Como, ao lidar com problemas, podemos manter a segurança para buscar em nós mesmos os recursos para solucioná-los?

Os desafios se apresentam de forma constante na vida de todos os seres humanos. A existência neste planeta é inexoravelmente marcada por inúmeros começos e recomeços; é, portanto, inevitável que nessas ocasiões as dificuldades e os reveses façam parte da trajetória humana.  

Não raro, ouve-se dizer que a vida consiste em uma luta constante. Tal afirmação surge periodicamente e com diferentes formulações, mesmo entre aqueles que consideram, em suas análises, o lado transcendente da vida. Dessa forma, o caminhar, ou melhor, o progredir na vivência espiritualista exige não somente uma visão panorâmica do mundo exterior, mas sobretudo um impulso à interiorização. 

Nesta reflexão, procuraremos demonstrar que ao olhar para dentro de si, mantendo-se calmo e equilibrado, o ser humano encontrará os recursos iniciais para enfrentar condignamente problemas e obstáculos, afastando-se de crenças irrefletidas e preconceitos descabidos. Na verdade, amigos, a autêntica interioridade não é essencialmente uma prática meditativa, mas se funda no raciocínio lúcido e na força de vontade direcionada para o bem, pilares seguros para a manutenção da segurança e da harmonia em qualquer situação. 

Evidentemente, as diferenças de formação, interesses e prioridades entre os seres humanos sobressaem também no momento de estudar as causas das adversidades. Todavia, há que se considerar a incidência de uma completa inversão de valores quando o ser humano analisa os fatos apenas pelo reduzido olhar materialista em detrimento da visão abrangente da espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão, que não somente abarca aspectos que dizem respeito à vida prática, como também se expande para o campo do transcendente, observado em sua duplicidade ética e moral. 

É profundamente significativa a capacidade que o ser humano possui de reinventar-se. Nesse processo, é imperioso que haja a compreensão do correto sentido das adversidades, que jamais devem ser tomadas como punições ou castigos impostos. Com tal reflexão, a pessoa terá sua consciência iluminada e poderá concentrar suas energias no presente, do qual depende seu futuro, reconciliando-se consigo mesma e preservando-se humilde e fortalecida. 

Sabemos que na atualidade, em termos globais, paira no ar uma epidemia de ideias trágicas, que a muitos amedronta, adoece, aflige e inquieta. Os olhares são temerosos e os passos inseguros, como quando se anda às cegas por um caminho desconhecido.  

“Qual a causa de tal situação”? Indagarão nossos leitores. Respondemos: o ser humano, tão afastado da espiritualidade e tão arraigado na materialidade, vê-se esmorecido de convicção em seu valor e em sua capacidade de abranger o transcendente. É precisamente por essa razão que se deve voltar para si mesmo, pois ao analisar a natureza de sua essência contemplará, por via de consequência, o Infinito e receberá o influxo de sua energia. 

A pessoa que mesmo em ocasiões de grande decepção, infortúnio e desespero se mantém confiante e certa da transitoriedade dos fatos e fenômenos relativos à realidade física demostra que é capaz de assimilar as lições que residem por trás dos reveses. Dessa forma, quando o ser humano se encontra em uma situação difícil, quando é pungido pela dor, percebe o quanto uma vivência materializada é vazia de sentidos e desidratada de afetividade; em tais ocasiões, passa a compreender que fora de uma experiência de vida pautada no amor ao próximo, no respeito, na tolerância e na solidariedade não poderá fazer vir à tona suas qualidades e atributos. 

Ao agir com sinceridade e honestidade, ao entregar-se de corpo e alma às disciplinas construtivas da vida sem jamais se achar superior a seus semelhantes nem se igualar aos que simulam zelo e bondade para encobrir a revolta, ao repelir, enfim, com todo empenho aquilo que impede seu progresso moral, o ser humano estará dando mostras de maturidade e de disposição em edificar uma nova fase de vida, que certamente há de ser próspera e frutuosa. Por outro lado, o ser preguiçoso, indolente e indisciplinado, que despreza seus inestimáveis recursos interiores, tem seu pensamento mais afeiçoado aos desejos e vícios a que se inclina que da vontade de tornar-se equilibrado, paciente e honrado, bem como de gozar de uma paz imperturbável advinda da consciência de ter cumprido bem seus compromissos. 

Sem conceber a vida como uma oportunidade de crescimento, a pessoa não conseguirá compreender a humanidade no que ela tem de mais valioso: a diversidade e a fraternidade, que enlaçam seres humanos e os aproximam de sua essência. Ora, as esperanças humanas não podem se reduzir a um protesto contra os sofrimentos e reveses e a busca constante e absorvente de soluções para evitá-los, porque a verdadeira realização do espírito está em um campo que ultrapassa o horizonte de uma vida humana estável e de relativa harmonia, que, embora seja importante, não é tudo. Quantos a possuem e não se sentem plenos? 

Importa, portanto, dizer sim à vida, compreendendo seus desafios e adversidades, buscando aprender com eles e alegrando-se com a relativa felicidade alcançada quando se age com generosidade, quando se evitam as atitudes interesseiras e limitadas, quando se tem uma disposição férrea de elevar ao domínio da espiritualidade a razão e o entendimento, uma vez que somente a par dos valores da transcendência e em conexão com eles pode a vida florescer e prosperar. 

Vimos que a atitude proativa, consciente e espiritualizada diante dos insucessos e adversidades nos coloca em condições de soerguimento e reestruturação, mesmo quando a maior parte das análises e considerações aponta em sentido contrário. Se confiar apenas naquilo que as aparências lhe permitem apreender, o ser humano se verá na condição de a pouquíssimas coisas poder dar crédito, tendendo, por conseguinte, ao imobilismo e à negatividade. 

A abertura para a espiritualidade autêntica divulgada e defendida pelo Racionalismo Cristão permite à inteligência humana a imediata percepção da importância de uma conduta lapidar, da virtude de empregar a palavra de forma amena e oportuna, de um estilo de vida reflexivo e ao mesmo tempo dinâmico, que seja otimista e digno. Essas atitudes minimizam, quando não apagam, a presença e o relevo do sofrimento, do drama e da dor. 

A espiritualidade a que nos referimos não significa evasão da realidade, mas interiorização. É penetrando cada vez mais fundo dentro de nós mesmos que entramos em contato com a autêntica espiritualidade. Quando temos a coragem de reconhecer que a maioria dos insucessos que vivenciamos se dá por conta de nossos erros e escolhas inadequadas, elevamo-nos espiritualmente. Aquele que almeja reerguer-se e recomeçar na vida deve, em primeiro lugar, abandonar todo impulso à vitimização e eliminar de sua mente as fantasias oriundas de suas próprias projeções. 

 Vale a pena ressaltar que a perseverança, sustentada pela humildade e pela abertura ao aprendizado contínuo, é uma bela demonstração da inabalável convicção de que os desafios e dramas, adversidades e contrariedades representam, no mais das vezes, a mola propulsora do desenvolvimento humano. O ser humano que persevera alimentado por essa convicção desenvolve, a cada embaraço que experimenta e na medida do possível, seus atributos e faculdades, compreendendo que da ininterrupta ampliação e atualização de suas potencialidades dependem, em grande parte, sua felicidade e sucesso. 

Muito Obrigado!