Viva o Brasil! Orgulhe-se de ser brasileiro, apesar de tudo

Ao tomar conhecimento de tanta miséria, tanta falcatrua, tanta mentira (que agora acham bonito chamar de feique), tanta roubalheira de mãos dadas com a impunidade, tanta pouca vergonha que vem de cima, nem sabemos como adjetivar o pobre brasileiro, vítima das artimanhas dos que exercem o poder neste país que já foi chamado de ‘das bananas’ e teve a seriedade posta em dúvida perante as nações.

Parece não ser necessário dar nome aos bois, pois são sabidos, ou detalhar dados que se encaixam nos casos sequenciados, todos sabem, todos veem. Há, porém, severa divisão no seio desse ‘todos’ referidos: os que se locupletam e os que são explorados, diríamos, aqueles que batem palmas para maluco dançar.

Ainda não caiu a ficha, não dá para entender como pessoas condenadas a dezenas e dezenas de anos de cadeia estão em casa beneficiados pelas filigranas das leis. Que leis! Os PPP continuam lotando as celas e não alcançam tais benefícios. Já se lembrou neste espaço sábio comentário: todos são iguais perante a lei, mas uns são mais iguais que outros. Estabelece-se uma dúvida: em que um estuprador, um assassino, um vadio qualquer é melhor ou pior do que um ladrão da coisa pública, do que um escroque que se apropria de valores que devia preservar como guardião para aplicação em benefício do povo que o fez seu líder e representante, que nele depositou confiança e dele espera o retorno em forma de seriedade, honestidade, probidade?

Sofre grande parcela dos brasileiros, sofrem mães que veem sofrer seus rebentos à mercê de algozes dissimulados, fantasiados de autoridades. Certamente sofrem outras mães, as que deram ao mundo frutos de má índole e sem caráter, mas que algum dia se alegraram ao ver o progresso intelectual e material de suas crias, naturalmente sem prever que se tornariam bandidos de colarinho branco.

Mas chega de falar de coisas negativas. Vejamos quanto de bom nos dão os dirigentes deste país, ou nos permitem com seu aval, por exemplo, o direito de, sendo proprietário de um imóvel que permaneça desocupado, fechado, sem uso, pagar apenas a taxa mínima de consumo de água, energia elétrica e gás encanado. Não é uma camaradagem? Poderia ser pior.

Outra benesse que nos oferecem – seria deselegante recusar – é a possibilidade de, em apenas de três a cinco anos de espera na fila de um tal Sistema de Regulamentação (Sisreg), conseguir uma cirurgia eletiva, ou em apenas quatro a seis meses marcar consulta com um especialista em oncologia, por exemplo. De quatro a seis meses a doença diagnosticada pode evoluir a ponto de tornar-se inútil a consulta.

Outro favorecimento governamental é o 13º salário, concedido há séculos por dirigentes bem intencionados porém mal assessorados. Bem que poderia ser pago em abril ou setembro ao invés de dezembro, mês em que tradicionalmente o consumo de supérfluos faz retornar todo o dinheiro aos sofres de onde saiu.

Ainda de bom nos dão governadores e prefeitos o transporte coletivo confortável e seguro com tarifas acessíveis. Há empresas – nem todas – que acrescentam aos salários o valor das passagens. Esta prática é a garantia de que o empregado não faltará ao trabalho por carência de dinheiro para o trem ou o ônibus.

E o que falar do ensino gratuito? Que dádiva! Com isto o Brasil se iguala, ou se aproxima, das nações desenvolvidas. Às vezes o dinheiro da merenda das crianças é desviado, mas o que tem isso? Bobagem: não tem merenda hoje, mas amanhã poderá ter. Desagradável aí é a repetitiva greve de professores que insistem em receber salários dignos.

Ah, sim, não nos esqueçamos da segurança que a eficiente polícia nos proporciona. Às vezes um tirinho aqui, outro acolá, mas se alguém é ferido os hospitais públicos têm equipes de plantão para sanar o problema. Pode não dar tempo. Fatalidade!

Oh céus! E terras! Como os brasileiros são felizes, graças a seus governantes! Ou não?