A importância da família

A importância e a primordialidade da família são sublinhadas pela consciência ética. Olhar para a evolução da sociedade e para a beleza das relações harmônicas sem reconhecer o valor da família é, segundo alguns, possível, mas a acuidade desse olhar tende forçosamente a perder-se, a dissipar-se. 

É na família que o ser humano recebe o primeiro sopro de espiritualidade e as primeiras lições de sociabilidade que o marcarão por toda a vida. É nesse ambiente que ele inicia o desenvolvimento de suas potencialidades e começa a conviver com as diferenças de temperamento e pontos de vista. Tais pressupostos demonstram a importância dos relacionamentos, conceito que, em princípio, pode parecer meramente descritivo, mas que, observado mais de perto, significa uma possibilidade concreta de formação de duradouros vínculos positivos e afetuosos que se devem iniciar sempre na família, tendo a confiança e a lealdade como notas principais. 

Em uma sociedade que tende a ser cada vez mais individualista, em que os interesses pessoais costumam sobrepujar os da comunidade, é precisamente na família que os sentimentos de amizade, respeito mútuo e tolerância devem ser estimulados, em um dinamismo permanente de respeito, consideração e amor. No lar, todos devem ser reconhecidos, acolhidos e valorizados, a fim de que, robustecidos por esses sentimentos, tenham condições de enfrentar de pé os vendavais da vida. 

O ser humano esclarecido espiritualmente através do Racionalismo Cristão encontra na família o ambiente propício para a ampliação de seus talentos e faculdades. Por essa razão, deve priorizá-la e valorizá-la sempre e cada vez mais, pois assim procedendo estará se fortalecendo moral e espiritualmente. Logo, esse virtuoso processo de absorção das incontáveis e preciosas lições proporcionadas pela família, por sua complexidade, requer coragem, renúncia e disciplina, faculdades indispensáveis para que o ser vivencie conscientemente a experiência de compartilhamento proporcionada no seio familiar. Ao penetrar no dinamismo da empatia, o ser humano desenvolverá um dos principais e mais relevantes aspectos da moral: a solidariedade. 

Inegavelmente, há desafios no convívio familiar. A eventual imaturidade dos cônjuges, a falta de alteridade de membros do grupo e as multiformes manifestações de individualismo respondem, entre outros empecilhos, pela quebra de harmonia nessa unidade tão fecunda. Entretanto, o monumento da família é – e continuará sendo, na visão filosófico-espiritualista defendida pelo Racionalismo Cristão – o sólido alicerce que sustenta uma sociedade civilizada. O que garante sua inegável supremacia perante as concepções mesquinhas e os convívios interesseiros, lamentavelmente tão comuns na atualidade, são a força incomensurável de sua influência benfazeja na formação ética dos ser humanos e a digna substância que dela emana quando estruturada na moral e no amor.  

Se, por um lado, assiste-se a uma redescoberta e a um aprofundamento sobre as várias possibilidades de formações familiares fundamentadas em sentimentos de caráter nobre, abala-se, por outro, o conteúdo transcendente desses valores quando não há disposição férrea para a contemporização e a composição dos problemas que surgem no convívio cotidiano. 

A união e o benquerer que conciliaram primitivamente os formadores do lar têm de se manifestar na temperança e na tranquilidade com que estes encaram os problemas, pequenos ou grandes, que se lhes apresentam. O ideal de toda família, tal como o progresso moral e intelectual de seus membros, exige que o lar se fundamente e se reja sem o desvio de energia no campo dos dissabores e contrariedades que surgem invariavelmente em todos os lares. A tarefa não é simples; contudo, os integrantes de uma família devem apoiar-se em um referencial autêntico: o amor. Quando se deixam absorver por esse princípio, por esse liame invisível e ao mesmo tempo preciosíssimo, fortalecem-se para o enfrentamento legítimo e inesitante das dificuldades que se interpõem em seu caminho de relações uns para com os outros. 

A família é uma das mais preciosas e elevadas manifestações humanas, pois ilustra a beleza genuína da espiritualidade racionalista cristã e a aquiescência generosa a seus princípios. Seu valor evoca uma beleza transcendente que ilumina a existência. 

Toda família tem necessariamente suas manifestações peculiares, que podem ser verificadas, em certa medida, pela experiência particular. No conjunto dessas inúmeras formas de expressão, há um princípio que, via de regra, as unifica: o amor. Distorceu-se de tal forma seu sentido que, por vezes, trata-se esse sentimento, de maneira equivocada, como um impulso para a satisfação de uma suscetibilidade egocêntrica em cuja órbita não gravitam a renúncia e o desprendimento. Entretanto, não deve ser assim: o amor autêntico a que tivemos a oportunidade de nos referir no desenvolvimento desta reflexão representa entrega e dedicação, abnegação e benevolência. Apoiados nesse ideal de amor, fraternidade e benquerer, pais, mestres e responsáveis cumprirão plenamente suas missões, o que redundará em benefício deles próprios na forma de felicidade e satisfação.  

A história da humanidade é pródiga em exemplos de mães e pais que, reprimindo seus impulsos inadequados, anulando suas tendências egoísticas, cerceando voluntariamente seus lazeres e diversões, bem como suas possibilidades de afirmação e sucesso, e pondo-se sempre física e emocionalmente disponíveis, pavimentaram a estrada reta da felicidade por onde seus filhos puderam transitar com segurança. A estes saudamos com o nosso mais sincero reconhecimento. 

Muito Obrigado!