A capacidade de expandir e ampliar conhecimentos e percepções é, de fato, um dos mais destacados objetivos de nossas reflexões. Pode parecer simples a alguns essa afirmação; contudo, ela é muito séria, intensa e profunda. Estamos convencidos de que a maior parte das dores, dramas e decepções vivenciadas pelos seres humanos, em todas as épocas, mas sobretudo na atualidade, tem origem na falta de uma percepção e interpretação espiritualista mais abrangente e integradora acerca dos fatos e fenômenos da vida. Tal se dá com as questões da morte e do luto: para que sejam bem compreendidas, devem ser iluminadas pela espiritualidade defendida pelo Racionalismo Cristão.
A dor da separação causada pela morte de uma pessoa respeitada e amada por nós é, no mais das vezes, imensa e angustiante: cria um vazio existencial no íntimo daqueles que permanecem neste mundo, que só pode ser atenuado pela certeza de que a vida, em que pese passar por inúmeras transformações, jamais tem fim, posto que o espírito é indestrutível e eterno. Na verdade, a convicção da imortalidade do espírito representa um porto seguro, que transforma a dor da solidão em manancial de esperança e amadurecimento espiritual.
A convicção da perenidade da vida a que fizemos referência anteriormente possui estreita ligação com o esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão. Este, com certeza, opõe a magnitude e abrangência da vida às circunstâncias temporais da materialidade, trazendo a lume, portanto, a noção de transitoriedade, que permite ao ser humano ansioso em libertar-se das amarras da materialidade e do sentimentalismo concentrar sua energia e atenção nos fortalecedores e permanentes valores da transcendência.
Há no íntimo de cada pessoa um senso de eternidade. O ser humano é o único, no conjunto dos demais seres deste planeta, que reflete e indaga sobre sua origem, morte e continuidade. Sabemos que a consternação e o desapontamento causados pela experiência da morte, pela separação abrupta de um ente querido, pela extinção de uma amizade que nos é cara são, sem dúvida, enormes e traumáticos. No entanto, a despeito da feição implacável e inalterável da morte, o ser humano continua a nutrir sentimentos em relação aos que partiram, não se conformando, no mais das vezes, com a ideia de que a vida termina com a morte. Tal fato reflete, sem dúvida, a sede de infinito que temos dentro de nós.
A morte é um fenômeno natural e inevitável. Com certeza, faz com que vivenciemos uma realidade irremediável, objetiva e dura, mas também oferece oportunidade para uma reflexão muito relevante: ora, por que o amor sincero que nutrimos por uma pessoa que deixou de existir entre nós não cessa com a sua partida, mas por vezes até aumenta e quase sempre se consolida? Porque, consciente ou inconscientemente, trazemos em nós a certeza de que aquela pessoa, que nos mereceu afeto e consideração, continua a merecê-lo, pois prossegue em sua trajetória e prosseguem igualmente os vínculos que nos uniam a ela.
Não nos parece fácil nem mesmo possível abordar o tema da morte sem mencionar a ideia do luto, que é uma manifestação humana, natural e até mesmo saudável, desde que não extrapole a razoabilidade. O luto se origina da compreensível tristeza que se abate sobre quem vê partir deste mundo uma pessoa estimada. Tem o condão de mostrar a fugacidade e a transitoriedade da matéria, fornecendo para aqueles que aprenderam a enxergar a vida pelo prisma ampliador da espiritualidade uma importante chave de interpretação que conduz à percepção do quanto é insensato o apego ao que é efêmero.
Abordamos nesta reflexão, a partir de uma perspectiva transcendente, o tema da morte, que é uma experiência comum a todos os seres humanos, e do luto, que é um processo natural e até certo ponto saudável. Demonstramos que a convicção na imortalidade da alma, resultado do esclarecimento espiritual que nos proporciona o Racionalismo Cristão, constitui o ponto de apoio para a aceitação da morte como uma circunstância natural, e não como o fim da vida.
Falamos sobre a origem e o sentido do luto, e nesta conclusão queremos suscitar mais uma reflexão sobre esse ponto. Para as famílias e para todos os que se veem premidos por conta da morte, do convívio físico com quem tanto estimavam, queremos dirigir nossa solidariedade e nossa irradiação amiga, dizendo que com o pensamento elevado, com a certeza da continuidade da vida e com a atenção voltada para as inspiradoras recordações dos momentos felizes vivenciados junto aos que partiram, vocês conseguirão superar não a saudade que experimentam, mas a dor que vivenciam, tendo, assim, o ânimo restituído para prosseguir em sua missão de autoaperfeiçoamento. Compreender o luto à luz da espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão é visualizá-lo não apenas como um momento de saudável tristeza, mas sobretudo como um tempo de profundo aprendizado, que harmoniza sentimentos e pacifica emoções.