A população perde, mas quem ganha com a guerra nas cidades?

A segurança na cidade do Rio de Janeiro e Região Metropolitana agoniza, em alguns nichos percebem-se os estertores; a Polícia, se algo faz, o faz de modo errado; suas espetaculares e quase cinematográficas entradas em comunidades pouco resultado apresentam, e uma ou outra vez resultam em prejuízo: policial não pode morrer na mão de bandido, seja traficante, miliciano ou ladrão de galinha. Se entra na favela para prender e apreender armas, munição e drogas, tem que prender e apreender, sem sofrer baixas; que estas se registrem no lado inimigo, entre os que aterrorizam a população pacífica. Se preciso, que se modifiquem leis e regulamentos, para que policial não tenha que justificar por que, no exercício de seu mister, eliminou um marginal.

Sofre a população, bairros inteiros conflagrados com moradores sitiados, tiros dia e noite, batalhas, guerra civil. Surpreende a quantidade de armas e de munição em poder dos meliantes. Quem e o que financiam esse arsenal? Como chega às favelas? Estaria havendo cobertura para o trânsito pelo asfalto? Há que se desconfiar disto e lembrar do dito que já esteve em evidência: pior cego é o que não quer ver.

Este mal-estar domina o país, mas focamos principalmente o Rio de Janeiro porque aqui está a sede mundial do Racionalismo Cristão, de onde emanam ensinamentos e orientações sobre essa filosofia espiritualista. A Razão não pode ficar alheia a esses acontecimentos, principalmente porque, encoberto pelos episódios de violência, deve haver algo de igual ou maior intensidade, ou seja: sustentar as trocas de tiros pode estar rendendo dividendos e debêntures a alguma autoridade ou grupo desonesto.

Antes do desenvolvimento das recentes e avançadas formas de divulgação de propósitos e ideias, o jornal A Razão era o único meio de fazer circular os fundamentos e princípios do Racionalismo Cristão, foi para isso criado, porém sem descuidar do trato das questões políticas e econômicas e do dia a dia do país.

Todo verdadeiro racionalista cristão sabe do peso da pena de Luiz de Mattos, que não contemporizava, não se acanhava frente aos maus dirigentes do país, e os açoitava com palavras duras, baixava-lhes o relho, chamando de crise moral a situação que dominava o Brasil. Era 1916; cento e sete anos depois a denunciada crise moral reaparece (ou se tem mantido por todo esse tempo?) aqui e ali, e A Razão não pode deixar passar a chance e a obrigação de denunciar, e o faz até por respeito aos ideais de seu fundador. Dizia Luiz de Mattos na primeira página da primeira edição de A Razão, sob o título Nossa razão de ser: “Não alimentamos a presunção ou a veleidade de remodelar de um jato, e tão somente com intervenção jornalística, as ruínas que nos cercam. Não.

O que queremos é concorrer com o melhor dos nossos esforços para a regeneração dos costumes, regeneração fora da qual não há salvação possível para o Estado e para o individuo.

A arma predileta de que lançaremos mão para enfrentar e combater situações, como a presente, humilhantes para as nossas tradições, ofensivas para os nossos brios, prejudiciais para o nosso futuro, será a verdade franca, rude, desenvolta. Não temos partidos nem preferências pessoais. Não lisonjeamos classes nem protegeremos seitas.

Criticaremos com independência, com vigor, mas seremos justos e imparciais; daremos a cada um o que lhe pertence.”

Foi para evitar a terrível e ameaçadora crise que A Razão apareceu e quer trabalhar, “oferecendo o seu concurso e o seu auxílio, a sua coadjuvação a todos os homens bem intencionados e de boa vontade no combate aos grandes males que afligem a sociedade brasileira, sedenta de justiça, de direito e de verdade, únicos remédios capazes de curá-la da intoxicação, quase crônica, de iniquidades, violências e mentiras, fornecidas e propinadas pelos maus patriotas, pelos profissionais de política, pelos muitos desprovidos de senso moral que por ali pululam e vicejam.”

Já há algum tempo vimos retomando o rumo que seu criador deu ao A Razão.