Embora esta reflexão tenha como título “Como ajudar um amigo em estado de depressão?”, ele também poderia chamar-se “Como ajudar um amigo a despertar para a espiritualidade?”. E por que afirmamos isso? Porque grande parte dos estados depressivos tem fundamento no desconhecimento da realidade espiritual, que tudo interpenetra e sustenta.
Não são poucas as iniciativas por todo o mundo de seres que se dedicam à tarefa altruística de auxiliar as pessoas que sofrem com a depressão. É justo, portanto, que surja a interrogativa: “Por que mais um artigo sobre este tema?” Deve-se exaltar a importância da amizade em momentos difíceis ou fornecer informações mais detalhadas para uma ajuda efetiva?
Quanto à primeira hipótese, reconhecemos o valor da dedicação e da amizade na solução dos problemas psíquicos; quanto à segunda, responderemos afirmativamente. É com a finalidade de esclarecer o ser humano sobre seus atributos e a necessidade de disciplina e organização em todos os momentos da vida, sobretudo ao prestar um auxílio dessa natureza, que elaboramos a presente reflexão.
A busca por soluções prontas é uma tendência atual. Em toda parte, verificam-se manifestações contemporizadoras, em que as pessoas preferem explicações superficiais ao aprofundamento na essência das questões. No que se refere à depressão, embora reconheçamos seus aspectos bioquímicos, ela é, em última análise, um problema espiritual e, como tal, merece uma análise mais criteriosa. Não sugerimos, com isso, que o tratamento clínico deva ser suprimido, mas muito pelo contrário – afirmamos que quando a terapia médica se deixa penetrar pelos valores da prática espiritualista, isto é, o pensamento positivo, a boa vontade, a atitude proativa, a interiorização, a reflexão, a higiene mental, entre outros, seus efeitos potencializam-se enormemente, de modo que o paciente é sempre favorecido.
A depressão não costuma ser diagnosticada por meio de exames clínicos tradicionais, como hemogramas, raios-x ou testes de resistência física. Em contrapartida, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, será, em duas décadas, a doença mais comum do mundo.
Muitas vezes, o suicídio é consequência de um quadro depressivo do ser humano. Em virtude disso, quando ele se sente incompreendido e não tem apoio de pessoas queridas, o suicídio lhe aparece como uma possibilidade de fuga à realidade opressora que o envolve.
Para que sejamos capazes de prestar um auxílio efetivo a amigos que estejam vivenciando quadros aflitivos, como a depressão, devemos, em primeiro lugar, reconhecer neles momentos de desorientação espiritual, observando quando estão tristes, desinteressados, com baixa autoestima e sem esperança, perguntando-lhes o porquê e respeitando sua decisão caso queiram guardar silêncio. Ora, mesmo em silêncio podemos auxiliar, evitando discursos desgastantes e opiniões pessoais, elevando nossos pensamentos e criando condições psíquicas facilitadoras para a reversão desse quadro. Referimo-nos a um silêncio exterior, mas ao mesmo tempo ativo, próximo e afetuoso.
Como dissemos, há muitos comentários e “dicas” referentes à questão deste tema; porém, quando não lhe atribuem soluções simples, apresentam uma lista, um passo a passo, como se os as pessoas que sofrem de depressão fossem todas iguais. Adotar esses roteiros é um erro gravíssimo, pois sabemos que cada um se encontra em uma etapa diferente e possui características próprias, já que todo ser humano é único e incomparável. Não nos deteremos, pois, em nenhuma posição simplista, nem pretendemos apresentar um roteiro de ações inflexíveis e mecânicas, pois dedicar-se de antemão a uma tentativa específica de ajuda também pode ser motivo de estagnação.
É certo que, muitas vezes, dá-se maior realce às exteriorizações do que ao impulso interno de amor e solidariedade – trata-se de outro equívoco. Ao perceber que é amada por seus amigos e familiares, a pessoa deprimida passa a compreender a própria dignidade, sente-se valorizada e reconhece a necessidade humana de buscar apoio no próximo, em uma rede de relações cada vez mais autenticamente fraterna, alicerçada em valores transcendentes.
Estruturadas na amizade sincera e leal, as pessoas estão capacitadas a transformar suas vidas, dando qualidade a seus pensamentos e relações, sejam elas subjetivas ou intersubjetivas. Além disso, tornam-se capazes de levar a serenidade onde há conflitos, de construir e cultivar relações duradoras, de buscar a harmonia onde prevalece a discordância.
Somente o amor é capaz de transformar de modo profundo as interações humanas. Enxergando essa perspectiva, todos podem distinguir as amplas possibilidades de uma vida plena e saudável, onde o progresso pessoal e o aperfeiçoamento moral se fundamentam na verdade e na justiça. Estejamos certos de que o amor projeta uma nova luz à questão da depressão, promovendo a identificação das tendências autodestrutivas e atuando em sua solução.
Antes de propor algumas atitudes fundamentais relativas à ação normalizadora, convém analisar o ambiente em que temos de agir. É comum que junto da pessoa que se encontra em depressão existam outras que também estejam sofrendo, fazendo que recorram desesperadamente às mais diversas formas de auxílio. De fato, tem-se acesso a um número excessivo de propostas, embora nem sempre viáveis e aplicáveis. Por outro lado, tampouco convém um olhar estritamente científico, pois a ciência, limitada, não abarca toda a realidade em matéria de transtornos psíquicos. O que queremos oferecer situa-se no campo do discernimento, do equilíbrio, da razão e sobretudo do benquerer. Tais orientações incluem convidar a pessoa para a prática de atividades físicas, intelectuais, manter contato com ela e demonstrar interesse por suas ações, conquistas e qualidades e, não menos importante, indicar-lhe boas leituras, incentivando sempre a busca pelo autoconhecimento e a prática reflexiva. E, claro, sugerir a prática disciplinar da limpeza psíquica diária recomendada pelo Racionalismo Cristão como forma de obter o equilíbrio psíquico e a paz interior.
É sempre muito importante tratar da amizade. Ao meditar sobre seu valor, reforçamos em nós a convicção em sua força e em seu poder transformador. Através da amizade, entendemos que sentimentos como a empatia, a humildade e o afeto são qualidades espirituais que se realizam e se plenificam na prática do bem, no auxílio ao próximo. Os grandes homens e as grandes mulheres da história souberam, antes de mais nada, ser grandes amigos. Logo, a irradiação positiva de um amigo direcionada a outro é capaz de iluminar e alterar as situações de maneira concreta. Aos que decidiram generosamente, em seu íntimo, auxiliar um amigo que vivencia um estado depressivo, orientamos que procurem adotar também em sua vida cotidiana as salutares indicações que apresentamos, despretensiosamente, nesta reflexão.
Parabéns a todos os que se interessam comprometidamente pelo bem do próximo. Saibam que estão trabalhando, ainda que indiretamente, em seu próprio benefício e no de toda a coletividade humana.
Muito Obrigado!