A espontaneidade e a beleza do enunciado “Ao encontro da espiritualidade” suscita um sublime sentimento e, ao mesmo tempo, um profundo interesse. Não se trata, porém, de uma ideia permeada de inebriante romantismo envolta num misticismo sedutor, mas da representação do ideal de vida da pessoa que busca conhecer-se melhor para ampliar seus talentos e faculdades em benefício próprio e coletivo.
A espiritualidade compõe nossa própria estrutura, uma vez que somos constituídos de espírito, corpo fluídico e corpo físico, como afirma o Racionalismo Cristão. Ora, tal realidade nos impele a contemplar o mundo que nos cerca por uma perspectiva abrangente e integradora. Essa disposição tão elevada nos abre novos horizontes e nos convida a abraçar nossa vocação espiritual de aperfeiçoamento e amor ao próximo. Procuraremos demonstrar, nesta breve reflexão, a extraordinária grandeza que há em nos movermos na direção da espiritualidade.
O conceito de “espiritualidade” sintetiza de maneira admirável o próprio entendimento de unidade, conexão e interdependência entre os seres. Do ponto de vista da espiritualidade, ninguém está sozinho. Todos integramos uma mesma e única família. Apoiados nessa constatação, somos capazes de expandi-la para nossa realidade particular, compreendendo que devemos não somente buscar a autopreservação diante de situações adversas, impróprias e inadequadas, mas também nos esforçar para estimular revisões de conceitos a partir de nossa conduta. Não menos importante é o propósito de diminuir em nossos semelhantes a tensão entre a sensibilidade e o ambiente, orientando-os sobre a relação direta entre os pensamentos e a saúde psíquica.
O encontro com a espiritualidade representa para o ser humano um processo de desenvolvimento interno que repercute de forma integral em todo seu ser. Os seres humanos possuem inegavelmente uma propensão à transcendência. Quando desenvolvem sua espiritualidade, desenvolvem-se de forma integral e, como consequência, seus pensamentos se refinam e seus sentimentos se purificam. Elevados por suas atitudes, tornam-se plenos e realizados. Quem se dedica ao cultivo das virtudes, isto é, à espiritualidade, torna-se mais leve, mais solidário, mais humano, de modo que seus relacionamentos se mostram mais qualificados e duradouros.
A espiritualidade confere ao convívio social uma particular dignidade, que nos permite considerá-lo como um importante veículo que enseja a ampliação de talentos e faculdades espirituais. Com certeza, todo convívio harmônico e sincero, profícuo e exitoso exige a aquiescência a um comportamento lastreado pela moral, que, considerada em si mesma, pode ser definida, sinteticamente, como um dispositivo poderoso, fecundo e inigualável para a prática efetiva do bem. Eis o sentido abrangente e autêntico da moral. Faz-se necessário resgatá-lo, a fim de que esta não se reduza a uma ciência normativa da vida em sociedade.
É um postulado inderrogável da espiritualidade a busca da vivência fraterna e igualitária. Essa consciência é capaz de estimular os ânimos e atirá-los à ação concreta, arrojada e benfazeja, ensejando o desenvolvimento dos mecanismos psíquicos que resistirão às eventuais influências deletérias dos ambientes hostis e conturbados.
A vivência cotidiana dos valores da ética e da moral, corolário do encontro com a espiritualidade, mostra-se um caminho consistente, permitindo à pessoa, independentemente das circunstâncias materiais, uma apreensão abrangente da realidade, no sentido de buscar a razão de ser dos fatos, de ir à raiz dos acontecimentos e à causa dos fenômenos. Importa nesse processo de autoconhecimento não a crítica vazia de sentido, mas a autoanálise e a introspecção, visando a promoção de mudanças e transformações positivas. A espiritualidade não é apenas um conjunto de conhecimentos reunidos em torno de uma estrutura de caráter abstrato, mas uma força viva, que exige, como tal, intencionalidade (projetos), mobilização (ação concreta) e, acima de tudo, empenho na construção de uma sociedade melhor para todos.
Devemos nos envolver com a transcendência e nos deixar penetrar por ela de maneira integral. Nossos pensamentos e aspirações, sentimentos e vontades devem exprimir gentileza, harmonia e paz; nossa conduta deve ser emoldurada pelas inefáveis virtudes do amor ao trabalho e ao estudo, além da prática constante e desinteressada do bem com vistas à ampliação de nossa capacidade de amar e auxiliar, como nos enfatiza o Racionalismo Cristão.
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