Nada se faz falando e, sim, fazendo. É óbvio. A única saída digna é correr atrás. Mas, mesmo sendo jovem de idade, quem já não pensou: “Está tudo errado”?
Conheço alguém, bem novinho, que, depois de uma reviravolta, contou que não sabia o que fazer, nem para onde ir. Mas fez: “Começou a andar a esmo”.
E fez de novo: “Em vez de olhar para baixo, como havia se habituado, Modesto Máximo (esse é o nome dele, personagem lindo de William Joyce) olhou para o alto”. Viu uma moça com um esquadrão de livros voadores. Um deles foi dado de presente para Modesto e o convidou a segui-lo. O livro voador levou o menino a um prédio fantástico, onde a vida de Modesto nunca mais foi a mesma.
Sim. É livro, é imaginação, é personagem, mas pense se também não é assim quando achamos que algo (ou várias coisas) está errado? Não temos que nos mover? Não temos que olhar ao redor, para o alto que seja? Por que mergulhar em depressões?
Uma revista semanal tratou do assunto, em abril, destacando números dos Estados Unidos: o grupo dos 12 aos 25 anos foi o único no qual se registrou aumento dos casos de depressão nos últimos cinco anos. Diz ainda a revista que, no Brasil, estima-se que 10 milhões de meninas e meninos sejam acometidos por ao menos uma crise de depressão ao longo da juventude. Nunca estiveram tão sós, “escondidos atrás dos dois sinaizinhos azuis do WhatsApp”.
Não se trata de banir a tecnologia, até porque ela não é a única vilã. E ela não é vilã o tempo todo. Ambientes hostis em casa e na escola, estresse e ansiedade são outros inimigos. Mas devemos levar em conta que não podemos ser escravos de nada, nem de ninguém. Não podemos fugir ao controle do “eu quero” ou “eu não posso”. Se quer, faça. Se não pode fazer, não faça. Todos sabemos das regras, dos limites, das responsabilidades, das possibilidades… O grupo dos 12 aos 25 já é bem grandinho, guardadas as proporções de cada idade. Se não sabem, vão aprender que tudo que se faz ou não se faz tem consequências para si.
“Acontecia”, por exemplo, “de Modesto se perder dentro de um livro e não ser visto por dias a fio”, mas à noite “Modesto Máximo voltava a escrever seu próprio livro. Escrevia as suas alegrias e tristezas, tudo o que conhecia e todas as suas esperanças”. Porque, verdade seja dita, a esperança é a última que morre. Não a primeira, nem a segunda, nem a terceira…
E viram que ainda há tristezas? Ela só não pode sair do controle, como se mandasse. Quem manda em mim sou eu – frase bem “aborrecente”, não? Mesmo assim, vale para enxotar sentimentos e ações negativos.
Muitos falam na importância do diagnóstico e de admitir ter a depressão. Mas uma vez identificada essa etapa, hora de sair do vazio. Olhar para o alto. Correr atrás. Mover-se. Admitir, isso sim, o valor que temos como filho, filha, irmão, irmã, sobrinho, sobrinha, neto, neta, amigo, amiga, colega, vizinho, vizinha, estudante, leitor, leitora, jogador, jogadora, escritor, escritora, pensador, pensadora… Modestamente, o Máximo.
Persistam.
Vaca não dá leite
Mário Sérgio Cortella, filósofo, escritor, educador, palestrante e professor brasileiro, costumava dizer aos filhos quando crianças: “Quando completarem 12 anos contarei o segredo da vida a vocês.”
Quando o mais velho completou 12 anos, acordou o pai tido ansioso para saber o segredo da vida. O pai disse: “Contarei, mas você não poderá revelar aos seus irmãos. Eis o segredo: vaca não dá leite. Você tem que tirar. Você precisa acordar às 4h da manhã, ir ao pasto, entrar no curral cheio de fezes, amarrar rabo e pernas da vaca, sentar no banquinho e fazer o movimento certo!” Esse é o segredo da vida. Vaca, búfala, cabra não dão leite. Ou você tira ou não tem leite.
Existe um geração que acha que vaca dá leite, ela acha que as coisas são automáticas. Eu quero, eu peço, eu ganho. A felicidade resulta do esforço. A ausência de esforço gera frustração.