Vive-se numa época de apego às fórmulas feitas, ao apelo da propaganda, ao palavrório vazio e sem substância que atendem a interesses subalternos aos quais criaturas se amoldam sem qualquer exame, como uma contingência inapelável na solução dos problemas. Dentro desse esquema, o raciocínio não trabalha, há como que um acomodamento, de vez que não há discordância a coisas que a razão e a moral não justificam.
Os homens giram em torno de interesses, sem olhar consequências, atrelados que estão ao carro das convenções, naquilo que já perdeu o colorido, por não atender a evolução dos tempos, e estar a exigir melhor compreensão. Mas o hábito de repetir fez a natureza humana insensível à boa solução dos problemas: são os mesmos de ontem a tecer a mesma teia, ficando num beco sem saída para tantos desmandos que praticaram, incapazes de uma reformulação em bases concretas, racionais e justas. Não querem verdadeiramente estudar as questões e equacioná-las em termos coerentes, pois se habituaram a enxergá-las com lentes de dupla visão, quando não comportam medidas bilaterais.
Tudo isso, não há dúvida, tem uma razão que é somente conhecida por quem se coloca num ângulo visual receptivo à luz da verdade, muitas vezes ofuscada e truncada por falta de discernimento.
Até quando os homens continuarão agarrados a falsos princípios e a aparência de comediantes? Por que não procuram dissipar as trevas que os envolvem, atidos a mentiras convencionais? Será tão fácil encarar a realidade? Ou melhor, ignorá-la?
É preciso que despertem dessa letargia, enveredem caminho seguro, verdadeiro e insofismável que lhes esclareça a razão e o entendimento, para que não sejam eternos ignorantes da sua própria razão de ser, da sua essência e dos seus deveres neste mundo. Poucos se têm libertado das falsas concepções, dos falsos preconceitos, da falsa moral, por lhes faltar autoridade para reconhecer os próprios erros. Muito se tem ensinado, porém, em bases ocas, falsas, sem substância real, que não oferecem coerência de raciocínio nem estabilidade.
Um dia a luz dos verdadeiros conhecimentos há de chegar a brilhar intensamente para todos, quando não se deixarem arrastar para o campo do materialismo, e se tornem seres conhecedores dos porquês das coisas e vivam racionalmente. Até lá o caminho é áspero e íngreme, eivado de espinhos, mas será transposto pelo combate à ignorância, causa de todos os males que assediam a humanidade. O que nos parece impossível hoje, amanhã será uma nova aurora, que há de tornar o homem consciente e senhor de si mesmo.
Cairá sem dúvida tudo que não tenha apoio na verdade e na ciência, pois a história nos está demonstrando com exemplos a queda daquilo que foi estruturado em bases inseguras e falsas.
Publicado em 20 de março de 1965.