É um jogo, rolam no pano verde os cubos exibindo em cada face uma cara, ora jovial, ora carrancuda; em cada uma verdade ou uma mentira, quem sabe? Querem o seu voto. Elas não o conhecem e você jamais as viu ao vivo, mas elas insistem, prometem, oferecem, se abaixam e se rebaixam. Vale tudo para lhe tomar a arma que você julga ser a única de que dispõe. Os donos daquelas caras, porém, sabem que não é. Houve tempo em que era moda afirmar que “ninguém sabe o mal que se esconde no coração dos homens.” Política ou espiritualmente errada, não importa, a mensagem levava a reflexões: “o que ele verdadeiramente quis dizer com tais palavras? O que realmente pretendia ao adotar esta o aquela atitude? Como pôde prometer o que não está na sua competência oferecer?” Pois é, ninguém sabe… Esta situação até pode estimular o jogador: ele não sabe quem vai ganhar, mas também não sabe em quem está apostando.
As eleições estão aí. Serão escolhidos presidente da República, governadores, deputados federais e estaduais. Os dois primeiros cargos levam os vices como penduricalhos: escolher um implica aceitar o outro. Sem direito a opção.
Esteja atento. Não vote para agradar o colega ou a mulher dele, não vote no cretino que garantiu, se eleito, inseri-lo numa das boquinhas, fuja do espertalhão que prometer elevar astronomicamente o salário mínimo ou seus ganhos de aposentadoria ou pensão, Ele mente, esse tipo de favorecimento não está guardado numa pena à espera de alguém que lhe dê vida, isso depende de um conjunto de providências, conformações contábeis e atuariais.
Vote mal, mas vote conforme suas convicções, conforme sua consciência. Ao ouvir o irritante plimplimplim indicando que seu tempo terminou e você sair de trás do biombo onde esteve a sós com a máquina, sabendo que nos algarismos que você digitou poderia estar o futuro de seu país ou de seu estado, sinta-se feliz, sinta-se um cidadão realizado que possa pronunciar aquele ditado quedado em desuso: “Cumpri meu dever cívico com dignidade”. Hoje se diz cidadania. Se um fulaninho qualquer, um ladrão em potencial ou escolado cuja intenção é valer-se do cargo para locupletar-se sair vencedor nestas eleições, não terá sido por minha culpa, terei quatro ou oito anos para lamentar. Da mesma forma, se meu candidato vencer e não tiver o comportamento que espero dele, se a pessoa a quem entreguei meu futuro, o de minha família e o do país ou estado enfiar os pés pelas mãos, serão mais quatro ou oito anos de choros e lamúrias.”
Repetimos: não tema votar mal, mas siga sua consciência. Em caso de dúvida até o último momento, não hesite, não se envergonhe de anular o voto. É um direito seu. Você terá cumprido a esdrúxula obrigação que lhe impõem, sem ter que se tornar um microparafuso da espúria máquina a que fomos agregados desde os idos de 1960, quando se elegeu um homem que sete meses após a posse renunciou e deu origem à mais violenta e vergonhosa crise institucional neste país. Jamais, sob qualquer pretexto ou justificativa, vote em branco, porque você não sabe a quem seu voto estará beneficiando, e esse beneficiário pode não merecer nem seu voto, nem sua consideração, nem seu respeito.