Os relacionamentos, os paradigmas e os costumes não cessam de mudar. A sociedade encontra-se em constante revisão de conceitos e comportamentos. Contudo, em que pese o fato de que o dinamismo é uma nota singular da vida neste planeta, há um valor que não perde sua importância, essência e significação, ultrapassando as épocas que se renovam num ritmo muitas vezes difícil de acompanhar: referimo-nos à paciência, que, imutável em seu valor, é a pedra fundamental em que se apoia o edifício de uma existência frutuosa.
A formação de uma personalidade íntegra e fecunda, capaz de responder positivamente aos obstáculos próprios da vida, exige autodomínio e coragem, firmeza e fortaleza espiritual, mas também serenidade e paciência. O primado desta última, tal como o defendemos, ou seja, à luz da espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão, não deve ser compreendido como valorização da passividade ou da aceitação irrefletida, muito menos como apologia à indiferença.
A paciência não se traduz em inércia, imobilidade ou apatia – tampouco em resignação. A paciência é uma virtude característica de quem sabe que está inserido em um processo, de quem tem noção de que as coisas acontecem em um tempo próprio e de que a impaciência conduz à frustração e ao isolamento.
Quando uma pessoa age pacientemente com outra, demonstra entendimento no sentido de reconhecer que sua capacidade de transformação se limita à esfera pessoal, que não tem condições de mudar ninguém a não ser a si própria, que deve, portanto, ser paciente não apenas com seus semelhantes, mas também – e sobretudo – com as situações que ela não pode alterar.
Mesmo respeitando a diversidade de temperamentos existentes e a liberdade daqueles que não partilham da visão transcendente que defendemos, é preciso concordar com o fato de que a paciência, espiritualmente considerada, nutre e salvaguarda a dignidade humana, plasmando na sociedade um agudo sentido de convívio fraterno.
A possibilidade de que o ser humano pratique a virtude da paciência em todas as circunstâncias da vida está relacionada com uma visão ampliada de mundo, genuinamente abrangente, que enfatize o valor da amizade e da tolerância, da justiça e da verdade, em que a pessoa mostre disponibilidade para deixar-se inspirar e orientar pelos elevados preceitos da ética espiritualista.
Desenvolve a paciência quem conserva a paz em seu espírito, quem não se deixa consumir pelas adversidades e contratempos, quem confia no semelhante, quem fala a verdade e cumpre suas obrigações sem apontar defeitos alheios. Se quer ser paciente, zele por sua capacidade de observação; assim você verá que tudo na vida tem uma razão de ser e um tempo próprio de manifestação. Aquele que sabe esperar goza de maior tranquilidade e saúde psíquica, pois aprendeu a vencer suas próprias dificuldades, tornando-se, assim, o protagonista de sua própria vida.
Particularmente no contexto da espiritualidade, é importante que a prática da paciência seja direcionada para motivar outras pessoas à reflexão, à autoanálise, à revisão de conceitos e posicionamentos. Agindo com paciência, o estudioso do Racionalismo Cristão exprime um saber filosófico-prático que estimula o empenho de transformação das relações humanas, tornando-as mais respeitosas e harmoniosas.
Quem adquiriu por meio do enfrentamento das dificuldades a capacidade de ser forte não se deixa dominar pela pressa, pelo afogadilho, pelas pressões desestabilizadoras, mas é paciente. Assim, a paciência é decorrência da fortaleza. Uma depende da outra: a primeira não se desenvolve sem a conquista da segunda. Possuindo a paciência, possuímos a nós mesmos, pois assim aprendemos a nos dominar. Também é a paciência que nos leva a ser compreensivos com os demais.
É na assiduidade ao estudo das obras de grande valor ético, na valorização cada vez maior da disciplina no viver, na vida interior e na educação dos hábitos que a pessoa se fortalece emocionalmente e consolida em si a paciência. Sendo paciente, o ser humano se apresenta receptivo ao diálogo e à escuta. Quando uma pessoa que está atravessando uma situação difícil encontra alguém com uma disposição humilde e acolhedora, pronto para ouvir o que o outro tem a dizer, ambos saem beneficiados, mas sobretudo o que pacientemente emprestou seus ouvidos a seu semelhante, pois mais aprende aquele que ouve que aquele que fala.
Sendo a paciência um destacado princípio formador da estrutura ético-moral do ser humano, seu cultivo ser-lhe-á, logicamente, muito útil no transcurso da vida. Sem ela, como nos manteremos íntegros vivendo imersos nesta vasta atmosfera de ideias conflitantes e contraditórias? Sem a paciência, seremos arrastados pelo turbilhão de circunstâncias que nos envolvem, tropeçando nos problemas que a todo instante se nos apresentam. Com ela, aproveitaremos os entrechoques para burilar nosso espírito e retemperar nosso caráter. Que maravilhosa virtude é a paciência.
Muitas vezes, ouvimos dizer que a paciência é uma qualidade dos fortes, uma virtude admirável, uma postura digna. Sim, ela é tudo isso. Todavia, queremos destacar neste momento uma outra face dessa virtude e dizer-lhes que ela é, antes de tudo, uma atitude inteligente de quem aprendeu a respeitar o ritmo da vida.
A observação da sucessão das horas e dos dias nos fornece um valioso convite para a percepção do dinâmico e ascendente processo em que estamos inseridos. A importância e a centralidade dessa conclusão só fazem reforçar a relevância da virtude da paciência. É a paciência, aliás, que permite as grandes realizações em prol do gênero humano.
A convicção de que tudo na vida é transitório e de que mesmo as situações mais complicadas terão um fim revigora a paciência, que não se resume, como já o dissemos, a resignação ou passividade, mas representa, antes, uma atitude inteligente e nobre advinda da fortaleza espiritual, que propicia o desabrochar de inúmeras outras qualidades. Serenos, poderemos atuar com lucidez e eficácia na resolução dos problemas – quem sabe manter a calma se põe em condições de raciocinar acertadamente, de cotejar os prós e os contras, de examinar os resultados. Muito nocivo é o insensato, agitado pelas circunstâncias e facilmente influenciado por situações complexas. Este é incapaz de conservar relacionamentos, cuidar da saúde e emitir opiniões sensatas. Constantemente afadigado, age infligindo sofrimentos e tristezas a si próprio e a quem a ele se afinar.
Efetivamente, quando as incompreensões e dificuldades são vivenciadas com paciência e lucidez, emerge em nós, fruto de nossa essência espiritual, a capacidade de ultrapassar os condicionalismos impostos pela cultura contemporânea e pelos contraditórios interesses materialistas que geram perplexidade e confusão mental. Sem dúvida, a dimensão espiritual, revelada pela atitude paciente e repetidamente aqui enfatizada, é o fundamento da interpretação e da resolução dos problemas de convivência humana que afligem a sociedade atual.
Muito Obrigado!