Novo ciclo

Os desafios se apresentam de forma constante na vida de todos os seres humanos. A existência neste planeta é inexoravelmente marcada por inúmeros começos e recomeços e, nessas ocasiões, é inevitável que as dificuldades e os reveses façam parte da trajetória humana. Essa constatação, se outros méritos não tiver, terá um que ultrapassa muitas contrariedades: o de demonstrar que todos necessitam de aprimoramento, uma vez que ninguém é perfeito. 

No decorrer da presente reflexão, buscaremos demonstrar que os conteúdos filosófico-espiritualistas não configuram somente um instrumento eficiente na análise de fatos e situações, tendo, portanto, uma face teórica, neutra, abstrata. Defenderemos, antes, que a espiritualidade divulgada pelo Racionalismo Cristão possui relação direta com a vida prática e, nessa perspectiva, pode auxiliar o ser humano de forma eficaz na condução de sua existência, na administração de seus relacionamentos, no cumprimento de seus objetivos e na realização de seus projetos. 

Empenhados em fazer dialogar a experiência espiritualista com os desafios de um mundo que se entreabre em novos ciclos, queremos relembrar que o otimismo da pessoa que aprendeu a enxergar a realidade para além dos impositivos materiais não tem ponto de contato com qualquer tipo de intelectualismo pseudoespiritualista – comumente encontrado nos famosos livros de autoajuda –, que acredita ser possível ultrapassar obstáculos sem empenho, disciplina, força de vontade e determinação.  

As situações se sucedem, muitas vezes, num rito inesperado por nós e, não raro, são até contrárias ao que esperávamos. É nessas ocasiões que devemos intensificar a certeza de que nada ocorre por acaso e que em todos acontecimentos há sempre uma lição a ser aprendida. Ao consolidarmos essa consciência, a serenidade e a paz invadirão nosso ser e a abertura para a espiritualidade nos permite apreender uma sabedoria elevada e sublime por trás de cada momento histórico que atravessamos.  

De maneira coletiva, vivenciamos um novo ciclo de vida, posto que a sociedade foi fortemente abalada e influenciada pelas circunstâncias da pandemia causada pela covid-19. De qualquer forma, a verdade é que não somos mais os mesmos. Tornamo-nos pessoas melhores ou estacionamos em nosso processo de aprimoramento? A chave para essa pergunta tem relação direta com uma virtude: a convicção. Sem ela não conseguiremos avançar com segurança na estrada da vida. 

A convicção é o fundamento da estabilidade emocional e da fortaleza espiritual: cumpre que nos empenhemos em conservá-la e ampliá-la. Por isso, além de conservar e ampliar nossa convicção, devemos protegê-la de tudo que a possa enfraquecer: leituras prejudiciais, conteúdos deprimentes, indisciplina no viver, pensamentos inadequados, medos infundados, entre tantas outras coisas. 

Em uma época de grandes expectativas e dúvidas como sói ser a atual, é preciso muita atenção para não cedermos a nada que diminua nossa certeza de que tudo o que existe concorre para o nosso bem. O mundo é uma escola, não um local para castigos e torturas. 

A transformação interior, em sua paulatina adequação aos valores morais e éticos, é condição essencial para a estruturação de uma personalidade robusta e resiliente que enalteça a constância e a perseverança, pressupostos reais para o cumprimento de metas e a conquista de objetivos renovados e ampliados. 

Devemos nos manter comprometidos com as metas ao longo dos novos ciclos que se nos apresentam à medida que testemunhamos com atitudes concretas nossa vocação à expansão, ao progresso e ao cultivo das virtudes. Esse impulso interno transcende ao horizonte das fórmulas prontas, dos manuais de sucesso, das listas sugestivas de atitudes e dos famosos “passo a passo”, que, direta ou indiretamente, acabam por tolher a criatividade e a autonomia das pessoas. 

Com certeza, inúmeros são os argumentos favoráveis à mudança positiva de perspectivas e ao aperfeiçoamento em sentido espiritual. É certo, porém, que toda análise do tema não se deve distanciar de uma interpretação do autêntico sentido de liberdade. Não há conflitualidade entre liberdade e responsabilidade, e sim uma relação de profunda reciprocidade. Quanto maior a liberdade, maior a responsabilidade. Sem essa consciência, aliás, abre-se caminho para a indecisão e a controvérsia, de modo que não aproveitamos as lições que o futuro nos reserva. 

Se tão irrecusável é a importância da liberdade, não são menos relevantes os elementos que lhe dão suporte, quais sejam: a disciplina, a honra, o trabalho, a sinceridade e sobretudo o conhecimento da espiritualidade. Na verdade, a firme determinação de empenhar-se na obtenção dessas virtudes representa sublime manifestação de racionalidade e inteligência, oriunda da mais profunda aspiração que o ser humano nutre em relação ao transcendente: a espiritualidade, como nos mostra o Racionalismo Cristão. 

Muito Obrigado!