Atitude de preservação em relação à maledicência – III

As sanções legais são suficientes para bloquear o impulso à maledicência? Não: o esclarecimento espiritual é o único caminho.

É inadequado imaginar que, por meio do estabelecimento de penas, sanções, multas ou coisa semelhante, pessoas deixarão de falar mal umas das outras, de criar narrativas falsas a respeito de quem invejam, de desacreditar e insultar publicamente desafetos, de macular a reputação alheia e de projetar no próximo as sombras que lhes obscurecem a inteligência e lhes empanam a razão.

Efeito das penalidades. Nada obstante à penalização de condutas criminosas, como a calúnia, a difamação e a injúria, e a desestimular e reprimir tais práticas. Não se pode negar que os elementos interiores e subjetivos, quais sejam o sentimento negativo, o preconceito e o pensamento deletério, aninhados pelo maledicente permanecem não raro inalterados mesmo diante de eventuais admoestações e punições.

As normas, regras de convivência e leis, quando muito, desencorajam e punem a exteriorização da maledicência em suas manifestações mais graves. Agem, por assim dizer, sobre as consequências do ato. Contudo, no que tange às causas do problema, há que se afirmar que as raízes da maledicência somente são extirpadas da mente do ser humano quando este se esclarece espiritualmente, ampliando seu horizonte espiritual e sua percepção de mundo. Eis a conclusão desde já enunciada neste terceiro e último artigo da série sobre o tema da maledicência.

Essa conclusão, prezado leitor, estimada leitora, encontra fundamento na observação ampliada da realidade circundante e, sobretudo, na interpretação de princípios filosófico-espiritualistas de alto valor ético, como são os propostos pelo Racionalismo Cristão, esta filosofia de vida.

Ora, se a maledicência em todos os níveis de exteriorização é impulsionada basicamente pelo desconhecimento da espiritualidade, pela necessidade de diminuir o outro para compensar a baixa autoestima, pela inveja, pela ganância, pela sede de poder e até mesmo pela atenção que se pretende chamar para si, em uma demonstração de total imaturidade, é lógico afirmar – reiteramos – que o esclarecimento espiritual, fonte de empatia e sinceridade, fraternidade e respeito, é o antídoto eficaz contra a maledicência.

Há quem advogue a tese de que as facilidades tecnológicas (a internet, as mídias digitais, a velocidade com que se disseminam fake news etc.) que assinalam o atual momento histórico são a principal causa da expansão da maledicência e dos delitos contra a honra nos dias que correm. Tal posição, todavia, carece de razoabilidade, pois o desenvolvimento tecnológico não é a causa de nada, mas efeito da evolução da inteligência e da criatividade, entre outros atributos espirituais inerentes aos seres humanos. Nessa perspectiva, o desenvolvimento tecnológico, como instrumento ou efeito, pode ser utilizado para a elevação de uma pessoa ou para sua ruína moral.

Barreiras à maledicência. O empenho em alcançar a lucidez espiritual, traduzido pela conduta honesta e pela capacidade de vibrar vigorosamente pensamentos positivos e elevados, cria, por assim dizer, uma barreira intransponível, que impede a um só tempo i) que a pessoa pratique a maledicência e ii) que se perturbe psiquicamente com suas consequências, caso seja alvo da inveja e maldade alheias.

O esclarecimento espiritual fomenta a sinceridade e os bons comportamentos, enseja a respeitabilidade no meio social e dissolve os impulsos negativos, impedindo as más posturas e preservando a pessoa de experiências negativas e desgastantes.

Sem dúvida, incentivar o conhecimento transcendente da vida, a ampliação de perspectivas e o autoconhecimento – pilares do esclarecimento espiritual – representa um ato de amor ao próximo e uma solução indispensável e de largo alcance para os problemas contemporâneos que desorganizam psiquicamente a sociedade e contra os quais, historicamente, este veículo levanta sua voz.