Apego, desapego e desprendimento

Essas três palavras –apego, desapego e desprendimento –têm muito a ver uma com as outras já que estão intimamente correlacionadas. Vamos conceitualizar cada uma delas recorrendo aos dicionários antes de passarmos à sua contextualização.

Apego é uma ligação afetuosa, afeição, interesse exagerado, dedicação constante e excessiva a pessoas, ideias ou a coisas e objetos. Desapego é o contrário de apego e tem o significado de desinteresse, desamor, indiferença por alguém ou pelas coisas, ideias e objetos. Desprendimento tem o significado de isenção, abnegação, altruísmo, modéstia, desambição, moderação exagerada e largueza de espírito.

 

O apego

Primeiramente, vamos abordar o apego. Este sentimento acomete as pessoas que têm ligação muito forte às ideias, situações, pessoas e coisas de sua realidade material. É uma característica que pode tornar-se muito prejudicial para a nossa saúde mental e emocional. E por que isso acontece? Isso acontece porque a ambição pelos bens materiais e o afeto doentio pelas pessoas, quando praticados de forma exagerada, nos mantêm presos e reféns da situação criada por nós mesmos. Sendo assim, o ideal seria sempre estarmos preparados para aceitar que possíveis e súbitas transformações sejam induzidas por nós mesmos ou por terceiros em nosso dia a dia. A dinâmica da vida é perpassada por mudanças; nada é estacionário, lembrando aqui a frase de Maria Cottas “na vida tudo passa”. É o que acontece com pessoas apegadas, incapazes de enfrentar com naturalidade uma perda de emprego, a mudança de uma casa, o término de um relacionamento e até mesmo de aceitar a morte de um ente querido. Essas pessoas têm dificuldades de enfrentar essas mudanças, encarar as decepções e ilusões do mundo Terra e partir de peito aberto para outras situações que vão requerer grande esforço de adaptação de sua parte, porque elas geram sofrimentos. Elas precisam encontrar maneiras de encarar as decepções e continuar suas vidas da melhor forma possível. Elas precisam trabalhar o sentimento de aceitação das mudanças.

 

O desapego

Para praticar o desapego, precisamos compreender que a liberdade é a forma mais ampla, plena, íntegra e saudável de aproveitar a vida em toda a sua extensão e complexidade. Contudo, ser livre não nos impede de criar e manter vínculos com outras pessoas, seja na forma de amizade, seja através do amor. Esses nobres sentimentos só nos fazem crescer espiritualmente, mas quando os conflitos aparecem e se tornam insolúveis, devemos compreender que chegou a hora de aceitar e promover mudanças. Devemos lembrar sempre que ninguém é de ninguém, não possuímos ninguém nem ninguém nos possui. E isso é mais válido ainda quando chega a hora de desfazer os afetos. Ressignificar nossas vidas, ainda que nos cause muito sofrimento, deve ser um caminho que esteja sempre aberto para não nos deixarmos vitimar.

Quanto ao apego material, nós temos o hábito de acumular coisas e objetos que não nos servem mais, pensando que em algum momento eles poderão nos fazer falta. Para desfazer-se dessas coisas, é preciso ter desapego material para não deixar sua casa transformar-se numa verdadeira bagunça. É isso que acontece com roupas, sapatos, livros e outras tralhas. Para nos livrarmos dessas “coisas” que não voltaremos a usar, torna-se necessário doá-las a pessoas que possam estar precisando delas e só em última instância jogá-las no lixo.

A verdade é que, muito provavelmente, você não voltará a usar nada daquilo e que você nem venha precisar daquelas coisas. Por isso, nesse artigo você aprende a se livrar do desnecessário para viver mais leve e praticar todos os dias o desapego material.

Para entendermos melhor como opera o desapego, precisamos fazer uma abordagem de nossas emoções e como elas são deflagradas nos momentos de desequilíbrio psíquico de forma quase inconsciente. Precisamos, também, conhecer o que é o sentido de sobrevivência, de segurança, dos afetos e desafetos e, bem assim, de como opera o nosso inconsciente.

 

O desprendimento

Atentemos ao significado da palavra desprendimento: desprender-se, como a própria palavra indica, é não estar preso a algo ou a coisa alguma, é estar livre, liberto daquilo a que se deixara prender por algum tempo. Com esse modo de ver, podemos argumentar que as pessoas estão sempre à procura de segurança, mas esta não é e nunca será definitiva, mas sim efêmera, temporária, passageira.

Para entendermos como funciona o desprendimento é necessário fazer uma abordagem que nos conduza a um melhor conhecimento de nossos atributos espirituais como o discernimento, a razão e a lógica, bem como conhecermos as complexas ligações neuronais do cérebro associadas à percepção de nossa consciência.

Para praticarmos o exercício do desprendimento, precisamos nos socorrer da razão e nos convencermos de que as situações que foram boas para nós em determinados momentos já não são tão satisfatórias como foram no passado e termos força de vontade para superarmos esse vínculo. Isso vai convencer-nos de que podemos vivenciar coisas e situações melhores e sair de nossa zona de conforto atual. Devemos observar que nossos interesses se modificam com o tempo e, por isso mesmo, deixar para trás tudo aquilo que entulha nossa mente.

As pessoas espiritualizadas já aprenderam a sair do aprisionamento do apego, pois sabem muito bem que toda matéria sob todas as formas desse nosso mundo Terra a ela pertence e nela permanecerá subordinada às transformações que as leis naturais do Universo lhe impõem. Aprenderam, também, que os valores representados pelos atributos do espírito não pertencem à Terra e sim ao espírito e com ele retornarão para o local de onde vieram, seu mundo de origem ou de estágio. Então, para que se prender aos valores materiais? É necessário, sim, tirar deles o melhor proveito em benefício de nossa evolução enquanto encarnados estivermos, mas nada de ostentarmos ambições exageradas que só nos prendem ao que é efêmero, prejudicando a nossa evolução, único motivo para aqui estarmos.

Pelo que aqui foi exposto, verifica-se que é muito mais difícil praticar o desapego do que o desprendimento, já que a espiritualização no mundo Terra está, ainda, muito aquém do desejado e as emoções sabidamente negativas preponderam o tempo todo. E isso explica, também, por que ainda existe tanto sofrimento no mundo devido à falta de desprendimento.