O Brasil foi abalado nos primeiros dias de setembro pela perda de um patrimônio que certamente jamais será recuperado, porque já não se trata de investimentos ou falta destes, os aportes tão reclamados ao longo de anos, mas sonegados e desviados para locais e atividades mais apropriados e necessitados, no entendimento de governantes e gerentes das verbas públicas. Os danos causados pelo incêndio do Museu Nacional afetaram a comunidade científica mundial, que, com pesquisadores e estudantes de todo o país, se ressente da perda de tão importante acervo.
Logo após consumada a catástrofe, autoridades dos três níveis de governo apressaram-se em apresentar explicações e, como é de praxe, esquivar-se de responsabilidades na tragédia anunciada. De repente alguém que se mantinha omisso surgiu e lembrou a finalidade da Lei Rouanet. Por que não foi lembrada antes? Agora chove dinheiro. Até do exterior. Diria o bom Camões: “Inês é morta”. Não será demais dizer que precioso ramo da cultura pátria foi decapitado, como Inês, não em consequência de uma trama palaciana, como aconteceu a ela, mas pelo descaso igualmente palaciano.
Venha pela Lei Rouanet ou por qualquer outro canal, a verba será realmente muito útil para restaurar o majestoso prédio, mas as preciosidades científicas que ele abrigava, o acervo do museu, este jamais será recuperado. Espera-se que o trágico episódio sirva de ponto de partida para uma política de preservação e respeito à cultura nacional, com os cuidados necessários aos demais museus e prédios históricos, todos carentes de atenção, principalmente os tombados, antes que tombem por força de chuvas, incêndio, ventos ou dilaceração e esfacelamento da alvenaria. A natureza e seus elementos cobram dos homens cuidado com suas realizações.
Não estranhe o leitor que A Razão venha agora tratar de um episódio ocorrido há tanto tempo. Isto acontece por se tratar esta folha de um mensário. Quando ocorreu o desastre já a edição de setembro estava circulando. Apesar disso, porém, não poderia deixar de manifestar sua dor pela perda, juntando-a à de todos os brasileiros, e seu protesto pelo desprezo com que os bens culturais deste país são tratados por seus dirigentes, ineptos por ignorância ou por opção.
Propaganda eleitoral 2018
Meninos, eu vi. Não duvidem. (Em memória de Gonçalves Dias, no poema I Juca-Pirama). Em meio a mentiras inteiras, meias verdades, promessas “incumpríveis”, conversa fiada, lorotas e sandices vocabulares e gramaticais, um episódio se destacou na propaganda eleitoral obrigatória (gratuita, para os partidos e candidatos, mas que alguém está pagando, ou vai pagar). Um candidato lamentava: “Metade dos jovens abandonam a escola no ensino médio”. Não se assuma o disparate que a metade pode ser mais de um nem se apele para a silepse.. O que determina a forma verbal (sujeito) é metade. É doloroso ver na telinha tal absurdo em letras garrafais. Vem daí a pergunta: que educação/instrução pretendia oferecer esse candidato às crianças e jovens do país?