Como exercitar a empatia e entender que o outro é como nós?

Esse tema nos convida a uma importante reflexão acerca do nobre sentimento da empatia, tantas vezes esquecido e desprezado na sociedade moderna, a qual, interpenetrada por ideologias materialistas e individualistas, pretende, muitas vezes, fazer do ser humano uma ilha, em flagrante desrespeito à sua própria natureza. 

Não obstante a acentuada tendência ao egoísmo e à anulação do outro em sua alteridade, é imperioso sublinhar que a vida em sociedade oferece preciosas oportunidades de aperfeiçoamento e expansão das faculdades e atributos espirituais. Na verdade, toda vivência genuinamente verdadeira, alicerçada em positividade e fraternidade, busca, por si mesma, comunicar-se e ampliar-se de maneira espontânea e sincera, escoimada de interesses mesquinhos ou de preconceitos tolos. 

Auxiliar na compreensão de que os seres humanos são iguais em essência e oferecer diretrizes para o exercício consciente da empatia é nossa finalidade. 

Não basta conhecer ou reconhecer a importância da empatia para praticá-la. Conhecê-la, contudo, é para isso condição indispensável. Logo, a noção espiritualista de empatia enseja duas acepções – uma subjetiva, outra objetiva –comunicáveis entre si. A empatia subjetiva traduz o estado psíquico de solidariedade frente a determinada situação de sofrimento humano; é a comoção sincera diante dos dramas existenciais. A empatia objetiva, por sua vez, traduz-se na conduta, em consonância com padrões éticos e de elevada moral, e consiste na disposição para pôr-se no lugar do outro, a fim de compreendê-lo e auxiliá-lo, sem jamais o julgar ou constranger. Pode-se dizer que a empatia subjetiva é pressuposto da mente esclarecida, altruísta e cônscia de suas responsabilidades, enquanto a empatia objetiva é norma da ação espiritualista, que encontra sua expressão no diálogo, na capacidade de ouvir e auxiliar desinteressadamente; representa a adesão, a afirmação do princípio de que todos estão interligados e são oriundos da mesma origem. 

É complexa a tarefa de estabelecer os contornos exatos da atitude empática. Comecemos por ressaltar que uma convivência equilibrada e fraterna, respeitosa e solidária não surge de imposições externas ou regras estabelecidas por arbítrio alheio, mas muito pelo contrário: um convívio elevado e enriquecedor somente assume tais características quando as pessoas se dão conta, espontaneamente, da importância da amizade sincera, do afeto e do respeito aos diferentes modos de pensar e às distintas expressões culturais. 

As relações, sejam elas quais forem, estão fundamentadas em valores sólidos e imperecíveis quando objetivam o bem comum, quando promovem a dignidade humana. Nesse sentido, emergem vigorosos para o exercício da empatia os sentimentos de dedicação, desprendimento, disponibilidade interior, renúncia e benquerer. As ações do ser humano que busca espiritualizar-se estão impregnadas de consideração ao próximo; todas as suas realizações são marcadas por essa notável dignidade, por esse sinal de viva sensibilidade; portanto, reafirmamos convictamente que é na capacidade de colocar-se no lugar do outro que se encontra a chave para a edificação de uma vivência mais fraterna e feliz. 

Nossos estudos e pesquisas espiritualistas giram precisamente em torno da convicção de que, via de regra, toda ação concreta e efetiva é precedida por pensamentos e sentimentos que lhe servem de causa. Por essa razão, faz-se mister ressaltar mais uma vez a necessidade de cuidado com os aspectos transcendentes da vida, sobretudo os pensamentos, que dão, em verdade, suporte a grande parte da realidade que percebemos e apreendemos pelos sentidos físicos.  

Uma vez convencidos da necessidade de mais empatia em sua trajetória de relações uns com os outros, os seres humanos deverão também despertar para a utilidade prática dos valores contidos na espiritualidade, sem, contudo, descambar no terreno do pragmatismo vazio e sem sentido. Realmente, interpretações superficiais e tendenciosas acerca da atitude empática não ensejam reflexões construtivas nem sedimentam sentimentos sublimes. 

As análises suscitadas nos parágrafos anteriores, além de indicar caminhos para o exercício da empatia e o reconhecimento da unidade existente entre os seres humanos, levam-nos a concluir que uma parte considerável da crise por que passa a sociedade atual, bem como seus desdobramentos, sobretudo em termos de relacionamentos, dá-se pela inobservância de uma premissa básica: é necessário que a pessoa se coloque no lugar de seu semelhante, para entendê-lo, auxiliá-lo e sobretudo dilatar a compreensão sobre si mesma. Ao contrário do que, por vezes, erroneamente se imagina, uma experiência de vida feliz e saudável não pode preterir a associação aos indescritíveis valores da transcendência, dentre os quais destacamos a empatia. Sem essa consciência, secam-se os mananciais do vigor e do entusiasmo, da fraternidade e da solidariedade; sem ela, o ânimo de viver se converte em angústia e solidão. 

Quando interpenetrada pela espiritualidade, a percepção do sofrimento vivenciado pelo ser humano torna-se algo maior: tem consequências mais abrangentes, muda os olhares com que as pessoas veem as coisas e pode, inclusive, mudar positivamente a direção de suas vidas, enriquecendo-as com suave e serena luminosidade. 

Assim sendo, o esclarecimento espiritual – a ampliação da consciência – é capaz de transformar a mentalidade egocêntrica tão presente nas esferas política e privada, econômica e cultural do mundo contemporâneo. E como instrumento eficaz nesse caminho de aperfeiçoamento e ampliação de horizontes, destacamos novamente a empatia. Esta, aliada à sinceridade, forma um conjunto valioso e insubstituível de sentimentos que permitirá, sem dúvida, reconhecer no próximo uma extensão de nós mesmos, de modo que a partir dessa constatação possamos revalorizar o convívio social respeitoso e fraterno, que é, por sua vez, o alicerce de uma paz verdadeira e sustentável, como sempre destacou Racionalismo Cristão. 

Muito Obrigado!