Há não muito tempo refletimos sobre a necessidade de que o ser humano se empenhe em estabelecer com os semelhantes um convívio harmônico e respeitoso. De fato, aprender a conviver com todos, sem apontar falhas ou defeitos, mas respeitando ideias e modos de ser, é o meio mais eficaz para que a pessoa amplie e desenvolva seus atributos espirituais e, por conseguinte, seu caráter. No presente artigo, procuraremos consolidar conceitos e analisaremos de maneira pormenorizada as atitudes que objetivamente facilitam a convivência pacífica.
A família é o espaço em que se inicia o mais importante e destacado relacionamento social. Por essa razão, deve ser sempre respeitada, amada e valorizada. É no lar bem estruturado – verdadeira escola de ética e de espiritualidade, como nos ensina o Racionalismo Cristão –, no convívio com os seus que o ser humano aprende sobre as diferenças, a ouvir e a compreender, a pedir desculpas e a desculpar, a amar e a ser amado. A maneira como a pessoa se comporta na sociedade é, em grande medida, reflexo de sua conduta em casa. Nesse sentido, os valores que ensejam a convivência pacífica no meio social devem, preferencialmente, ser ensinados e estimulados no seio familiar. Sempre ouvimos de nossos mestres e repetimos aqui convictamente: educação, cortesia e civilidade aprendem-se em casa e se exercitam nela e fora dela.
Respeito mútuo. A atitude respeitosa é o fundamento e o fio condutor da convivência pacífica. O respeito se manifesta por meio de palavras e atos; sem ele, as relações tornam-se instáveis, tóxicas e ásperas. Para respeitar o semelhante, é imperativo respeitar-se a si mesmo em primeiro lugar. O autêntico respeito representa uma atitude tão grandiosa que seus efeitos ultrapassam a esfera particular e se expandem no campo das relações interpessoais. No contexto de nosso estudos filosófico-espiritualistas, respeitar o próximo é mais do que tratá-lo com consideração e civilidade: é preocupar-se realmente com seu bem-estar e com sua felicidade.
A cordialidade gera inúmeras possibilidades, proporcionando oportunidades e dissolvendo, quase sempre, a má vontade alheia. Promove a compreensão, a lealdade e a cooperação. Tem relação direta com a alegria, visto que é acompanhada, no mais das vezes, de um sorriso sincero e oportuno, que desarma contrariedades e abre portas para o diálogo fraterno, que pode ser – ninguém duvide – o início de uma amizade verdadeira. A complexidade de certas relações é capaz de dificultar o exercício da cordialidade, mas nem por isso ela deixa de ser essencial.
A compreensão ampliada da vida, consequência do esclarecimento espiritual que nos proporciona o Racionalismo Cristão, permite olhar o próximo com uma dose sempre crescente de otimismo e boa vontade, uma vez que a lucidez espiritualista informa que todos os seres humanos estão imersos em um processo de aprimoramento ético e moral marcado por um mecanismo de erros e acertos. Compreendendo mais e julgando menos o próximo, a pessoa se põe em condições de criar vínculos de amizade e benquerença nos ambientes em que transita.
Reciprocidade. Identificar-se com os princípios espiritualistas do amor ao próximo e da fraternidade e vivenciá-los cotidianamente não é fácil tarefa, mas também não é das mais complexas se racionalmente o ser humano se valer daquela regra de ouro que informa que não se deve fazer aos outros o que não gostaríamos que fizessem a nós. Ora, quem quer ser respeitado respeita. Quem quer ser desculpado quando falha deixe de ser tão severo diante dos equívocos alheios. Assim, a reciprocidade está fundamentada na razoabilidade, constituindo, sem dúvida, um dos principais fundamentos da convivência pacífica.
Buscou-se formular ao longo deste artigo um conjunto de atitudes benfazejas que promovem a coexistência harmônica e pacífica entre os seres humanos. Não há, entre as atitudes aqui apontadas, qualquer traço divisório que as distinga uma das outras, uma vez que elas têm em comum uma essência sublime e transcendente. Respeito mútuo, cordialidade, compreensão ampliada da vida e reciprocidade para além de atitudes benéficas representam virtudes de valor inestimável, que permitem ao ser humano vencer tudo que dificulta não apenas a boa convivência, mas o fluxo das melhores intuições e inspirações. Por essa razão, impregnemos nossas ações de respeito, cortesia, lucidez e empatia, pois assim semearemos benquerer e amizade no campo de nossa vida e na vida daqueles com que convivemos.