Autorreflexão: quando é a hora de parar e rever o trajeto?

Ao suscitarmos a presente reflexão, pretendemos, antes de mais nada, destacar que toda pessoa comprometida com seu aprimoramento ético-moral, como são os estudiosos e praticantes do Racionalismo Cristão, sente-se inevitavelmente impelida à interiorização e, portanto, à constante revisão de conceitos e atitudes. 

Acreditamos que grande parte da sociedade, depois de vivenciar um período de entrega aos conteúdos do progresso estritamente material, começa a entrar numa época de maior conscientização acerca da transcendência – o que é muito positivo, diga-se já. 

Percebemos um crescente número de pessoas sensíveis à realidade espiritualista, o que reflete, em última análise, uma autêntica preocupação com a vida em seu sentido mais abrangente. 

A autorreflexão significa para o ser humano abertura para novas perspectivas, que sejam incondicionadas e livres de preconceitos. É na intimidade que todos têm a possibilidade de se reconhecer, entendendo a essência e o sentido da vida. Esse tema ecoa esta necessidade humana: a de entender a si próprio para depois compreender o semelhante. Portanto, a autorreflexão enseja um caminho de vivência dos valores que devem orientar a vida do ser humano, e é sobre esse ponto que buscamos refletir. 

Na pauta das mudanças que porventura surjam nos momentos de introspecção, a pessoa deve utilizar como referencial seguro os elevados princípios racionalistas cristãos, que norteiam toda experiência de vida que seja dinâmica, construtiva e frutuosa. 

Sabemos que o dinamismo do Universo é uma realidade inevitável. Nesse sentido, quando propomos uma pausa para reflexão, não dizemos que a inércia seja uma possibilidade admitida por nossa Filosofia. A vida do ser humano na Terra não se restringe aos aspectos materiais que se desenrolam na História, mas tem uma dimensão espiritual que deve ser contemplada por meio da autorreflexão. É imperioso, então, que não somente se detenha na análise aparente dos fatos, mas que busque também entender suas motivações. É nesse processo de constante revisão de paradigmas que o ser humano avança na senda do aperfeiçoamento ético-moral. 

A humanidade vem se deteriorando, em certa medida, por uma prolongada crise de superficialidade. O ser humano contemporâneo tende a verificar os fatos mais externos da vida, deixando de apreciar a essência de tais fatos. Esse caminho de desprezo pela substância das coisas, pelo cerne das questões, pelo fundamento dos fenômenos, propulsionado pela materialidade, deve ser superado pelo cultivo da autorreflexão que conduz ao fortalecimento moral do ser humano.  

É imperioso manter o pensamento firme e elevado em todos os momentos da vida, pois são as verdadeiras convicções que impulsionam a pessoa e a fortalecem para que possa superar as adversidades e os desafios da vida. Assim sendo, é importantíssimo que façamos diariamente uma introspecção, a fim de reavaliarmos a qualidade de nossos pensamentos e sentimentos, dos relacionamentos que estabelecemos e dos ambientes que frequentamos. Reiteramos, são as verdadeiras convicções que impulsionam e fortalecem o ser humano. Nesse sentido, temos de revisitar regularmente nossas convicções, que devem convergir sempre para a prática do bem e para o respeito aos semelhantes. 

Não há por que existir concorrência entre as atividades materiais e as atividades espiritualistas: uma implica a outra, e cada qual tem seu próprio espaço de realização. Em relação aos desafios e problemas cotidianos, é preciso estabelecer entre eles um critério de prioridades, isto é, uma ordem de prevalência. Sem isso, o tumulto das emoções embotará o raciocínio e impedirá a concretização de metas e ideais elevados. 

Tenha-se em mente que o conhecimento não se obtém apenas pelo estudo sistemático e acadêmico, mas também pela observação do mundo e da história. É indispensável, portanto, o intercâmbio respeitoso com as mais diferentes pessoas e culturas, pois é dessa interação que surgem, no mais das vezes, as inspirações benfazejas; é a partir dela que se evidenciam as intuições construtivas. Diante do exposto, fica nítida a importância da autorreflexão como mecanismo eficaz na elaboração do conhecimento. 

À medida que o ser humano amplia seus conhecimentos no campo da espiritualidade, interessa-se cada vez mais pelas consequências de seus atos. Compreende sua responsabilidade e o valor de seus atributos, libertando-se dos impulsos materialistas que lhe reduzem o campo de visão.   

Não é fechando-se em si mesmo que o ser humano alcançará seu desenvolvimento: é abrindo-se para as dimensões que o transcendem que ele se liberta. Compreendem amigos como a autorreflexão é uma prática facilitadora para a construção de uma vida mais plena e realizadora?  

Deve-se valorizar o silêncio, a introspecção, a reflexão e a meditação. Não se deve, porém, superexaltar essas atitudes, pois elas são apenas ferramentas. O artífice é o ser humano; é ele que comanda as ações, beneficiando-se quando estas são boas e ressentindo-se quando são inadequadas e impróprias. 

Sabemos, por experiência própria, que haverá períodos difíceis para o exercício da interioridade. A força do hábito, entretanto, auxiliará significativamente nesses momentos. 

Não se deve confundir autorreflexão com alienação mental, conceito que muitas vezes se traduz em fuga dos compromissos e responsabilidades. Orientamos que se reservem alguns minutos diários para o fortalecimento do senso de compromisso e para a revisão sincera e criteriosa de perspectivas, preferencialmente nos quinze minutos que antecedem à salutar prática da limpeza psíquica recomendada pelo Racionalismo Cristão.  

À medida que a análise dos próprios atos se intensifica a ponto de constituir-se em um hábito, a pessoa passa a transferir para sua vida prática as ideias acalentadas em sua mente, e muitos “sonhos” passam para o campo da realidade concreta. Depois das considerações visitadas pela autorreflexão, há que partir para a ação concreta, palpável e eficaz, sem a qual a autorreflexão se torna vazia e sem sentido para o autêntico estudioso do Racionalismo Cristão. 

Feitas essas considerações, alcançamos a compreensão de que a autorreflexão facilitada pelo compromisso vigoroso pela prática constante e desinteressadamente do bem é um porto seguro para revermos posicionamentos e andarmos convictos de que estamos no caminho certo, na estrada que conduz à felicidade. 

Muito Obrigado!