A questão da solidão, que pode ensejar uma série de distúrbios emocionais, alcançou na atualidade uma gravidade que não alcançara em épocas anteriores. Para o bom desenvolvimento das ideias que desdobraremos ao longo desta reflexão, torna-se necessário esclarecer que, ao enunciarmos a solidão como algo que pode ser evitado, utilizamo-nos do conceito em sentido relativo. Em termos estritos, a realidade é outra, posto que, espiritualmente, nunca estamos sós.
Longe iríamos nas análises se nos puséssemos a rastrear a origem e os significados do vocábulo “solidão”. Optamos por introduzir-lhe um teor mais psicológico, ligando-o ao sentimento de quem vive só.
Há quem opte por uma vida solitária e mesmo tenha gosto nela – é raro, mas a história registra alguns casos. A maioria das pessoas, contudo, teme a solidão e não consegue adaptar-se a ela, mormente quando esta sobrevém de maneira radical, depois de uma existência fecunda em relacionamentos humanos. Quando, por exemplo, falece um cônjuge idoso, deixando o outro sozinho, a angústia causada pela ausência do companheiro ou companheira é capaz de causar danos imprevisíveis na saúde psíquica daquele que fica.
É significativo notar que, embora a solidão provenha, na maior parte das vezes, de circunstâncias exteriores, é a partir de atitudes interiores que ela poderá ser superada. Nessa perspectiva, elencamos um conjunto harmonioso de quatro atitudes básicas a serem empreendidas contra a solidão:
Seja racionalmente otimista. As pessoas que buscam enxergar o lado bom das situações e concentrar nele sua atenção, a fim de que este se expanda, criam uma atmosfera tão benfazeja que atraem para junto de si muitas pessoas e amigos admirados com a lucidez e a positividade de suas análises.
Busque o conhecimento. Estar sempre receptivo ao conhecimento é uma maneira muito inteligente de dar um novo sentido à vida e preenchê-la com boas companhias. Ao buscar o desenvolvimento de nossos talentos por meio do estudo, conheceremos pessoas, faremos novas amizades, multiplicaremos as afinidades, desenvolveremos tarefas em grupo etc. Na vida de quem estuda não há espaço para a solidão, até porque os livros são excelentes companhias.
Abrace o trabalho voluntário. O trabalho voluntário beneficia mais quem o pratica do que aquele a quem é dirigido – tenham certeza disso. Ser altruísta junto a pessoas que compartilham o mesmo ideal não somente evita a solidão, mas também revigora o espírito. A força do trabalho voluntário é tão prodigiosa que, em nossa experiência particular, não poucas vezes ouvimos testemunhos de pessoas que diziam ter encontrado a razão de ser de suas vidas quando passaram a se dedicar a outras pessoas por meio do voluntariado.
Dedique-se ao semelhante. Ao vislumbrarmos nossos semelhantes como uma extensão de nosso próprio ser, nos beneficiamos duplamente: por um lado, nunca nos sentiremos sós, pois seremos impedidos pelo agudo senso de complementariedade que emerge de nossa personalidade; por outro lado, seremos mais gratos à vida, pois quando olhamos atentamente para os sofrimentos de alguns seres humanos, percebemos o quanto nos equivocamos em reclamar das circunstâncias que nos envolvem.
As análises suscitadas nos tópicos precedentes, além de indicar caminhos seguros para evitarmos a solidão, levam-nos a concluir que uma parte considerável da crise enfrentada pela sociedade atual, bem como seus desdobramentos, sobretudo em termos de relacionamentos, dá-se pela inobservância de uma premissa básica: é necessário que o ser humano se coloque no lugar de seu semelhante, para entendê-lo, auxiliá-lo e, sobretudo, dilatar a compreensão sobre si mesmo. Ao contrário do que, por vezes, erroneamente se imagina, uma experiência de vida ditosa e saudável não pode preterir a associação aos indescritíveis valores da transcendência, dentre os quais destacamos a capacidade de relacionar-se. Sem essa consciência, secam-se os mananciais do vigor e do entusiasmo, da fraternidade e da solidariedade; sem ela, o ânimo de viver se converte em angústia e solidão.
Muito Obrigado!