A ciência abre caminho no Período Helenístico – 2

Teofrasto (372-288 a.C) filósofo e cientista, nascido na cidade de Eresos, localizada na ilha grega de Lesbos foi discípulo, amigo e sucessor de Aristóteles no Liceu, escola de filosofia e ciências fundada por seu mestre.

Chamava-se, na verdade, Tirtamo. No entanto, ficaria conhecido por Teofrasto, apelido que lhe foi dado por Aristóteles, devido à capacidade oratória de seu discípulo.    

Teofrasto classificou as plantas e os minerais, dando continuidade ao trabalho classificatório realizado por Aristóteles na área da zoologia. No entanto, apesar da amizade que unira Teofrasto ao dileto mestre, “de saudosa memória”, no dizer do discípulo, este não hesitaria em escrever e publicar uma refutação à teoria aristotélica do movimento e da finalidade das coisas. E seria justamente ao refutar o grande Aristóteles, observa um historiador da filosofia, que Teofrasto acabaria preparando as condições para o avanço posterior da física. 

A maioria do longo rol das obras de Teofrasto se perdeu antes de alcançar nossa era. Todavia, de acordo com antigas listas encontradas, a abrangência de seus escritos teria se estendido a todos os campos do conhecimento de sua época. Teofrasto, na opinião de outro especialista, foi um dos autores que contribuíram para o arejamento científico do Período Helenístico, não só em razão da relevância de sua vasta obra, mas também por causa da benéfica influência exercida por seu trabalho de “grande divulgador da ciência”.

Veja-se, abaixo, a pequena relação de escritos que restaram do prolífico Tirtamo, vulgo Teofrasto:   

História da Física; Acerca das pedras; Sobre as sensações; Metafísica, na verdade apenas parte do que seria um tratado sistemático; História das plantas (dez livros); e Sobre as causas das plantas (oito livros). As duas obras que finalizam essa lista constituem, segundo ainda o especialista atrás citado, a mais importante contribuição à ciência botânica durante 17 séculos – vale dizer, do século III a.C. à Renascença.

Galeno. Filósofo, cientista e “mais talentoso e destacado médico investigativo de seu tempo”,  Cláudio Galeno ou Élio Galeno (c. 129-c. 199 d.C), considerado Pai da Anatomia, era natural da cidade grega de Pérgamo. Também aí daria ele início a seus estudos de medicina e filosofia, indo depois concluí-los nas cidades de Esmirna, Corinto e Alexandria.

Galeno foi o principal responsável pelo desenvolvimento da ciência médica em sua época, demonstrando assim ser a pessoa talhada para o feito histórico de dar continuidade ao trabalho de Hipócrates, grande pioneiro da medicina ocidental.

Precedido pela fama. Em 162, então na casa dos 30,  partiu de sua cidade com destino à Roma imperial, mas ao chegar à cidade, de mudança, já a fama de Galeno o tinha precedido lá havia muito. Com sua presença na cidade dos césares, no entanto, se espalharia de tal modo, principalmente depois de ter curado um milionário chamado Eudemo, que logo seria convocado pelo palácio imperial para ser o médico particular do próprio imperador Marco Aurélio.     

Na metrópole então considerada “centro do mundo” e sua segunda pátria, foi-lhe concedida cidadania romana, fixou residência e viveu cerca de três décadas.

De tão concorridas, as conferências do renomado médico, na capital do Império Romano, sobre medicina e higiene, tiveram de passar a ser apresentadas num teatro. Ele chegava a fazer, em suas aulas práticas, vivissecção (dissecação ou operação cirúrgica em animais) e autópsia.

Nada, literalmente nada, o demovia de seu propósito de prosseguir em seus estudos e investigações sobre anatomia, fisiologia, patologia, sintomatologia, terapêutica, cirurgia e farmacologia, tendo sempre em mira, ao  aprofundar seus conhecimentos a respeito desses diversos ramos da medicina, novos avanços e novas descobertas, “fatores indispensáveis ao desenvolvimento de qualquer ciência”. Foi também o primeiro médico a realizar pesquisas fisiológicas e a descobrir que pelas artérias circula sangue e não ar, como até então se acreditava, “descoberta que mudaria o curso da medicina”.   

Galeno foi contemporâneo das disputas de duas facções médicas: a racionalista e a empirista. Baseado nas teorizações e práticas médicas do “Dr. Galeno”, entendia meu antigo professor de filosofia que “o Dr. teria considerado ambas as perspectivas”,

Por volta de 192, já se avizinhando do final da vida, Galeno regressou à cidade natal, onde, ao beirar os 80, morreria. Mas sua  fama sobreviveria à sua morte. Com efeito, suas teorias dominariam e influenciariam a ciência médica ocidental por mais de um milênio — ou seja, no período de quase 11 séculos entre a existência de Galeno e a Renascença, seria ele considerado autoridade maior no assunto.

No entanto, a respeitável quantidade de obras deixadas por Galeno sofreria destino semelhante ao das de outros autores antigos: a maior parte se perderia, restando aos ledores ou estudiosos de hoje meia dúzia de escritos, que citamos abaixo:

Comentários a Hipócrates; Sobre as seitas; Sobre a melhor doutrina; Sobre a medicina empírica; Sobre anatomia (quinze volumes); e Método terapêutico.

Em razão das limitações técnicas daquele período da História, era inevitável que Galeno acabaria cometendo erros, quer ao praticar a medicina, quer ao teorizar sobre essa ciência. Mas isso não desmereceu o que de positivo ele realmente realizou em benefício do desenvolvimento da medicina.