Os dramáticos fatos que tiveram início em 15 de fevereiro, último, na belíssima cidade de Petrópolis, situada na Região Serrana do Rio de Janeiro, causaram intensa perplexidade e consternação no Brasil e em outros países.
Em que pese não ter o Brasil resolvido problemas básicos referentes à infraestrutura – há muito solucionados nos países desenvolvidos –, a solidariedade invulgar de sua população, por meio de uma perseverança igualmente extraordinária, busca preencher as lacunas deixadas pelo poder público, dando a quem necessita valiosa contribuição, manifesta no trabalho voluntário, na organização de campanhas de arrecadação de alimentos etc.
No que se refere aos deslizamentos de terras e aos problemas ambientais ocorridos nos últimos anos em cidades da Região Serrana do Rio de Janeiro, o poder público, por falta de planejamento técnico e racionalidade, permanece historicamente inoperante: ora se apoia em discursos estéreis, sem resultado prático, ora se utiliza de estatísticas confusas na refutação narrativa. Sem estabelecer correspondência com as prementes necessidades da população, acaba por cair no descrédito.
Ressaltamos, desde já, que somos contrários à crítica destrutiva e vazia – pois a combatemos constantemente em nossas palestras e artigos –, contudo não podemos calar-nos diante das evidências.
Já acentuamos diversas vezes que os reveses e as adversidades trazem com eles imensas oportunidades de desenvolvimento espiritual.
Conquanto estejam todos sensibilizados com o sofrimento do valoroso povo petropolitano, emergem ao mesmo tempo na coletividade sentimentos sublimes, que impulsionam a empatia, a solidariedade e o amor ao próximo. Diante das lições de fraternidade trazidas a lume pelas traumáticas circunstâncias da Cidade Imperial, aqueles que imprudentemente insistem em asseverar que não se pode esperar por um futuro melhor ou que o ser humano não tem mais jeito devem rever seu posicionamento, a fim de não mais repetir tais incoerências e inverdades.
Estamos sofrendo, mas sem dúvida também aprendemos e crescemos espiritualmente diante desta tragédia. Todos os setores da sociedade devem conscientizar-se (e já não é sem tempo) de que os problemas ambientais e habitacionais – graves e complexos – exigem para sua solução o desenvolvimento de uma visão abrangente, que transcenda os interesses imediatos e pessoais. Falamos da visão espiritualista proposta pelo Racionalismo Cristão.
As incontáveis demonstrações de amor ao próximo e de consideração para com as vítimas de Petrópolis vieram deitar por terra a falaciosa ideia de que o materialismo e a indiferença dominam de modo absoluto o mundo contemporâneo. Ora, se o egoísmo, a inveja e a competitividade fossem, como sustentam os pessimistas, os motores principais de toda atividade humana, a solidariedade e a abnegação não se fariam tão presentes e vigorosas como felizmente observamos.
Às famílias enlutadas manifestamos nossos sinceros sentimentos. Queremos que saibam que não estão sozinhas. Contem sempre com nossa irradiação fraterna e fortalecedora.
Amigos, quando, mesmo nos momentos de extrema dor e desolação, surpreendidos por uma profunda lassidão, nos mantemos confiantes e conscientes da transitoriedade da vida, amadurecemos e nos fortalecemos espiritualmente, não só para benefício próprio, mas também daqueles que conosco convivem e sobretudo daqueles que não estão presentes fisicamente, mas continuam ligados a nós pelos vínculos do amor e da consideração.