Importância das diferenças

Diversidade humana – importância das diferenças: esse tema despertou grande interesse dos internautas durante o nosso programa, ao vivo, pela webRádio A Razão e pelo canal no YouTube. O assunto não foi pensado para ser uma crítica às tensões e conflitos que se estabelecem em torno de interesses estritamente materiais. A diversidade que nos interessa estudar e na qual concentramos a nossa atenção é a de ideias. As concepções falsas e ultrapassadas de superioridade étnica não encontram no campo da espiritualidade argumentos que a legitimem, ao contrário, elas são geralmente construídas por outras forças, que procuram tornar-se invisíveis para melhor exercerem o seu poder de subjugação.

É necessário primeiramente indicar que a suposição de que todos os seres humanos começam sua trajetória em iguais condições físicas e psíquicas é de todo inverossímil. No âmbito da extraordinária diversidade humana, é possível entender suas razões ao observarmos o mundo que nos cerca. Nele não encontraremos qualquer homogeneidade, não havendo sequer duas flores ou dois animais absolutamente iguais entre si. Portanto, não surpreende encontrarmos na sociedade pontos de vista diferentes e até contraditórios. Contudo, mesmo em meio às múltiplas tensões verificadas e às mais plurais formas de expressão artística, religiosa e folclórica, a origem e a essência dos seres humanos autoriza falar em unidade, uma vez que todos têm origem comum.

 

Espiritualidade

O indivíduo espiritualizado torna-se solidário de todas as formas de expressão, inclusive daquelas marginalizadas. Especialmente à luz da espiritualidade, a diversidade humana assume uma clareza singular, pois ela existe para estimular a ampliação dos atributos espirituais, esse é o fio condutor de nossa reflexão e o eixo central da análise: existe elevada utilidade na diversidade humana, no campo do conhecimento pode-se afirmar que ninguém tem tão pouco que não possa oferecer e também não há ninguém que tenha tanto que não possa receber. O intercâmbio produzido pela diversidade promove, sem dúvida, o enriquecimento cultural, mas não só isso, permite que se desenvolva o senso de solidariedade e complementariedade.

Isso realmente assume singular importância na atualidade, quando mesmo com todos os avanços tecnológicos, produto de seu talento e capacidade inventiva, o ser humano demonstra, em muitos casos, que ainda não aprendeu a respeitar o seu semelhante. A necessidade de constante reflexão e profundidade analítica sobre os atos humanos é importantíssima, uma vez que o potencial humano é neutro: pode ser usado tanto para o progresso moral como para a degradação. Torna-se evidente, portanto, a necessidade de empenho extraordinário de espiritualização e difusão de preceitos elevados para que todos possam conhecer-se melhor e, a partir da autoidentificação e da autoaceitação, possam também acolher aqueles que externamente são diferentes.

A importância da família é sublinhada pela consciência ética. É na família que o indivíduo recebe as primeiras lições de sociabilidade que irão marcá-lo por toda a sua vida, e é nesse ambiente que inicia o desenvolvimento de suas potencialidades e começa a conviver com as diferenças. Tais pressupostos demonstram a importância dos relacionamentos, conceito que a princípio pode parecer meramente descritivo, mas que, observado mais de perto, significa possibilidade concreta de formação de vínculos positivos, que sempre devem ser iniciados na família, onde a confiança e a lealdade devem imperar. Em uma sociedade que tende a ser cada vez mais individualista, onde muitas vezes os interesses pessoais sobrepujam os da comunidade, é precisamente na família que os sentimentos de amizade, respeito mútuo e tolerância devem ser estimulados em um dinamismo permanente de amor. No lar todos devem ser reconhecidos, acolhidos e valorizados.

 

Colaboração

Dessa forma, a multíplice interação dos indivíduos permite que eles se complementem e cresçam coletivamente. A participação de tantas vozes exprime verdadeiramente a harmônica e sublime sinfonia da espiritualidade. Procurando desenvolver a compreensão sincera dos dramas vivenciados por nossos semelhantes, bem como um olhar empático, todos poderão dar um passo significativo para que, enfim, coletivamente não mais repitamos situações excludentes, mas que, unidos e esclarecidos, possamos construir uma cultura de interação e solidariedade.

 

Respeito

Há no ser humano uma propensão natural à transcendência. E o elemento transcendente não se manifesta apenas nas expressões religiosas ou filosóficas, mas também em relação à cultura e à realidade social quando o indivíduo assume comportamento reflexivo e respeitoso perante as situações humanas, sejam elas individuais, coletivas, nacionais ou internacionais. Uma sociedade justa só pode existir pelo respeito às diferenças. Para a pessoa proba, honesta e espiritualizada, o seu posicionamento frente às diferenças não é considerado um estilo de vida, mas sobretudo um fundamento e um estímulo para o aperfeiçoamento próprio e daqueles com quem convive.

 

Abertura

Somente quando o ser humano se abre para a diversidade é que pode reconhecer a si próprio. Na diferença é que surge a compreensão da identidade própria, aliás, é nesse momento de autoconsciência que a pessoa sai do seu universo egoístico para entrar no campo do diálogo e do convívio fraterno com as outras pessoas. O quadro sintético que acabamos de traçar ficaria incompleto, sem referência aos valores cristãos que legitimam toda e qualquer abertura desinteressada ao próximo, que se dá com o único intuito de auxiliar e acolher.

 

Comedimento

O comedimento, por seu turno, constitui valioso recurso para edificação de uma personalidade inclinada a estabelecer vínculos benfazejos e respeitosos com os mais distintos biótipos, estereótipos e arquétipos existentes, com o propósito de que o bemquerer se eleve acima dos interesses pessoais, das vicissitudes e dos condicionalismos. A virtude está no meio. Realmente, a equanimidade permite a atitude equilibrada e na justa medida. Quando a pessoa se depara com situações conflitantes, fatos desagradáveis e estados perturbativos, deve agir equilibradamente, a fim de restabelecer a harmonia no ambiente e conservar a própria.

 

União

A evolução civilizacional da humanidade, através dos tempos, nos mostra que os indivíduos procuraram organizar-se em grupos. Fora destas condições, normalmente, vivia em conflitos, perdendo tempo e despendendo energias vitais. A organização da sociedade, então, torna-se necessária para que as forças se somem e para que as condições de desenvolvimento beneficiem todo o grupo.

À proporção que cada vez mais pessoas se envolvem no estudo sério da espiritualidade, explicações simplórias da realidade são questionadas e, às vezes, até rejeitadas. O esclarecimento espiritual repudia qualquer tipo de manipulação ideológica e não se subordina a representações reducionistas que, com certa periodicidade, tentam em vão restabelecer a concepção de incompatibilidade entre inteligência racional e transcendência. Tradições diferentes não podem causar tensões na sociedade nem é cabível o estabelecimento de um estado de perplexidade diante de interpretações conflitantes. O sentimento de fraternidade é capaz de transpor abismos e estabelecer pontes que conectem todos os seres humanos independentemente de suas particularidades.

Não se pode desconsiderar a necessária diversidade humana, e é fácil prognosticar que no futuro a tendência será para lhe atribuir relevância cada vez maior. E para isso trabalhamos no Racionalismo Cristão, a fim de divulgarmos a ideia de que a diversidade humana refletida nas diferenças deve ser compreendida como de máxima utilidade e orientada, sobretudo, para o bem comum, para a evolução espiritual de cada ser humano. Portanto, esforcemo-nos em ponderar e conservar esse princípio e encontrar contínuas oportunidades, concretas e eficazes, de praticá-lo.

Boa Leitura!