A simples observação da realidade que a nossa volta permite-nos compreender sem dificuldade que há um dinamismo constante no mundo. Tudo está em movimento, e, por conseguinte, há transformações constantes em todos os níveis. O encadeamento de atos, mudanças e relações que se dá em determinada estrutura pode ser chamado de processo. Assim, temos o processo histórico, judicial, construtivo etc. Procuraremos abordar na presente reflexão uma dimensão do processo que nos é particularmente cara: o processo de amadurecimento espiritual.
O substantivo “processo” é oriundo do latim processus, que significa “ação de adiantar-se”, “movimento para a frente”. Em sentido mais amplo, representa um percurso que permite avançar na direção de um objetivo. Em nosso estudo, sempre tendo como base os ensinamentos do Racionalismo Cristão, pensaremos no processo como um conjunto de fenômenos e situações ligados por relações de causalidade e marcados por uma constante evolução.
Há que ter em mente que o processo analisado à luz da espiritualidade é sempre evolutivo. Contudo, não se apresenta com uma configuração linear, estanque e previsível, pois, tendo-se em conta que os seres humanos são portadores de livre-arbítrio, não se pode falar em uma sequência fixa de eventos, visto que cada atitude particular ou decisão coletiva dá ensejo a uma multiplicidade de novas conexões.
O movimento, que é a marca singular de todo processo, gera efeitos constantemente. No processo de amadurecimento espiritual, as consequências produzidas pelos movimentos são particularmente importantes, repercutindo diretamente na qualidade de vida dos seres humanos. É imperioso que desenvolvamos a consciência de que quando o núcleo de nossas ações é honesto e benfazejo, produzimos movimentos que aceleram nossa caminhada e nos aproximam de nossos legítimos objetivos.
Uma convicção plena se assenta no espírito do estudioso da transcendência quando ele se abre para a vida em sua dimensão mais abrangente. Nessa ocasião, sente ele em seu interior uma forte inclinação no sentido de ampliar seus atributos espirituais por meio do envolvimento responsável com as disciplinas construtivas da vida. Pouco a pouco, percebe que as soluções e definições que outrora buscava exteriormente encontram-se, na verdade, dentro de si. De fato, acha-se inserido em um processo de amadurecimento espiritual, assim como os semelhantes, com o diferencial de que ele tem consciência de tal processo, razão pela qual se sente capaz de assumir o protagonismo da própria vida.
Quando nos dedicamos com método e disciplina a determinado projeto no campo de nossas tarefas profissionais ou das atividades com as quais nos identificamos, alcançando, enfim, o objetivo almejado, vivenciamos um sentimento de grata satisfação. Todavia, tal alegria é um reflexo pálido e longínquo da verdadeira e sólida felicidade gerada pelos frutos colhidos do processo de amadurecimento espiritual, que não exige apenas empenho e esforço para conter os impulsos materiais, mas sobretudo a ampliação da capacidade de amar a si mesmo e ao próximo.
O conceito de processo abordado na presente reflexão e a particular ênfase que demos ao processo de amadurecimento espiritual foram ampliados, como de costume, pela abordagem espiritualista que nos proporcionam os ensinamentos do Racionalismo Cristão. Intencionamos suscitar ao longo do texto a reflexão de que, no campo do processo de desenvolvimento das potencialidades e talentos espirituais, o ser humano não pode ser um espectador passivo, contemplativo e exterior à realidade que o envolve. Os seres humanos devem, com efeito, tornar-se criadores de oportunidades e protagonistas dos processos em que estão inseridos. Não desejamos apenas que as pessoas concordem com o que expomos; queremos que elas ajam em benefício de si próprias e da coletividade. Não tenham dúvida: é sobretudo na atitude consciente – mais do que em sua aceitação e interpretação – que o processo de amadurecimento espiritual se acelera.