Coerência e bom senso

“Quem é autêntico assume a responsabilidade pelo que é e reconhece-se livre do que é.”

Jean Paul Sartre

Inicio este texto dizendo que dois conceitos podem e são aplicados ao termo coerência. Linguisticamente falando, o termo coerência diz respeito à aplicação de articuladores ou elementos linguísticos com o objetivo de transmitir coesão e harmonia de pensamento. Nesse sentido, a coerência fundamenta-se notadamente na lógica e na harmonia dos elementos linguísticos em seu contexto. Ao contrário, a incoerência, rompe essa lógica. O segundo conceito de coerência diz respeito à conduta moral e ética que as pessoas apresentam perante si mesmas e os seus semelhantes. É dessa coerência que vamos tratar nesse artigo. No segundo item trataremos do bom senso.

Coerência. Este artigo pretende expor o que é coerência e o que é bom senso, examinando, também, a correlação que existe entre esses termos no seu sentido ético e filosófico. Vamos, portanto, tratar da importância da coerência e do uso do bom senso na conduta ética das pessoas, aquilo que as leva a praticar o que ensinam. Quem é coerente é autêntico, não diz uma coisa e faz outra. Abomina a falsidade que mexe profundamente com as consciências adormecidas. Quem estiver atento ao significado desses dois termos e souber usá-los com honestidade, jamais se deixará enganar, invalidando o ditado popular que diz que “as aparências enganam”.

De conselhos e de incertezas o mundo anda cheio! Inclusive provenientes de nossos familiares. Sabemos disso porque as leis evolutivas evocam e reforçam as diferenças existentes no seio de nossas famílias. E isso não é uma desconfiança, antes são verdades espirituais. O que é preciso é não querer valorizar as aparências. O mestre Antonio Cottas frequentemente se expressava assim: “é preciso confiar, desconfiando sempre”. Existe, também, um ditado popular que corrobora isso: “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”! Em Portugal, este ditado é grafado assim: “prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém”, quando a canja é bem feita.

Dessas premissas decorre que podemos definir a coerência como o equilíbrio que deve existir entre o que a pessoa sente interiormente e o que ela exterioriza com palavras e atitudes perante seus semelhantes. Coerência é, portanto, a exteriorização que a pessoa faz de si mesma em seu comportamento, tanto verbal quanto não verbal. Portanto, quando a pessoa é coerente existe uma sincronia de cunho moral e ético, entre o que ela sente e o que ela pratica. As pessoas eticamente coerentes infundem confiança, são sérias, mas não carrancudas, não são fingidas e sabem sorrir nos momentos oportunos.

Devemos sempre buscar o equilíbrio entre o que pensamos, sentimos e fazemos, pois isso representa uma conquista de conduta. Assim procedendo, nossas relações com as pessoas serão cada vez mais compensadoras, verdadeiras e autênticas. Isso é verdadeiro até para nós mesmos, pois, sem dúvida alguma, nos habitua a seguir nossa trajetória evolutiva em paz com nossa própria consciência. Aqueles que estão sempre atentos às suas falhas e erros de conduta sabem fazer as mudanças necessárias em si mesmos a cada momento e colhem os frutos de uma sadia evolução. Lembramos que cada um de nós estamos na Terra para descobrir nosso próprio caminho, pois de outra forma nunca seremos felizes seguindo o caminho de outrem.

Bom senso. O conceito de bom senso utilizado na argumentação escrita ou falada, bem como, nas atitudes está estritamente ligado às noções de sabedoria e razoabilidade. Ele define a capacidade média que uma pessoa comum possui com o objetivo de adequar regras e costumes às circunstâncias encontradas em determinadas realidades. Nesse sentido amplo, a pessoa que usa o bom senso leva em conta as consequências, podendo, assim, fazer bons julgamentos e escolhas. No fundo, o bom senso é uma forma de tirar bom proveito da chamada “filosofia da vida”. Essas regras são tácitas e inerentes à capacidade de organização, autocontrole e independência de quem analisa os fatos da vida cotidiana.

Assim, analisando com mais simplicidade, o bom senso pode ser definido como o juízo saudável e prudente baseado na simples observação e percepção dos fatos, juntamente com o uso dos atributos da lógica e da razão. Ele está presente e concede aos seres humanos em geral um nível básico de discernimento e julgamento que lhes garante viver de uma forma razoável e segura.

É importante deixar claro que bom senso e senso comum não são a mesma coisa, já que este dispensa o uso da razão e da lógica, na maioria das vezes. Não se deve, pois, confundir esses recursos de argumentação na busca das certezas e das verdades terrenas, estas sempre relativas, mas que trazem grande proveito à evolução espiritual. Note-se que o bom senso está ligado à ideia de sensatez, atributo esse que deve ser interpretado como decorrente da capacidade intuitiva de distinguir a melhor conduta em situações específicas e que necessitam de agilidade na tomada de decisões. A frase “a sensatez é o elemento central da conduta ética”, do filósofo Aristóteles, é notória. Assim sendo, o bom senso, como o nome induz, é uma capacidade virtuosa de achar o meio-termo e distinguir a ação correta quando há divergências de opiniões. Ao contrário, o senso comum é um recurso menos seguro, mais próximo das opiniões mal construídas e, portanto, conflitantes.

Reafirmamos, portanto, que o bom senso vai muito além da capacidade de distinguir o certo do errado, por estar escudado no nexo causal, na sabedoria e, também, por estar intrinsicamente ligado às intuições, contando ainda com os recursos da moral e da ética.

Para concluir, a cultura e o meio no qual o ser humano vive e transita auxiliam na aplicação do recurso do bom senso, levando-o a tomar decisões mais sábias e corretas, com capacidade de agir e interagir com mais segurança nas situações mais difíceis com que vier se deparar.