As acusações injustas, proferidas por quem não admite a felicidade e o sucesso alheios e mesmo a exteriorização de conceitos divergentes a suas próprias premissas e experiências, causam um impacto muito negativo nas pessoas sensíveis, que, por seu turno, têm dificuldade em compreender tais expressões de mesquinhez e de maldade, bem como em blindar-se psiquicamente dos efeitos torturantes de tais desatinos – proteção que só se consegue por meio do pensamento positivo e do esclarecimento espiritual. Trataremos no presente artigo do desafiador tema das ofensas, que tantas vezes desestabilizam e enfraquecem, dos pontos de vista moral e espiritual, as pessoas e as famílias.
A calúnia, a difamação e a injúria, atordoantes delitos contra a honra dos seres humanos, perpassam a história das relações sociais, podendo atingir qualquer pessoa, independentemente das particularidades inerentes aos meios sociais em que elas vivam. Com efeito, não apenas nos setores em que a alegada falta de oportunidades de desenvolvimento intelectual promove a limitação das análises, mas também nos campos mais desenvolvidos do pensamento humano e da cultura – de onde se espera maior reflexão e responsabilidade –, surgem amiúde injustiças e acusações falsas, que buscam tirar a credibilidade de pessoas junto à coletividade, afetando-lhes a autoestima e o equilíbrio emocional.
Amadurecimento espiritual. A experiência da incompreensão, em que pese a dor causada, fornece ao ser humano uma enorme oportunidade de amadurecimento espiritual. Os ataques injustos e abomináveis, quando encarados com altivez e racionalidade, promovem um desenvolvimento espiritual de alta significação. Todos os grandes espíritos, mormente aqueles que nos servem de inspiração e modelo, foram vítimas das maiores injustiças, mas, apesar disso, superaram tudo com a força moral que desenvolveram e com a exteriorização de uma conduta exemplar, capaz de calar as múltiplas vozes da ignorância e da inveja.
O esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão, que alarga os horizontes existenciais e fortalece o espírito e o corpo físico, enseja que o ser humano supere acusações infundadas empunhando com valor o escudo formado por seus atributos espirituais. A pessoa lúcida e moralmente bem formada aceita o confronto somente quando estão em causa o bem-estar de seu semelhante ou a legitimidade de suas convicções. Sensível à moderação, busca o tempo todo, com inteligência e racionalidade, as melhores soluções e contemporizações. Segue sempre adiante, corajosa e de cabeça erguida, pela senda do autoaperfeiçoamento, à revelia dos invejosos e caluniadores.
Não haja receio de que as especulações – mais ou menos vagas, mais ou menos lícitas – que se podem formular acerca de uma pessoa de bem por indivíduos maldosos, invejosos ou desconhecedores da verdade lhe possam trazer aborrecimentos ou desgastes intensos e doentios. O ser humano de bem, ou seja, esclarecido espiritualmente, que tem domínio sobre os pensamentos que emite, aprendeu a envergar adequadamente as armas do raciocínio e da inteligência exigidas em situações desagradáveis. Tanto a infantilidade como a superficialidade – ou mesmo a maldade – de determinadas condutas, na visão do autêntico racionalista cristão, devem ser respondidas com indiferença e, se a situação o exigir, com racional desconsideração.
Motivos das acusações. Quem toma a imprudente decisão de expor juízos malfazejos acerca do semelhante o faz por uma gama de motivos, que varia da maldade gratuita à ignorância acerca dos valores transcendentes da vida, podendo passar por eventuais interesses escusos contrariados. Quem assim procede permite que ecoem dentro de si os ruídos dissonantes da maldade, que perturba e aniquila a paz interior no contexto de um redemoinho sentimental capaz de depauperar as mais vivas energias.
O que lucra uma pessoa que fala mal do próximo ou deturpa a imagem alheia? Nada. Antes, recolhe tremenda dívida espiritual e muitas vezes material, que terá de adimplir quer hoje, quer amanhã, visto que toda causa produz inexoravelmente um efeito.
Fatos desairosos não devem ser valorizados, e sim desqualificados e menosprezados. Opiniões e conceitos genéricos, interpenetrados por conteúdos ofensivos, ainda que não se dirijam a uma pessoa em particular, devem ser rechaçados pelo ser humano espiritualmente esclarecido, que jamais se associa mentalmente a tais correntes deletérias de pensamentos.
Queremos afirmar que, para a configuração de uma atitude de preservação em relação à maledicência, entendemos que devem estar presentes na mente da pessoa, simultaneamente, (i) a consciência de que a lucidez espiritual refletida na emissão de valorosos pensamentos é a maior arma que a pessoa porta frente às investidas malfazejas; (ii) a certeza de que todas as situações da vida são transitórias e de que a cada desafio superado o ser humano amplia e enriquece seu acervo espiritual; e (iii) a convicção de que tudo, em última análise, promove o bem e o aprimoramento do espírito. Sigamos, portanto, firmes em nossos princípios, com a atenção voltada para o desenvolvimento espiritual, jamais nos permitindo abalar pela hostilidade alheia.