Com o propósito de oferecermos, à luz dos ensinamentos espiritualistas explanados e defendidos pelo Racionalismo Cristão, material para análise e reflexão dos leitores de A Razão, apresentamos o texto a seguir, que, esperamos, possa ser útil aos seus estudos sobre esse instigante tema: a encarnação do espírito.
Na visão do Racionalismo Cristão, é o processo pelo qual o espírito encarna em corpo humano e fica a ele ligado pelo corpo fluídico para lhe dar vida, formando povos de estrutura heterogênea no planeta-escola Terra, onde promove a evolução interagindo com outros espíritos encarnados de diferentes níveis evolutivos.
Nas dimensões fluídicas mais sutis, como são os mundos de estágio, os espíritos exercem suas potencialidades com o nítido propósito de viabilizar o progresso espiritual, sem interferências das correntes mentais próprias dos mundos de escolaridade, como é a Terra. Portanto, os mundos de estágio são campos propícios à reflexão, programação e melhor compreensão da importância da imparcialidade na vida espiritual.
Nos níveis mais densos de matéria física – os mundos de escolaridade –, o espírito encontra campos de manifestação significativamente diversos dos mundos de estágio. O convívio com seres humanos de diferentes graus evolutivos constitui ambiente propício à expressão de suas faculdades e de seus atributos, fomentando potenciais meios para o desenvolvimento espiritual.
“Nem tudo que reluz é ouro”, é expressão popular de grande sabedoria. Se os seres humanos tivessem esse alcance espiritual, dando valor ao que verdadeiramente valor tem, não se deixariam enganar pelas ilusões próprias dos mundos de escolaridade. Por meio de pensamentos elevados e de ações virtuosas, somariam forças ao trabalho dos espíritos mais evoluídos. Portanto, no processo evolutivo, é necessário que as pessoas aprendam a evitar erros e encontrem meios para o desenvolvimento de seus atributos e de suas faculdades espirituais, de modo a alcançarem condições evolutivas que lhes permitam ascender a dimensões espirituais mais sutis ao desencarnarem.
A partir do terceiro mês de gestação da futura mãe, a conexão entre o espírito que irá encarnar e o óvulo fertilizado, que antes era apenas vibratória, vai consolidando-se, gradativamente, através de cordões de natureza fluídica. Nessa etapa, já estão reunidas as condições essenciais ao desenvolvimento do feto até o seu nascimento, que receberá diretamente essas influências vitalizadoras ou enfraquecedoras do ambiente em que se encontra e dos próprios pais. Logo, incumbe à mãe e ao pai a responsabilidade pela manutenção dos elevados propósitos aos quais se submeteram por ocasião da concepção.
No processo de reencarnação do espírito, acontece o esquecimento das encarnações passadas, que se dá por força das próprias necessidades evolutivas e dos diferentes níveis de densidade entre o campo espiritual e o plano material. O espírito em seu mundo de estágio passa por diversas fases: planejamento espiritual; aproximação e ligação fluídica com a aura dos futuros pais; adaptações do corpo fluídico; ligação vibratória que acaba de se formar com o óvulo fertilizado da futura mãe; e junção do corpo fluídico com o corpo físico em formação. Tudo isso leva o espírito a um estado de semi–inconsciência, até que, pela densidade material característica do planeta Terra, a capacidade vibracional diminui, de modo que o espírito perde a consciência do seu estado anterior por ocasião do nascimento do feto. Devido ao aumento da densidade própria do mundo físico, o influxo fluídico se reduz, resultando no esquecimento das experiências de encarnações anteriores, isto é, das vidas passadas das quais o espírito tomou conhecimento em seu mundo de estágio.
O nascimento é uma transição entre a dimensão fluídica e a física. É um fenômeno natural e necessário à evolução do espírito, mas cercado de dogmas, misticismos e mistérios por muitos indivíduos. À luz da espiritualidade explanada pelo Racionalismo Cristão, o nascimento é o momento em que o espírito assume o corpo físico, com o qual interage através do seu corpo fluídico, transmitindo-lhe irradiações à medida de suas faculdades e de seus atributos espirituais.
Simplificadamente, o ser humano no planeta Terra é constituído por espírito, corpo fluídico e corpo físico. O espírito utiliza o seu corpo fluídico para incitar o corpo físico por meio de vibrações, que promovem toda a movimentação orgânica responsável por suas expressões e necessárias à sua subsistência. De todo modo, as transformações pelas quais passa o corpo físico, ou mesmo o corpo fluídico, não podem atingir o espírito, por ser imaterial, eterno e indestrutível.
Ao reencarnar, o espírito afasta-se de um mundo de natureza mais sutil; porém preserva os objetivos colimados nesse seu mundo de estágio e que estão registrados no corpo fluídico. Ao acessar essa bagagem espiritual, dela se investe durante o contato direto com o mundo físico. Durante esse processo, fica exposto às ilusões materiais daí decorrentes, e luta para manter íntegros os objetivos de ordem evolutiva.
O ser humano revela tendências, vocações e hábitos condizentes com suas experiências e necessidades evolutivas, sendo importante que pais, educadores e o próprio indivíduo percebam essas inclinações, para aprimorá-las. Ao se analisar o comportamento humano, suas virtudes e imperfeições são reveladas, e, com elas, o caminho para aprimorá-las ou eliminá-las. Assim, a cooperação enaltece as qualidades da pessoa, amplia sua tolerância com as fraquezas alheias, revelando bons exemplos e viabilizando o desenvolvimento espiritual.
As imperfeições humanas podem ser majoradas em razão do materialismo desenfreado e de seus atrativos efêmeros, que embrutecem os indivíduos. A falta de compreensão da transitoriedade da vida no mundo físico e da necessidade de aprimoramento contínuo dos atributos e das faculdades espirituais são fatores contributivos para o desenvolvimento do egoísmo e do imediatismo.
Fatos ocorridos na rotina familiar repercutem na sociedade. O alcance do equilíbrio pessoal requer esforço e faz reviver o padrão psíquico do mundo de estágio, de onde vêm intuições que aclaram as necessidades evolutivas. Assim, ondas de afeto permeiam o lar, favorecendo o bom uso do livre-arbítrio pelos membros do clã familiar em sua integração junto aos semelhantes.
O espírito busca cumprir seus objetivos espirituais também convivendo com as aparentes desigualdades e com as situações conflituosas, que são características das sociedades humanas. O respeito à natureza e às diferenças de gênero, de forma geral, falam por si, e impõem ponderação, moderação, justiça, serenidade e valor, que ampliam o campo de expressão das conquistas espirituais.
Nos primeiros anos de vida, a compleição física frágil e delicada da criança e sua estrutura fluídica, em processo de consolidação, facilitam a tarefa dos pais, uma vez que, nessas condições, ela se torna propícia a todas as impressões. É nesse período que se fixam mais facilmente os acontecimentos. As impressões de aceitação ou repúdio dos fatos da vida repercutirão mais à frente, ensejando-lhe amor e segurança ou lhe afetando o equilíbrio psíquico, que desencadeará os efeitos da rejeição de que, eventualmente, tenha sido objeto. Da mesma forma, os episódios à sua volta, direcionados ou não a si mesma, exercerão preponderante influência na formação da sua personalidade e, consequentemente, na sua autoafirmação.
O jovem, ao atingir a fase de madureza e com ela a vitalidade plena, tem alterados os interesses, e a razão passa a superar a infantilidade proporcionadora de ilusões e fantasias, que tantos sofrimentos impingem à humanidade. Desenvolve a consciência de si mesmo e identifica o real sentido da vida. O Racionalismo Cristão ensina que o cultivo dos valores espirituais é fator essencial para o amadurecimento do indivíduo, não se restringindo esse conceito ao aspecto físico, mas, sobretudo, ampliando-o, ao orientar que a maturidade moral o liberta da materialidade, ensejando-lhe uma atitude ética: de respeito às diferenças e de valorização da vida.
Essa fase do processo evolutivo do ser humano na Terra representa experiência e sabedoria, conquistadas pelo espírito ao longo da vida e incorporadas ao seu patrimônio moral. O espírito não envelhece. Ele se enriquece com o aprendizado. A felicidade na velhice não consiste no acúmulo de bens materiais e, sim, na paz interior, na consciência tranquila do dever cumprido. A velhice se acentua quando o indivíduo se considera inútil, quando experimenta o desprestígio de uma sociedade preconceituosa, que elaborou conceitos de vida em padrões ortodoxos materialistas e ultrapassados. É o estado psíquico do indivíduo que realmente interessa, é ele que determina qual fase em que realmente se encontra: se lhe convém permanecer na juventude alongada e realizadora ou na velhice precoce e imobilizadora.
Para concluir, nenhum acontecimento no Todo Universal se dá em decorrência de um fenômeno caótico ou de resultado de desordem espiritual que nele predomine. Os acontecimentos que, em uma primeira análise, possam parecer casuais, destrutivos ou inexplicáveis são sempre efeitos de uma programação superior, regida por uma lei evolutiva magnânima, que objetiva a ordem, o equilíbrio e a justiça. Dessa forma, todos os indivíduos vivenciam as consequências de seus pensamentos, que se exteriorizam através da linguagem humana e do comportamento. As relações sociais e os impositivos padrões comportamentais criam condicionamentos, que, não raras vezes, distanciam o indivíduo do seu objetivo principal, que é a evolução espiritual. Todavia, nas interações humanas, está presente a lei evolutiva de causa e efeito como mecanismo legítimo de compensação e estabilidade.
A doutrina espiritualista codificada por Luiz de Mattos explica a vida do Universo no seu aspecto amplo e construtivo, oferecendo aos seres humanos ensinamentos espirituais e normas disciplinares práticas de conduta, para que caminhem com tranquilidade no planeta-escola Terra. Com esses conhecimentos, cabe aos estudiosos da espiritualidade aplicar o atributo da vontade forte, para eliminar hábitos impróprios, evitando sofrimentos.