Comedimento e discrição

Sabemos que as pessoas que se deixam penetrar pelos elevados princípios da ética espiritualista, como as propostas pelo Racionalismo Cristão, agem com autodomínio e naturalidade, compostura e decoro, moderação e equilíbrio não somente diante dos obstáculos e reveses que a vida apresenta, mas em todas as circunstâncias. Isso se dá não porque estejam anestesiadas por um impulso místico ou porque vivam absortas da realidade material, e sim porque buscam aprimorar-se racionalmente, sem desperdiçar energia e sem se expor inutilmente. Com o intuito de que um número cada vez maior de pessoas compreenda o valor do comedimento e da discrição é que elaboramos este sintético artigo.  

A virtude está no meio – in medio stat virtus. Realmente, o comedimento e a discrição permitem a atitude equilibrada e na justa medida. Quando o ser humano se depara com situações conflitantes, fatos desagradáveis e estados perturbativos, com muito mais razão deve agir equilibradamente, a fim de restabelecer a harmonia no ambiente e conservar a própria, o que é inviável sem comedimento e sobriedade. 

A pessoa que focaliza sua atenção no ponto médio entre os dois extremos coloca-se em condições de discernir com justiça e equilíbrio tanto as situações cotidianas como as situações extraordinárias, o que lhe permite tratar prudentemente da saúde e dos interesses próprios, evitando, por um lado, o excesso de cuidado e, por outro, o preciosismo, que resultam em tão tristes consequências para o bem-estar espiritual. 

Não é difícil perceber que a expressão comedida se altera amiúde entre as pessoas. A inclinação natural para analisar as situações com equilíbrio e a força de vontade para agir com razoabilidade não são as mesmas em todas as pessoas. 

O equilíbrio constitui um valioso recurso para a edificação de uma vida construtiva e fecunda. O bom senso revigora a inteligência, desobscurece a razão e fortalece a capacidade de tomar boas decisões. Com certeza, quem sabe bem distribuir suas energias e recursos não conhece a escassez ou o desequilíbrio. 

Grandes talentos fluem da pessoa comedida, que aprendeu a romper corajosamente com as tendências ao exagero, ao escândalo e à indiscrição, tão comuns na contemporaneidade. Em contrapartida, escassos méritos possuem os seres afeitos ao desperdiço, à prodigalidade e ao sensacionalismo. Mais hoje, mais amanhã, experimentarão ruidoso fracasso na vida por conta de suas condutas indiferentes ao método, à disciplina e à prudência. 

A simplicidade, concebida pela ótica da espiritualidade difundida pelo Racionalismo Cristão, não consiste na recusa à posse de bens materiais. Sem dúvida, a autêntica simplicidade possui estreita relação com a racionalidade, e esta com o uso equilibrado não somente dos recursos concretos, mas também da sóbria expressão das emoções e sentimentos. 

Ao longo do presente artigo, pôde o leitor perceber que não tivemos como objetivo pormenorizar todas as facetas de uma conduta sóbria e discreta; restringimo-nos a salientar os pontos mais destacados e primordiais, para que o estudioso empreenda um avanço notável e eficiente em sua trajetória de crescimento.  

Tendo por norma de conduta a prudência e o equilíbrio, sem declinar do roteiro que o conduz à felicidade, o ser humano espiritualizado entrega-se ao aprimoramento da própria personalidade, mesclando em medidas proporcionais a discrição e o comedimento. 

Por fim, mas por razões não menos importantes, cumpre-nos ressaltar a relação de causa e efeito existente entre o tema de nosso artigo e a liberdade. A liberdade interior – todos sabemos – advém de uma faculdade inata: o livre-arbítrio. A liberdade exterior, contudo, depende diretamente da forma como nos conduzimos e das decisões que tomamos. Tanto maior ela será – não nos esqueçamos – quanto maior a responsabilidade e o autodomínio que tivermos na administração de nossos recursos e no modo como reagimos às mais diversas situações. 

Muito Obrigado!