruir a imagem da adolescência como uma fase de crise, imagem essa que se reforça, inclusive, em determinados meios acadêmicos.  

É preciso desvesti-la de rótulos inapropriados, presunçosos e impertinentes, como período da “aborrecência”, da preguiça, da irresponsabilidade, da rebeldia. Deve-se construir a compreensão de que muitas das atitudes de seu filho pré-adolescente ou adolescente representam um clamor, uma necessidade de anunciar ao mundo que ele não é mais criança e, por conseguinte, precisa encontrar seu espaço. 

O fato de ser turrão e questionador, discordando em vários aspectos da opinião dos pais, é o mecanismo de defesa que ele encontra para conquistar autonomia e independência. Contudo, cabe aos mais experientes compreender que é nessa complexa fase da vida que o ser humano estabelece os alicerces e fundamentos de seu caráter e, por essa razão, não podem faltar os bons exemplos, destacando-se a atitude equilibrada e sensata. 

Os pais e responsáveis não devem se eximir do dever essencial da presença e da vivência em meio aos filhos adolescentes. É importante, portanto, que se portem com calma, dignidade, austeridade e discernimento. Ao fazê-lo, terão de enfrentar naturalmente oposições e críticas, desgastes e aborrecimentos, mas quando aderem conscientemente a uma experiência de vida fundamentada nos valores da espiritualidade, desenvolvem de tal forma a força de vontade, a confiança e o entendimento acerca da relevância do diálogo, estabelecido em linguagem acessível aos jovens, que são capazes de reconhecer a suprema iniciativa que sói permitir restabelecer cisões e consolidar laços afetivos. A conversa entre pais e filhos nunca deve ocorrer em tom de artificialidade, pois sua eficácia tem como pressuposto basilar a espontaneidade. 

Impõe-se ainda uma observação a respeito da maneira como os filhos adolescentes devem ser abordados e dos critérios de orientação. Não se deve confundir rigor com rigidez nem agir com arbitrariedade, tendência que ainda se mostra bastante acentuada. Como compreender um pensamento dominado pela impulsividade, exteriorizado em um comportamento muitas vezes antissocial? Como compatibilizar afirmações manifestamente contraditórias com a necessidade de auxílio? 

É o amor dos pais que veiculará a resposta a essas questões e lhes permitirá superar muitas dificuldades. Alimentando-se diariamente desse amor e fortalecendo-se com ele, serão capazes de alcançar a grandeza moral e o equilíbrio; tornar-se-ão uma referência, um porto seguro para os filhos, quando estes estiverem eventualmente à deriva por conta dos delicados e complexos desafios que a vida apresenta. 

Para concluir, gostaríamos de deixar claro que nossa motivação para tratar sobre este tema parte da constatação do exíguo e insuficiente número de abordagens que tratam deste assunto do ponto de vista da espiritualidade, não obstante sua importância e relevância. 

Em consequência do incipiente nível de interesse da sociedade contemporânea por assuntos espiritualistas e o deficitário grau de conhecimento do público geral em relação aos aspectos transcendentes da vida, temos uma sociedade cada vez mais individualista e, por conseguinte, alienada de seu valor e de sua missão. 

Em conformidade com os princípios defendidos e divulgados pelo Racionalismo Cristão, nosso objetivo consiste em tornar acessível, aos jovens e a seus pais e responsáveis, alguns aspectos importantes da visão integradora da espiritualidade, que constituirão para eles um diferencial incomensurável nos relacionamentos pessoais e no sucesso profissional. 

Defendemos uma educação de qualidade e o constante aprimoramento intelectual do jovem. Contudo, quando se negligencia no processo de aquisição de conhecimentos e informações o aspecto espiritual, ou seja, quando não se contemplam os valores ético-morais que sustentam uma vida digna, a formação do jovem será sempre precária, e ele perderá em qualidade de vida e bem-estar.  

A vivência cotidiana dos valores da espiritualidade mostra-se um caminho consistente, permitindo à pessoa, independentemente de sua faixa etária, uma apreensão integral da realidade, no sentido de buscar a razão dos fatos, ir à raiz dos acontecimentos e à causa dos fenômenos. Importa nesse processo de autoconhecimento não a crítica vazia de sentido, mas a autoanálise e a introspecção que visem promover mudanças e transformações positivas.  

A espiritualidade, queridos amigos, não é um conjunto de conhecimentos reunidos em torno de uma estrutura de caráter abstrato, mas uma força viva, que exige, como tal, projetos, ação concreta e acima de tudo empenho na construção de uma sociedade melhor para todos. O jovem deve ser o protagonista de seu próprio futuro.  

Muito Obrigado!