Antes de darmos continuidade às considerações que vimos fazendo em nossos três últimos artigos sobre a mente humana, vamos agora entender o que é a neurociência, o que ela abrange e qual é o seu papel na área médica.
A neurociência é a parte da ciência médica que estuda e descreve o cérebro e sistema nervoso central do corpo humano. Tais estudos abrangem as suas estruturas, funções, mecanismos bioquímicos, aspectos fisiológicos relacionados ao sistema nervoso. Não se deve confundir a neurociência com a neurologia, essa que, por sua vez, é uma área especializada da Medicina que se refere aos estudos das desordens e doenças do sistema nervoso, envolvendo o diagnóstico e tratamento das condições patológicas dos sistemas nervoso central, periférico e autônomo.
Além disso, os neurocientistas procuram estudar e decifrar de que forma as nossas vivências e experiências, que se alteram com a idade, modificam os circuitos neurais e interferem no desenvolvimento mental. Seu campo de ação é vastíssimo e abrange o estudo da inteligência, do raciocínio, da capacidade de pensar, da capacidade de sentir, da capacidade de sonhar, da capacidade de tomada de decisões, da capacidade de comandar o corpo e, literalmente, todo e qualquer movimento. Estes são os principais aspectos intrinsecamente ligados à neurociência, que, pelo que foi dito, estuda aquilo que é considerado o sistema de maior complexidade no ser humano – o cérebro.
Perspectiva materialista. Apesar de o cérebro e os seus sistemas nervosos serem estudados por áreas tão diversas como as mencionadas, ele é visto pela neurociência sob uma perspectiva puramente unitária e materialista, desprezando-se a dualidade Força-Matéria, conceito filosófico-espiritualista de natureza biunívoca do homem em sua jornada evolutiva por este planeta. Essa outra visão, que não é tão nova assim, encontra respaldo em muitos psicólogos e psiquiatras que admitem como verdade que muitas doenças são de natureza psicossomáticas, isto é, causadas pela mente. Mas nem uma nem outra corrente de pesquisadores e estudiosos conseguiu até hoje definir o que é mente.
Força Inteligente. Depois do que foi por nós exposto nas linhas acima é fácil compreender que tais estudos, apesar de abrangentes e muito importantes para o avanço da Medicina, dizem respeito tão somente à matéria organizada, deixando de fora a Força Inteligente – o espírito e seus atributos. A neurociência, ao explicar a natureza unitária do cérebro-mente ou da mente-cérebro, coloca seu entendimento da seguinte maneira: o cérebro e a mente são vistos de uma perspectiva unitária, pois influenciam ao mesmo tempo ambos os aspectos: de um lado, as doenças mentais têm as suas consequências físicas e, de outro, as doenças físicas provocam alterações em nível emocional no indivíduo. Não definem, porém, o que seja a mente e continuam procurando a mente no cérebro! E, no nosso entendimento espiritual, jamais vão encontrá-la em algum lugar do cérebro e seus sistemas porque a mente não é matéria e sim um processo de transferência de percepções como descrevemos em nossa teoria apresentada no segundo artigo dessa série sobre a mente.
E assim, apesar desse caminhar da carruagem por mais de um século de estudos científicos sobre o cérebro pelos pesquisadores hoje conhecidos como neurocientistas, a Medicina apresenta grandes avanços no conhecimento desse importante órgão que é o cérebro. De outro lado, desde 1910, o espiritualismo desenvolvido pelo mestre Luiz de Mattos e praticado no Racionalismo Cristão vem ensinando e desvendando o que é o homem integral sob o ponto de vista de Força e Matéria, isto é, do corpo e espírito, ensinamento esse que transcende à matéria. Não é à toa que o notável psiquiatra de fama mundial, Brian Weiss, escreveu em um de seus livros: “Nós não somos seres humanos a ter uma experiência espiritual. Somos seres espirituais a ter uma experiência humana”, que é a mesma coisa que disse o teólogo e filósofo Teilhard de Chardin: “Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana”.
Prejuízos à ciência. A neurociência, por adotar uma posição monista-materialista, refuta toda e qualquer teoria da mente baseada em argumentos filosófico-espiritualistas firmados em posições dualistas. Do mesmo modo, rejeita o que é chamado problema da causação mental, por não aceitar a mente como uma entidade separada do cérebro, isto é, não aceita que estados mentais possam causar reações físicas no cérebro, como acreditam os dualistas. Esse fechamento para a fenomenologia invisível, situado fora da matéria, prejudica enormemente os rumos da ciência no seu verdadeiro sentido de conhecer as causações oriundas do lado transcendente da vida, escoimadas, é claro, do misticismo e da pseudociência. O que queremos dizer é que não podemos nem devemos fechar os olhos e separar feitos científicos dos termos e conceitos usados para explicar como a verdade se manifesta. A análise conceitual, proveniente de raciocínios irrefutáveis e consolidados pela lógica, é tão válida quanto as investigações científicas.
A continuar assim, com essa posição monolítica monista, tudo o que a neurociência vai produzir é mapear o cérebro através de técnicas de neuroimagem, como Ressonância Magnética (RM), Tomografia Computadorizada (TC), Tomografia de Emissão de Positrons (PET), Tomografia Funcional por Ressonância Magnética (fMRI) e Tomografia Computadorizada por Emissão de Pósitron Único (SPECT) e relacionar as imagens obtidas com o que a pessoa estava de fato pensando e sentindo, porque são os pensamentos, os sentimentos e as emoções que geram tais imagens, através de sinais físico-químico-elétricos devidamente codificados.
Origem dos pensamentos. Dessa forma, porém, a neurociência não responderá de onde vêm os pensamentos, sentimentos e emoções. Comprovará, como vem comprovando, quais estruturas cerebrais estão relacionadas aos estímulos e percepções produzidos ou recebidos de fora via sentidos físicos. Essa ciência dará respostas às nossas percepções do mundo externo via sentidos físicos interiorizados no cérebro através das circunvoluções neuronais, sinapses etc., devidamente codificadas para o entendimento do que elas representam na vida humana. Não terá condições, porém, de estabelecer e demonstrar o que são, como são produzidos e como se passam os processos mentais que, em nosso entendimento, são biunívocos e bidirecionais, isto é, de fora para dentro e de dentro para fora. Responderá muitas questões sobre as memórias, seu arquivamento e acesso quando delas precisamos, bem como sobre as patologias que se relacionam com os diversos tipos de perda de memória (Alzeimer, memória de curto prazo e memória de longo prazo), mas não dará respostas do que seja a consciência e seu real papel em refrear certos comportamentos humanos.
O que explanamos neste artigo mostra a necessidade imediata de a ciência, no caso o seu ramo mais importante que, na ciência médica é a neurociência, revise e amplie a sua metodologia para reconhecer e abranger o estudo da Força que provém da Inteligência Universal, causa maior e única que rege tudo, absolutamente tudo que existe no Universo.