Como analisar nosso comportamento para reconhecer possíveis erros ao fazermos mau juízo de alguém?

O vínculo que liga a pessoa espiritualmente madura ao respeito à dignidade humana é tão forte que, mesmo nas atitudes mais simples da vida cotidiana, esse elo não se deixa de reforçar, na medida em que o ser humano exterioriza no meio em que vive a impressão de uma conduta generosa, receptiva e fraterna, nunca apontando os erros do semelhante, mas reconhecendo os próprios equívocos, a fim de avançar cada vez mais na senda do esclarecimento, como nos orienta o Racionalismo Cristão. 

Esta nossa reflexão dedica-se a enaltecer do valor resultante da autoanálise, da reflexão e do equilíbrio interior. As informações e subsídios aqui sinteticamente reunidos têm por objetivo auxiliar os estudiosos da espiritualidade no processo de autoconhecimento e em sua abertura à amplitude da convivência fraterna, com o propósito de que esta seja mais valorizada entre todos como um fator preponderante que habilita o amadurecimento espiritual, permitindo a construção de uma sociedade mais harmônica e menos egoísta. 

Uma das expressões mais marcantes da atualidade é a forte tendência ao individualismo e à fuga das consequências dos atos praticados. Daí resulta, em grande parte, a crise moral, econômica e civilizatória que vivenciamos atualmente. Essa crise fundamenta-se no desprezo aos valores do espírito e na consequente dificuldade de vislumbrar no ser humano seu valor e dignidade, já nos alertava o mestre Luiz de Mattos desde 1910, quando fundou, juntamente com Luiz Thomaz, o Racionalismo Cristão. 

Para aqueles que despertaram para a espiritualidade, o caminho que conduz a um desenvolvimento maduro e estruturado da personalidade passa pelo encontro sincero do indivíduo com ele mesmo. Os valores transcendentes que sustentam uma existência digna não são transmitidos apenas nos escritos que versam de maneira elevada sobre espiritualidade, mas também na reflexão e na análise sincera dos sentimentos e do teor dos pensamentos que o ser humano costumeiramente emite. 

Ao aceitar os sublimes princípios morais que edificam nossa civilização e que norteiam a atitude ética apenas como autoridade exterior, sem vivenciá-los internamente e exteriorizá-los no dia a dia, o ser humano incide em um processo dramático de autoanulação, quando não passa a projetar em seus semelhantes os próprios defeitos e recalques, julgando-os com critérios tão inadequados quanto ilegítimos, que representam apenas uma reação superficial de sentimentos grosseiros e primitivos.  

A saúde psíquica do ser humano não se revela somente em sua capacidade de relacionar-se consigo mesmo e depois com seu próximo, mas também na predisposição de abrir os olhos primeiro para as coisas interiores e depois para as exteriores, de concentrar-se no que realmente importa, e não no tumulto da maledicência ruidosa – como acontece, aliás, tantas vezes. 

Com certeza, quando uma pessoa pensa mal dos que estão a sua volta, torna-se incapaz de estabelecer vínculos sadios e efetivos com seus semelhantes. A fim de contornar esse problema, deve articular melhor seus pontos de vista, livrando-os de preconceitos descabidos. É preciso também que reveja seus posicionamentos e atitudes, busque uma nova orientação e permita que as situações que vivencia lhe ofereçam outra compreensão do autêntico significado da existência humana. 

Há que reconhecer que, ao estender a mão a nosso semelhante, num gesto de afetividade e respeito, estima e consideração, sem jamais sentenciá-lo por suas atitudes, além de concorrer para a construção de um humanismo sadio e autêntico, também gozamos de agradável bem-estar. Uma experiência de vida pautada na ética não comporta em si o desprezo aos problemas humanos. 

Diante da simplicidade dessa formatação, nossos leitores não devem subestimar nem os profundos malefícios da conduta particularizada e individualista, nem os intensos e copiosos benefícios da ação sincera e desinteressada. A pessoa preocupada com a correção dos próprios erros – e não com os de outrem – usufrui de constante paz e serenidade; na alma do acusador e preconceituoso, todavia, sobressaem reiteradamente a ambição e o despeito. 

Felizes seremos ao reconhecer e corrigir nossos equívocos, ao agir com atenção e benquerer em relação às pessoas com quem tivermos a oportunidade de conviver, em virtude da calma que espontaneamente preencherá nossa mente. Ora, se é verdade que a felicidade consiste no sentimento de paz, se é autêntico que não há paz neste mundo além daquela que reside na consciência do dever cumprido, se é certo que a consciência só está tranquila quando o ser humano canaliza suas energias para a prática do bem, quem duvida que o amor ao próximo, exteriorizado em atitudes concretas, é o grande fator da paz e da felicidade? 

Aqueles que adotam a solidariedade como um dos princípios norteadores da vida dão ao mundo uma poderosa demonstração de respeito à humanidade, inspirando outras pessoas a agir da mesma forma, ao mesmo tempo que bloqueiam em si os impulsos egoísticos da parcialidade, companheiros da arrogância, que debilitam as virtudes e impedem o desenvolvimento da personalidade. 

O esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão, a que tantas vezes fazemos referência e que não está associado a rituais ou gurus, sistemas ou modelos, que não é exclusividade das instituições humanas, tem como objetivo que as pessoas se tornem íntegras e saudáveis, felizes e realizadas. Assim sendo, todos devem dar o importante passo que consiste na reconciliação com a vida, no abandono das hostilidades internas e externas e na abertura para a espiritualidade. Com essa atitude nobre e engrandecedora de humildade e consciência de conjunto, o ser humano se desprende das amarras da fragilidade excessiva, da prevenção despropositada, do excesso de autocomplacência, adquirindo o domínio sobre seus atos, sua identidade própria, sua capacidade de autoanálise, enfim, assume o protagonismo de sua própria vida. 

A vivência dos valores racionalistas cristãos, expostos nesta reflexão, inspira um magnífico estímulo ao empenho e comprometimento no campo das relações humanas, motivando a força interior necessária para o reconhecimento e ajuste das falhas e incorreções e, acima de tudo, o sustentável crescimento moral do ser humano. 

Muito Obrigado!