Somente o ser humano é dotado de livre-arbítrio

O tema do livre-arbítrio é, de certa forma, recorrente em nossos estudos filosófico-espiritualistas. Valorizamo-lo de tal modo que destinamos a ele mais um artigo. Estamos convictos de que, analisando o livre-arbítrio à luz da espiritualidade defendida pelo Racionalismo Cristão, conseguiremos penetrar no âmago de seu conceito, concluindo, entre outras coisas, que ele nos distingue admiravelmente, visto que, sobre este planeta, considerando o conjunto dos demais seres, o livre-arbítrio é uma exclusividade do ser humano.

Ao abordarmos o tema do livre-arbítrio, faz-se necessário fixar algumas noções que tal assunto pressupõe. Nesse sentido, reiteramos que o ser humano integral é formado de espírito, corpo fluídico e corpo físico. O espírito é portador de inúmeros atributos e faculdades, incluindo o livre-arbítrio, que o caracteriza e o singulariza como nenhum outro.

O estudo a respeito da estrutura essencial do ser humano e de seu desenvolvimento moral e espiritual leva-nos a considerar, por uma perspectiva racional e lógica, que todas as pessoas são dotadas de vontade – ou, mais especificamente, de uma dimensão especial da vontade denominada livre-arbítrio, que as torna capazes de escolher não apenas entre a ação e a omissão, mas sobretudo entre esta ou aquela maneira ou forma de agir.

Via de mão dupla. O livre-arbítrio, embora seja o elemento que, além de distinguir o ser humano, lhe confere especial dignidade, constitui, metaforicamente falando, por conta de sua marcante neutralidade, uma arma de dois gumes ou uma via de mão dupla. Em outras palavras, o ser humano pode fazer uso adequado do livre-arbítrio, escolhendo o que é verdadeiro e autêntico, ou inadequado, optando pelo que é superficial e falso. Note-se que em ambas as circunstâncias o ser humano colherá, inevitavelmente, as consequências felizes ou infelizes de suas escolhas.

Os múltiplos fatores que dão origem, na atualidade, a uma visão reducionista e materialista da vida, como o incentivo ao consumo impulsivo, a busca constante por facilidades e o fervilhar de ideologias polarizadas, ensejam mentalidades cada vez mais distantes dos autênticos valores do espírito, ao mesmo tempo que dificultam a tomada acertada de decisões. Todavia, o estudioso da espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão, contando com o discernimento e o esclarecimento que por empenho próprio conquistou, consegue verificar os erros e armadilhas que surgem cotidianamente em seu caminho e manejar seu livre-arbítrio de maneira adequada.

As pessoas, por seus atributos e faculdades, por sua inteligência e raciocínio, podem, sem dúvida, edificar sua vida com dignidade, alcançando o desenvolvimento espiritual e o desfrute da felicidade – que consiste na consciência de ter feito boas e produtivas escolhas –, desde que se esclareçam espiritualmente, dedicando-se ao conhecimento de si mesmas e refletindo acerca das responsabilidades e potencialidades que trazem dentro de si.

Conhecimento. A mais legítima aspiração da humanidade, não somente hoje, mas em todos os momentos históricos, é a liberdade, representada pela possiblidade de utilizar o livre-arbítrio de maneira plena. Por essa razão, ela guarda estreita ligação com o conhecimento, não só o da realidade perceptível pelos sentidos físicos, mas sobretudo o da transcendência, ou seja, da espiritualidade.

Nesta conclusão, reafirmamos que o bom uso do livre-arbítrio resulta da imersão e experiência cotidiana dos princípios espiritualistas constantemente mencionados e defendidos em nossos artigos. Tais princípios apontam o caminho seguro que conduz o ser humano à identificação de sua própria essência e, como consequência, à tomada das melhores decisões. Tal é a reflexão sobre a qual gravita uma experiência humana digna e enobrecedora.

O amor ao próximo, a solidariedade, a promoção da paz e a não violência devem estar presentes e inspirar todas as relações humanas pautadas na ética e no respeito, pois são concepções capazes de transformar completamente o ser humano, na medida em que vão além das visões reducionistas e separatistas.

O estudo e a análise do livre-arbítrio à luz da razão e da espiritualidade divulgada pelo Racionalismo Cristão indicam sua abrangência e importância.