Como desenvolver autoconfiança?

As circunstâncias tão complexas que marcam na atualidade a vida das pessoas dificultam o discernimento dos valores que devem nortear suas condutas no sentido de conciliar suas necessidades evolutivas com as demandas da vida prática. Na verdade, as angústias que assolam o mundo atual estão relacionadas a conflitos que se instalam no íntimo do ser humano. Daí resulta a necessidade de conhecer a espiritualidade de forma mais profunda, cada um de acordo com as possibilidades que possui e as circunstâncias que o envolvem.

O aperfeiçoamento moral do ser humano necessita de um esforço decidido e do exercício consciente de seus atributos e faculdades espirituais. A partir dessa premissa, nasce e se desenvolve o real conceito de autoconfiança, que jamais deve ser confundido, no campo da espiritualidade, com prepotência ou autossuficiência.

Alguns seres humanos interpretam a autoconfiança de maneira muito limitada, pensando consistir em um sentimento de independência absoluta em relação ao próximo e aos estímulos transcendentes. Dessa forma, a autoconfiança restringir-se-ia à ideia de um suposto poder individual alheio às condições exteriores, e a pessoa experimentaria um estado de indiferença em relação a todo bem que recebe e às oportunidades de amadurecimento que, independentemente de suas ações, a vida não cessa de ofertar.

Analisada pelo estreito viés da materialidade, a autoconfiança se apresenta como uma exaltação do egocentrismo, bem como do desprezo ou negação da noção racionalista cristã de interdependência entre os seres. Na verdade, a autoconfiança consiste na certeza, na segurança, na convicção de que o ser humano é portador de uma capacidade intrínseca que lhe proporciona o vigor necessário para a superação de suas dificuldades e para a consolidação de suas virtudes.

A relação entre autoconfiança e aprimoramento espiritual resulta particularmente importante para esta nossa reflexão. Perdida a sensibilidade para os elevados conteúdos da espiritualidade, dificilmente se há de compreender a essência da autoconfiança e, por conseguinte, as formas de reforçá-la.

O enfoque racionalista cristão da confiança em si mesmo e do amor próprio – ambos considerados em sua justa medida – fundamenta-se, pois, no entendimento de que esses sentimentos representam a abertura para um conjunto de possibilidades internas de crescimento espiritual e na convicção de que a realidade sempre se altera positivamente. Convicção, amor e confiança sintetizam a unidade própria da vivência humana.

Numa contraposição de sentido, surge a ideia de baixa autoestima, que emerge toda vez que o ser humano se perde na observação superficial dos fatos. Nesse estado de desprezo de seu valor e de sua importância no conjunto dos demais seres, acaba se alienando e caindo no terreno da fraqueza.

A pessoa esclarecida em suas potencialidades, sobretudo em sua capacidade de raciocinar, é levada a reconhecer que possui a esperança e a autoconfiança. Com esse sentido real e elevado, procura integrá-las sempre e cada vez mais a sua vida. Se alguma vez, sob a influência negativas, se lhe deixa influenciar por uma atitude esperançosa, como possui em seu âmago as condições de superação da crise, é capaz de retomar a caminhada e procurar constantemente o ideal de fraternidade, que reside na consciência humana.

A felicidade autêntica, aquela que independe do acúmulo de bens materiais, dos estados de ânimo – tão variáveis, por sinal – e da inexistência de dificuldades, é resultado imediato da autoconfiança. Com certeza, há que destacar que a dose adequada de autoconfiança que o ser humano deve nutrir em seu íntimo está diretamente relacionada com a virtude da sabedoria e com a consciência de suas próprias limitações.

As circunstâncias que nos envolvem nunca – isto mesmo: nunca! – são determinantes e imprescindíveis para a verdadeira felicidade, porque esta resulta diretamente do cumprimento do dever e da consciência de que tudo caminha para o bem, para o aperfeiçoamento, e de que ninguém jamais está sozinho.

Quanto mais nos esforçarmos no sentido de vivenciar na experiência cotidiana os elevados valores espiritualistas que se encontram inatos em nossa consciência, menos dificuldades teremos em reagir positivamente diante dos desafios que se nos apresentam, sejam eles na esfera individual ou coletiva.

A autoconfiança, amigos, se mostra sobretudo nos momentos mais conturbados, quando equilibrada e ordenadamente a pessoa expõe com clareza seu ponto de vista, manifesta coerentemente sua opinião e não se deixa envolver pela malha insidiosa do equívoco.

Se, como dissemos, a convicção, o amor e a confiança sintetizam a unidade própria da vivência humana e se esta responde às exigências mais profundas e autênticas do desenvolvimento de cada pessoa, então ninguém deve negar a importância de valorizar a autoconfiança precisamente no que ela tem de mais positivo e elevado: a capacidade de despertar no ser humano o desenvolvimento de suas faculdades com vista à prática do bem. Tal consciência não se deve traduzir em imobilidade nem em ingenuidade; muito pelo contrário: deve estimular e impulsionar a atitude corajosa diante dos obstáculos da vida, ativando e sustentando todo o empenho de solidariedade e benquerer, sentimentos que são, na realidade, o sentido primeiro de tudo o que existe.

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